Ao menos 57 pessoas morreram após um bombardeio israelense no leste da Síria nesta quarta (13), de acordo com um comunicado divulgado pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Segundo a ONG, esse foi o ataque mais mortífero realizado por Israel desde o início da guerra na Síria, em 2011.
O bombardeio, confirmado pela Sana, agência estatal síria de notícias, ocorre em uma fase de intensificação das ofensivas israelenses contra alvos iranianos —é a quarta do tipo em duas semanas— e horas depois de o ministro da Defesa, Benny Gantz, afirmar que Israel "continuará agindo contra aqueles que tentarem desafiar" o país. "Não estamos sentados e esperando. Somos ativos defensiva, política e economicamente”, disse Gantz, durante uma visita à fronteira sírio-israelense.
Embora tenha mantido a postura de não confirmar nem negar suas operações em território sírio, Israel —cujo premiê, Binyamin Netanyahu, é aliado de Donald Trump— tem adotado uma postura mais agressiva antes da posse nos EUA de Joe Biden, que pode reavaliar a política de "pressão máxima" sobre o Irã.
Segundo a Sana, os bombardeios atingiram Al Bukamal, cidade síria que controla o posto de fronteira na principal rodovia que liga Damasco e Bagdá, no Iraque, e que compõe uma rota de abastecimento entre o Irã e combatentes aliados na Síria e no Líbano.
A província de Deir Ezzor, que abriga grupos combatentes da Guarda Revolucionária do Irã e milícias apoiadas por Teerã, também foi um dos alvos. O objetivo de Israel, segundo os relatórios sírios, era destruir depósitos de armas e postos militares nessas regiões.
O balanço divulgado pelo OSDH afirma que, entre os mortos, estão 14 membros das forças sírias e 43 militantes de grupos pró-Teerã, incluindo 16 iraquianos e 11 afegãos que pertenciam à Brigada Fatímida, milícia xiita organizada pela Guarda Revolucionária do Irã.
Um funcionário do setor de inteligência dos EUA afirmou à agência Associated Press, em condição de anonimato, que os ataques desta quarta são parte de uma guerra aprovada secretamente pelo governo Trump. De acordo com essa fonte, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, reuniu-se nesta terça com Yossi Cohen, chefe da agência de espionagem israelense Mossad, para discutir o ataque aéreo sobre a Síria.
Em dezembro, o general Aviv Kochavi, chefe do Estado-maior das Forças Armadas de Israel, divulgou balanço em que aponta que seu país atingiu mais de 500 alvos sírios ao longo de 2020, com o objetivo de restringir a presença militar iraniana na Síria.
As ofensivas israelenses podem perder um importante aliado ocidental com o fim do mandato de Trump, já que Biden, próximo ocupante da Casa Branca, deu sinais de que adotará posições menos aguerridas na relação com Israel. O democrata é contrário, por exemplo, aos assentamentos feitos por Israel na região da Cisjordânia ocupada. Os palestinos criticam a instalação de casas nesses locais porque a presença das moradias impede a criação de um Estado palestino, algo que buscam há décadas.
"Estamos aqui para ficar. Nós vamos continuar a construir na terra de Israel", escreveu Netanyahu em uma rede social ao anunciar a construção de 800 novas casas nos assentamentos.
No ano passado, Trump chegou a tentar mediar um acordo de paz na região. Pelo plano, apoiado pelo premiê israelense, os palestinos ficariam com um território fragmentado, ligado por estradas e túneis. A proposta foi rechaçada pelos palestinos, que se recusaram a participar da negociação por considerarem o projeto muito favorável a Israel.
Em novembro, Pompeo visitou um assentamento na Cisjordânia e disse avaliar que a construção dessas moradias não desrespeita a lei internacional, oficializando a mudança de posição de Washington sobre o tema. No entanto, grande parte da comunidade internacional —incluindo a ONU e a União Europeia— discorda desse entendimento, e há grande expectativa de que a gestão Biden retome o posicionamento anterior do governo dos EUA, de que Israel não deve construir moradias nas áreas em disputa.
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