Se Bolsonaro não condenar ataque ao Capitólio, haverá prejuízo à relação bilateral, diz senador dos EUA

Em carta, líder da Comissão de Relações Exteriores critica comentários sobre 'eleição fraudada' e ataca Ernesto Araújo

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São Paulo

O presidente da comissão de Relações Exteriores do Senado americano, o senador democrata Robert Menendez, enviou nesta sexta-feira (12) uma carta ao presidente Jair Bolsonaro cobrando que o mandatário e o chanceler Ernesto Araújo “condenem” e “rejeitem categoricamente” os ataques de partidários do ex-presidente Donald Trump ao Capitólio em 6 de janeiro, afirmando que, caso isso não aconteça, haverá “prejuízo para a relação bilateral”.

A carta, obtida pela Folha, foi entregue nesta sexta (12) na embaixada do Brasil e critica os comentários de Bolsonaro e do chanceler sobre suposta fraude na eleição americana, dizendo que isso demonstra “apoio de seu governo a teorias da conspiração furadas e aos terroristas domésticos” que atacaram o Capitólio e ameaçam “minar a parceria entre os Estados Unidos e o Brasil”.

Presidente da comissão de relações exteriores do Senado,  o senador Robert Menendez fala em audiência no Senado americano.
Presidente da comissão de relações exteriores do Senado dos EUA, o senador Robert Menendez discursa em audiência - Greg Nash/AFP

A missiva foi enviada um dia depois de Ernesto e o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, terem sua primeira conversa por telefone desde que o presidente Joe Biden assumiu. A conversa teve tom apaziguador e Blinken convidou o presidente Bolsonaro a participar da cúpula sobre mudanças climáticas que Biden deve organizar em 22 de abril.

A carta de Menendez, no entanto, volta a aumentar a temperatura entre os dois governos. O senador é um moderado bastante respeitado em Washington e, à frente da Comissão de Relações Exteriores, tem grande influência sobre a política externa americana. Ele critica especificamente Ernesto Araújo.

“Esses eventos foram atos de terrorismo doméstico que resultaram em várias mortes e não foram, como disse o ministro Araújo, atos de ‘bons cidadãos’”, diz o senador na carta. “O ministro Araújo está essencialmente priorizando a relação do governo brasileiro com uma facção radical do espectro político americano.”

Ele afirma também que o fato de Ernesto defender esses atos de terrorismo doméstico “mostram como ele é desconectado da realidade atual nos Estados Unidos”.

Segundo assessores do Congresso americano, o objetivo da carta é mostrar que, se Bolsonaro realmente quiser ter uma boa relação com os democratas, ele precisa abordar as declarações, porque os legisladores não vão se esquecer delas tão facilmente.

Em meio ao segundo julgamento de impeachment de Trump, acusado de insuflar extremistas no ataque ao Capitólio, este seria o momento perfeito para uma declaração de Bolsonaro dizendo que a eleição foi legítima e rechaçando os ataques, dizem assessores.

Segundo Menendez, a não ser que o governo brasileiro faça uma “rejeição categórica dos ataques de 6 de janeiro”, isso irá ajudar a manter a narrativa dos extremistas e trará “prejuízo para a relação bilateral”.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores também ressalta em sua carta que Bolsonaro congratulou Biden “tardiamente” por sua vitória e afirma que as declarações de Bolsonaro e Ernesto sobre as eleições podem representar “um retrocesso na parceria Brasil-EUA”.

“Esses comentários não são dignos de um aliado” e “são um erro estratégico que pode ter implicações para nossa relação diplomática no futuro”, diz Menendez.

A Folha procurou o Itamaraty para comentar a carta, mas não obteve resposta até às 20h30 desta sexta-feira.

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