Defensor de acesso a armas e filho de refugiados estavam entre mortos no Colorado; conheça as vítimas

Atentado deixou dez mortos; polícia prendeu suspeito, mas ainda não há informações sobre motivação

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Boulder (EUA) | Reuters

A polícia divulgou nesta terça-feira (23) a identificação de todas as dez vítimas do ataque a tiros ocorrido na tarde de segunda (22) num supermercado da rede King Soopers em Boulder, cidade de cerca de 100 mil habitantes no subúrbio de Denver, no Colorado (EUA).

Entre os mortos, que tinham entre 20 e 65 anos, estavam um funcionário que defendia o direito à posse de armas e um filho de imigrantes sérvios-bósnios que fugiram da guerra na década de 1990.

As autoridades já haviam identificado Eric Talley, 51, primeiro agente policial a ir até a ocorrência —ele foi morto pelo atirador, que disparou contra os oficiais logo que eles chegaram ao mercado.

“O mundo perdeu uma grande alma”, disse o pai do policial, Homer Talley, um engenheiro aposentado que vive no Texas. “Ele era um pai dedicado, tinha sete filhos. O mais novo tinha sete anos, e o mais velho, 20. Sua família era a alegria de sua vida.”

Memorial às vítimas do ataque a tiros em Boulder, no Colorado
Memorial às vítimas do ataque a tiros em Boulder, no Colorado - Alyson McClaran - 23.mar.2021/Reuters

Talley nasceu em Houston, no estado sulista, e foi criado em Albuquerque, segundo seu pai. Ele ingressou na força policial como uma segunda carreira quando tinha 40 anos, mas pensava em deixar a corporação para buscar um trabalho mais seguro.

Para Teri Leiker, que tinha 51 anos, o supermercado da rede King Soopers era um lugar feliz. Ela trabalhou lá por cerca de 30 anos e estava namorando um colega da loja que estava presente no ataque —ele sobreviveu, contou sua amiga Lexi Knutson. "Eles eram bons amigos e começaram a sair em 2019."

Elas se conheceram em 2017 por meio de um programa da Universidade do Colorado que visa promover amizades entre alunos e membros da comunidade com deficiência —Leiker tinha uma deficiência intelectual. A vítima e a amiga iam juntas para eventos esportivos da universidade, cujo campus principal fica perto do supermercado, contou Knutson. “Ela tinha o maior e mais brilhante sorriso.”

Além de Leiker, outros dois funcionários morreram. Denny Stong, o mais jovem entre as vítimas, com 20 anos, trabalhou na King Soopers por vários anos. Molly Proch, uma amiga de colégio, o descreveu ao New York Times como uma das pessoas mais gentis que já conheceu. Segundo ela, Stong gostava de caçar e era um forte defensor do acesso a armas no país.

No início deste mês, ele pediu em suas redes sociais que seus amigos fizessem uma doação à Fundação Nacional para os Direitos das Armas como um presente de aniversário. "Escolhi essa organização sem fins lucrativos porque sua missão significa muito para mim", escreveu ele.

“Ele estava entusiasmado em expressar como achava que o governo deveria lidar com armas” para evitar fuzilamentos em massa, disse ela. "E foi assim que ele não está mais aqui."

Rikki Olds, 25, era uma gerente da King Soopers, onde trabalhou por cerca de sete anos, segundo seu tio, Robert Olds. Ele descreveu a sobrinha como uma mulher forte e independente que gostava de fazer caminhadas e acampar —suas redes sociais estavam cheias de fotos de rios, montanhas e cachoeiras.

Olds era a mais velha de três irmãos, e sua mãe os abandonou quando ela tinha sete anos, deixando-a na porta de seus avós, que a criaram em Lafayette, também no Colorado. Mesmo quando passou a morar sozinha, ela visitava a avó regularmente.

Neven Stanisic, 23, trabalhava com manutenção e foi chamado para consertar uma máquina em um café que ficava no mesmo complexo do supermercado, segundo o reverendo Radovan Petrovic, da Igreja Ortodoxa Sérvia de São João Batista. Ele arrumou a máquina e estava prestes a sair para outro trabalho quando o atirador o acertou no estacionamento, de acordo com a polícia.

