Descrição de chapéu China Governo Biden

Em primeira conversa com Xi, Biden toca em pontos de divergência com a China

Presidente dos EUA aborda repressão em Hong Kong, abusos em Xinjiang e Taiwan

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Washington | Reuters

O presidente dos EUA, Joe Biden, falou por telefone com o dirigente chinês, Xi Jinping, nesta quarta-feira (10), segundo um comunicado divulgado pela Casa Branca. O contato foi o primeiro realizado entre os líderes das duas potências desde que o democrata tomou posse, em 20 de janeiro e, segundo ele, durou aproximadamente duas horas.

Esta também foi a primeira vez que Xi falou com um mandatário americano desde março do ano passado, quando o líder chinês esteve em contato com o agora ex-presidente, Donald Trump. Depois disso, a tensão entre os dois países aumentou gradativamente, com o americano culpando a China pela pandemia de coronavírus.

Houve ainda uma sequência de rusgas diplomáticas, em que Washington determinou o fechamento de consulados chineses e, em retaliação, Pequim deu a mesma ordem em relação aos postos diplomáticos americanos.

O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa após visita ao Pentágono
O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa após visita ao Pentágono - Carlos Barria - 10.fev.21/Reuters

Na ligação, segundo o comunicado da Casa Branca, Biden "ressaltou suas preocupações fundamentais sobre as práticas econômicas coercitivas e injustas de Pequim, a repressão em Hong Kong, os abusos de direitos humanos em Xinjiang e as ações cada vez mais assertivas na região, inclusive em relação a Taiwan".

Hong Kong vive, desde 2019, um clima de tensão política em que ativistas pró-democracia acusam Pequim de interferir na autonomia do território, algo vetado pelo acordo feito com o Reino Unido quando a cidade foi devolvida à China.

Em Xinjiang, no oeste do país, a grande preocupação da comunidade internacional é com os uigures, uma minoria muçulmana que, segundo uma série de denúncias, tem sofrido constantes perseguições por parte do regime chinês.

Taiwan, por sua vez, tem se aproximado de potências ocidentais como os EUA e os países-membros da União Europeia, com o objetivo de se distanciar da China, que a considera uma província rebelde.

Xi, entretanto, disse a Biden que Hong Kong, Xinjiang e Taiwan são questões de "soberania e integridade territorial" que ele espera que Washington aborde com cautela.

Na ligação, o dirigente chinês afirmou ao americano que confrontos entre os dois países seriam um "desastre" e que os dois lados deveriam restabelecer os meios de evitar julgamentos equivocados, de acordo com o relato da conversa feito pelo Ministério das Relações Exteriores da China. A restauração do diálogo entre os dois países e a cooperação mútua seria a única escolha correta, disse Xi.

"Você disse que a América pode ser definida em uma palavra: possibilidades. Esperamos que as possibilidades apontem agora para uma melhoria das relações China-EUA", disse o dirigente chinês.

Os dois líderes ainda "trocaram opiniões sobre o combate à pandemia de Covid-19 e os desafios comuns de segurança sanitária global, mudança climática e prevenção da proliferação de armas", afirmou a Casa Branca. O presidente dos EUA também disse que o país quer preservar um Indo-Pacífico livre.

Após o telefonema, Biden afirmou que a China é o mais sério competidor dos EUA e prometeu disputar melhor com Pequim.

Nesta quinta (11), ao falar a um grupo bipartidário de senadores em reunião sobre a necessidade de melhora na infraestrutura americana para enfrentar o desafio chinês, o presidente americano advertiu que "se não nos mexermos, eles vão nos jantar".

"Eles estão investindo bilhões de dólares para lidar com uma série de questões ligadas a transporte, ambiente e outras coisas. Nós temos que avançar."

Fora da conversa, Biden enviou também sinais de prontidão militar para Pequim. O movimento mais forte foi a criação de uma força-tarefa no Pentágono para a China, com a missão de em quatro meses fazer um relatório avaliando os riscos que Pequim traz a Washington.

Outras ações foram mais convencionais. Na terça-feira (9), a Marinha americana iniciou um raro exercício com dois grupos de porta-aviões no mar do Sul da China. Pequim considera sua 85% da região, que concentra suas vitais rotas comerciais marítimas.

A gestão Biden indicou que pretende manter postura firme com a China, mas que buscará medidas mais focadas, como restrições específicas a exportações de tecnologias consideradas sensíveis. E também deu sinais de que, ao menos por enquanto, não removerá as tarifas comerciais impostas por Trump.

O governo Trump, adotou uma postura de enfrentamento contra a China, que incluiu uma guerra comercial e acusações de que o país asiático foi o responsável pelo surgimento da Covid-19. Também foram impostas sanções contra funcionários e empresas chinesas considerados ameaças à segurança dos EUA.

Na semana passada, houve uma conversa entre os chefes das diplomacias dos dois países. O secretário de Estado, Antony Blinken, também cobrou respeito aos direitos humanos da China, e ouviu de Yang Jiechi, diretor da Comissão de Assuntos Exteriores chinesa, o mesmo discurso repetido por Xi durante a conversa com Biden: que Pequim considera temas como Taiwan e os uigures como questões internas, que não estão sujeitas à interferências estrangeiras.

Em novembro do ano passado, o dirigente chinês parabenizou Biden 18 dias depois que o democrata foi declarado vencedor das eleições presidenciais. Na ocasião, Xi afirmou que os dois países "devem se comprometer a não buscar conflitos ou confrontos, com o respeito mútuo e com um espírito de cooperação" para promover a paz mundial e o desenvolvimento.

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