Três manifestantes são mortos em Mianmar em dia de greve geral contra golpe de Estado

Militares reforçam repressão e fazem ações contra imprensa local

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Rangoon (Mianmar) | AFP e Reuters


Três manifestantes pró-democracia foram mortos nesta segunda-feira (8) em Mianmar, em meio aos protestos contra a ditadura militar do país. Uma greve geral contra o novo regime também ganha força.

Bancos, estabelecimentos comerciais e fábricas permaneceram fechados após a convocação dos sindicatos para reforçar a greve e asfixiar a economia, estratégia para pressionar o comando militar. Funcionários públicos, agricultores e trabalhadores do setor privado se uniram aos ativistas nos atos.

Em Yangon, manifestante grita durante protesto contra golpe militar em Mianmar
Em Rangoon, manifestante grita durante protesto contra golpe militar em Mianmar - 8.mar.21/AFP

Em Rangoon, fábricas do setor têxtil, centros comerciais, bancos e correios permaneceram fechados nesta segunda. Nove associações trabalhistas pediram a "interrupção completa e prolongada da economia" para pressionar os militares. A junta militar advertiu os funcionários públicos que eles serão demitidos caso não retornem ao trabalho.

Os protestos são contra o golpe de Estado aplicado por generais, em 1º de fevereiro, que derrubou um governo civil. Os militares dizem que houve fraude nas eleições de novembro, mas não apresentaram provas. Eles prometem realizar um novo pleito, embora não tenham estabelecido um prazo para tal.

Nesta segunda, a repressão foi firme. Em Pyapon, a 100 quilômetros de Rangoon, um homem de 30 anos foi baleado e morreu, segundo uma testemunha. Outros dois foram mortos em Myitkyina, onde foram ouvidas várias explosões. Também em Myitkyina, uma religiosa católica ajoelhou-se na rua e suplicou aos policiais que não atirassem, de acordo com imagens divulgadas pela imprensa local.

Muitas mulheres se uniram aos protestos por ocasião do Dia Internacional da Mulher. Perto da cidade de Dawei, centenas de membros da etnia karen exibiram suas bandeiras e pediram o fim da ditadura.

O governo também fez ataques à imprensa. As forças de segurança realizaram uma operação na sede do jornal Myanmar Now e levaram computadores, servidores e uma impressora, informou à agência de notícias AFP o diretor de Redação da publicação, Swe Win.

Em Rangoon, capital financeira do país, as forças de segurança bloquearam cerca de 200 manifestantes em uma área do bairro Sanshaung, e não os deixam voltar para casa.

"Somos a primeira Redação atacada pelo regime. Trabalhamos com medo, mas a invasão de nosso local de trabalho confirma que a junta não tolerará em absoluto as reportagens sobre seus delitos", completou.

Mais tarde, foi revogada a licença de publicação do Myanmar Now, assim como as dos veículos independentes Mizzima, DVB, Khit Thit e 7 Day, após uma ordem do Ministério da Informação, segundo a emissora estatal MRTV.

As forças de segurança foram mobilizadas na noite de domingo (7) em vários bairros de Rangoon e ocuparam diversos hospitais públicos. A ONG Physicians for Human Rights condenou a ocupação e se declarou "consternada com a nova onda de violência".

No sábado à noite, houve operações contra dirigentes da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi, principal líder civil do país, deposta e presa no golpe. Vários foram detidos, e um representante local do movimento, Khin Maung Latt, foi agredido até a morte.

Os deputados que não reconhecem a legitimidade do golpe de Estado e que criaram um comitê para representar o governo civil são acusados de alta traição, delito que pode ser punido com pena de morte ou 22 anos de prisão, advertiu a junta. Mais de 50 manifestantes foram mortos desde o golpe que derrubou o governo de Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz de 1991, e centenas de pessoas, detidas.

A imprensa estatal nega o envolvimento da polícia e do Exército na morte de civis e afirma que as forças de segurança "precisam conter os distúrbios de acordo com a lei". Com a situação cada vez mais complicada, os moradores do país estão em fuga. Quase 50, incluindo oito policiais que se negaram a participar na repressão, chegaram à vizinha Índia, cujas fronteiras estão lotadas.

Os generais que assumiram o poder ignoram os protestos da comunidade internacional. Os EUA anunciaram sanções contra os militares do país e, na sexta, o Conselho de Segurança da ONU não chegou a um acordo sobre uma declaração conjunta sobre condenar ou não o golpe.

Os debates prosseguirão nesta semana.

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