Presidente argentino pede desculpas por frase racista a órgão contra discriminação

Para responsável pela entidade, Fernández 'teve muita coragem ao apresentar voluntariamente uma carta'

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Buenos Aires

Após as reações negativas à sua frase racista, o presidente argentino, Alberto Fernández, pediu desculpas em uma carta ao órgão que combate a discriminação no país. Em resposta, a diretora do Inadi (Instituto Nacional Contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo), Victoria Donda, 43, disse nesta sexta (11) considerar "exageradas as críticas de uma parte da dirigência política" à declaração do mandatário.

Durante visita do premiê espanhol, Pedro Sánchez, Fernández disse que "os mexicanos vieram dos indígenas, os brasileiros, da selva, e nós [argentinos] chegamos em barcos". A frase, equivocadamente atribuída ao Nobel mexicano Octavio Paz, na verdade é de uma canção de Litto Nebbia.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, durante entrevista coletiva ao lado do premiê da Espanha, Pedro Sánchez
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, durante entrevista coletiva ao lado do premiê da Espanha, Pedro Sánchez - Juan Mabromata - 9.jun.21/AFP

Depois de pedir, pelo Twitter, desculpas "a quem se sentiu ofendido", ele encaminou uma carta ao Inadi —vinculado ao Ministério da Justiça, o órgão foi criado em 1994 para recolher denúncias de pessoas que afirmam ter sofrido discriminação. A entidade, no entanto, tem autonomia limitada e pode apenas advertir os eventuais agressores. Os casos mais graves são encaminhados à Justiça.

Na carta enviada ao órgão, o presidente afirmou que a frase "foi interpretada de um modo que contradiz minhas ações e nossas decisões de governo" e ressaltou que possui "convicções profundas sobre a identidade da população argentina e latino-americana".

Fernández disse ainda que não ignora "as situações de violência e genocídio que ocorreram em nossa história contra os povos originários que habitavam essas terras", mas que o povo argentino é o "resultado de um diálogo de culturas, entre a imigração europeia, a ascendência indígena e as migrações mais recentes dos países latino-americanos". Também fez referência à "presença muito importante das tradições africanas".

Na tarde desta sexta, Donda declarou que era "histórico e destacável" que Fernández tenha tomado a iniciativa de encaminhar a carta, "desculpando-se por algo que disse e que ofendeu muitas comunidades".

E acrescentou: "O Inadi pode apenas estimular quem faz afirmações como essas a refletir e, neste caso em particular, o presidente já refletiu e nos mandou essa carta". "É importante que um presidente tenha a coragem de dizer que há muitas coisas que devem mudar", completou.

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Pedir desculpas ao Inadi também é uma forma de o presidente acalmar as críticas de organizações que defendem os direitos de minorias e que fazem parte da base de apoio do governo. A própria Donda, que já havia estado com os peronistas, passou um tempo num partido de esquerda dissidente, devido ao conservadorismo da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) em relação ao aborto, por exemplo.

Figura popular entre a juventude militante de esquerda, Donda foi uma das ex-kirchneristas que voltaram a formar parte da aliança que hoje apoia o governo. Na Argentina, haverá eleições legislativas em novembro, e o peronismo tentará se apresentar, assim como em 2015, como um bloco coeso, para continuar com maioria no Congresso. A oposição já está em campanha para enxugar o poder peronista no Legislativo, principalmente com as críticas à administração da pandemia e da economia.

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