Os pais de Stanisic, sérvios da Bósnia, fugiram da guerra na década de 1990, o conflito mais mortal na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, e foram para os Estados Unidos como refugiados. "Eles evitaram uma tragédia vindo para cá, mas agora essa tragédia os atingiu", disse Petrovic.

Kevin Mahoney, 61, teve sua morte confirmada pela filha Erika, que postou nas redes sociais uma foto do pai a levando pelo corredor da igreja em seu casamento. “Agora estou grávida. Eu sei que ele quer que eu seja forte por sua neta”, escreveu. "Você estará sempre comigo."

Tralona Lynn Bartkowiak, 49, tinha parado no complexo para comprar um remédio quando o tiroteio aconteceu, disse seu irmão, Michael Bartkowiak, ao New York Times. Ele descreveu sua irmã, a mais velha de quatro, como "uma pessoa incrível, apenas um raio de luz".

Ela havia se mudado para Boulder para administrar uma loja de roupas de ioga montada por uma de suas irmãs. Tralona tinha acabado de ficar noiva. Michael contou ter se encontrado com a irmã há cerca de um mês, quando a família se reuniu pela última vez durante uma viagem para o estado de Oregon.

A diretora de fotografia aposentada Lynn Murray, 62, mãe de dois filhos, por sua vez, estava fazendo compras no supermercado no momento do ataque. “Ela era uma mulher incrível, provavelmente a pessoa mais gentil que já conheci”, disse seu marido, John Mackenzie, ao New York Times. Lynn trabalhou como diretora de fotografia de várias revistas em Nova York, incluindo Cosmopolitan, Marie Claire e Glamour.

O casal se mudou de Nova York, em 2002, primeiro para Stuart, no estado da Flórida, e depois para o Colorado, para criar os filhos, Olivia, 24, e Pierce, 22.

Também estão entre as vítimas Suzanne Fountain, 59, e Jody Waters, 65.

O autor do ataque foi identificado como Ahmad Al Aliwi Alissa, 21. Ele é um cidadão americano naturalizado da Síria, de acordo com policiais ouvidos pela agência de notícias Reuters, e passou a maior parte de sua vida nos EUA. Os investigadores afirmam acreditar que Alissa —que morava em Arvada, próxima a Boulder— agiu sozinho e disseram ainda não saber qual foi a motivação para o ataque. A arma utilizada foi um fuzil semiautomático AR-15, frequentemente usado em massacres.

De acordo com uma declaração de prisão apresentada pela polícia, ele comprou a arma seis dias antes do crime. O irmão dele, Ali Aliwi Alissa, 34, disse a um jornal que o atirador era antissocial e paranóico.

Alissa teve ao menos dois problemas anteriores com a Justiça, de acordo com um porta-voz do Departamento de Polícia de Arvada. O agressor já havia sido acusado de agressão de terceiro grau, em 2017, e por danos criminais, em 2018 —os detalhes não foram revelados e não ficou claro se ele chegou a ser condenado por algum crime.

Ele se formou na Arvada West High School em maio de 2018, segundo Cameron Bell, porta-voz do distrito escolar, e fez parte da equipe de luta livre da escola. Alissa foi levado a um hospital após a troca de tiros com a polícia e transferido para a prisão nesta terça, onde aguarda julgamento.

Esse é o segundo ataque a tiros de grande repercussão registrado nesta semana nos EUA. Na terça-feira (16), um homem matou oito pessoas —seis delas mulheres de ascendência asiática— em três casas de massagens diferentes. Em seu primeiro pronunciamento após o ataque no Colorado, nesta terça, o presidente Joe Biden pediu aos legisladores que promulguem medidas mais rígidas no controle de armas de alta capacidade, comumente usadas em massacres.

Da Casa Branca, o democrata pediu que o Senado aprove os dois projetos de lei que endurecem a checagem de precedentes para a compra de armas, que já passaram pela Câmara dos Deputados.

Com The New York Times

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