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Covid-19 avança nas ilhas Seychelles, país com a maior taxa de vacinação do mundo

Alta de casos gera dúvidas sobre porcentagem necessária para atingir imunidade de rebanho

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Nina Muschketat
Público

As ilhas Seychelles impuseram novas restrições para conter a pandemia de coronavírus, apesar de serem o país com a maior taxa de vacinação em todo o mundo: 67,7% dos habitantes tomaram ao menos uma dose, e 61,1% estão plenamente imunizados.

Um surto no final de abril, que elevou a incidência do vírus no país para números acima dos da Índia, coloca em dúvida a sua abertura ao turismo, bem como a eficácia das vacinas da AstraZeneca, produzida na Índia, e da empresa chinesa Sinopharm.

Costa de La Digue, nas ilhas Seychelles - 31.ago.18/Xinhua

“Apesar de todos os esforços excepcionais que estamos fazendo, a situação da Covid-19 no nosso país está crítica neste momento, com muitos casos diários relatados”, afirmou a ministra da Saúde, Peggy Vidot, em entrevista coletiva na terça-feira (4), quando foram anunciadas as novas medidas a que as 115 ilhas no Oceano Índico que formam o país estarão submetidas durante as próximas semanas.

O arquipélago voltou a ser atacado por um surto de Covid-19 no final de abril, o que fez o número de infecções duplicar em três dias: havia 1.068 casos ativos no dia 3 de maio, segundo a Bloomberg. Em uma semana, o número dobrou outra vez: nesta segunda, o país soma 2.486 pessoas em tratamento de Covid.

Os cerca de cem novos casos diários no país insular, com uma população de quase 100 mil habitantes, estão pressionando o sistema nacional de saúde local. Reagindo à situação, as autoridades impuseram o fechamento das escolas, apertaram as restrições de horários e proibiram todas as comemorações e atividades esportivas em grupo.

A situação está sendo tomada como um sinal de alerta, sobretudo no que toca à eficácia das duas vacinas, que levaram as ilhas a estar no topo das campanhas de imunização do mundo, estando prestes a ter 70% da sua população vacinada —e, com isso, a esperada imunidade de rebanho.

Mas a alta de casos põe em dúvida “o alcance a que temos de chegar para obtermos a imunidade de grupo”, afirma Yanzhong Huang, especialista em saúde pública e membro do Conselho de Relações Exteriores dos EUA. “É um caso crítico para se considerar a eficácia de algumas vacinas”, acrescenta ele, citado pelo jornal americano The Washington Post.

Cerca de 60% da população de Seychelles foi inoculada com a vacina da companhia chinesa Sinopharm, cujas doses foram doadas pelo seu aliado regional, os Emirados Árabes Unidos, ao passo que a parte restante tomou a vacina da AstraZeneca, produzida na Índia.

Ambas as vacinas são consideradas de menor eficácia quando comparadas às da Pfizer e da Moderna, que garantem uma proteção de cerca de 95%. A Organização Mundial da Saúde atribuiu recentemente à vacina da Sinopharm uma taxa de eficácia de 78% nos adultos, não tendo retirado conclusões para os mais idosos. Também na da AstraZeneca o valor ronda os 79%.

O cenário nas Seychelles contrasta com o de outros países que têm campanhas de vacinação igualmente avançadas, como o Reino Unido ou Israel, e que têm visto as infecções por Covid-19 caírem bastante.

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Segundo escreve a Bloomberg, Daniel Lucey, um professor na escola de medicina da Darmouth College, em New Hampshire, refere mesmo que “há implicações globais para o que está acontecendo agora nas Seychelles, dada a utilização internacional generalizada destas duas vacinas”.

Ainda assim, as autoridades das ilhas revelam que 65% dos novos casos são relativos a pessoas que tomaram uma ou nenhuma das doses. A sua incidência de mortes também continua baixa, com 28 entre os mais de 6.000 casos registados ao todo.

Na entrevista coletiva de terça-feira, o comissário da Saúde Pública do país, Jude Gedeon, disse que é incerto quanto tempo demorará até que a tendência das infecções se inverta, mas sublinha que “isso dependerá de como as novas medidas forem respeitadas”.

Paralelamente à sua campanha de vacinação acelerada, as ilhas paradisíacas foram também um dos primeiros países a retomar a atividade turística, registrando um boom de turistas, especialmente desde o começo de maio. O cumprimento das novas medidas de restrição não está, assim, apenas nas mãos dos residentes. “Desde que reabrimos as nossas fronteiras no dia 25 de março, chegaram cerca de 3.000 visitantes, por meio de diferentes companhias aéreas, num espaço de quatro dias”, disse à revista Der Spiegel a diretora-executiva do Conselho de Turismo do país, Sherin Frances.

Os turistas não estão sujeitos a quarentenas ao entrar no país nem são obrigados a estar vacinados, tendo apenas de apresentar um teste PCR negativo realizado nas últimas 72 horas. “Acho que o fato de sermos um dos países com uma maior vacinação tem tido um papel-chave na retomada dos turistas. As pessoas nos vêem como um país seguro”, afirmou à Spiegel um dono de um hotel na região, Robert Payet.

Frances revela, contudo, que apenas 10% dos casos ativos de Covid são de turistas. Isto pode derivar do fato de que uma grande parte dos visitantes vem de Israel –o segundo país com a maior campanha de vacinação, com também cerca de 60% da sua população imunizada. Ele, porém, admite que as vacinas são “muito eficazes na prevenção da doença grave e da morte, mas são menos boas na prevenção de infecções”. As Seychelles dependem fortemente do turismo, que geram 25% do seu PIB, tendo sofrido uma quebra de 13,5% na sua economia em 2020, de acordo com o Banco Mundial.

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