Descrição de chapéu Rússia

Rússia diz que atirou contra navio militar britânico na costa da Crimeia

Moscou afirma ter usado barco e jato em ação, minimizada por Londres como um exercício naval

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São Paulo

O governo da Rússia anunciou que afastou a tiros e bombas um destróier britânico da costa da Crimeia.

Se confirmado em seus detalhes, o incidente é inédito desde a Guerra Fria e foi o mais grave entre forças da Otan (a aliança militar liderada pelos EUA) e de Moscou desde que Vladimir Putin anexou a península da Ucrânia em 2014.

O destróier HMS Defender passa por Istambul rumo ao Mar Negro, no dia 14 passado
O destróier HMS Defender passa por Istambul rumo ao Mar Negro, no dia 14 passado - Yoruk Işık - 14.jun.2021/Reuters

O episódio ocorreu na manhã desta quarta (23, madrugada no Brasil), segundo a agência de notícias Tass a partir do Ministério da Defesa da Rússia. O adido militar britânico em Moscou foi chamado a dar explicações.

Já o Ministério da Defesa em Londres minimizou o incidente, afirmando que os tiros eram parte de um exercício naval russo e não foram direcionados a seu destróier.

"[O navio] estava em um trânsito de rotina de Odessa rumo à Geórgia pelo mar Negro, usando um corredor de separação de tráfego reconhecido internacionalmente", disse Ben Wallace, o secretário de Defesa britânico.

Segundo o relato russo, o destróier HMS Defender, que acompanhava o grupo de ataque liderado pelo porta-aviões HMS Queen Elizabeth no Mediterrâneo, destacou-se e foi conduzir manobras no mar Negro. Ele foi visto atravessando o estreito de Bósforo no dia 14 passado.

Num desses movimentos, adentrou águas que os russos consideram suas em torno da Crimeia, na altura do cabo Fiolent, ao sul de Sebastopol —uma região rochosa nomeada pelos colonos genoveses pelo seu mar "violento", na corruptela.

Tanto Londres como Moscou concordam que o navio entrou 3 km em águas que os russos consideram suas —mas os britânicos veem como ucranianas ou internacionais.

O destróier foi advertido por um navio da guarda costeira russa de que deveria mudar de direção, mas segundo Moscou não respondeu.

O navio russo então disparou tiros de advertência na direção do HMS Defender e, de forma ainda mais dramática, um jato Su-24 da Frota do Mar Negro jogou quatro bombas no caminho presumido da embarcação britânica.

O HMS Defender, disse o ministério, deixou então a área sem nenhum tipo de reação, sempre segundo a versão do Kremlin. Ela foi respaldada pela Ucrânia, mas o país além de aliado da Otan tem interesse em aumentar a percepção de ameaça do vizinho a leste.

Em abril, durante a crise na qual Putin concentrou tropas perto da fronteira da Ucrânia para deter uma suposta reabsorção das áreas rebeldes pró-Rússia no leste do país, o Kremlin fechou trechos do mar Negro a navios estrangeiros por seis meses.

Desde que anexou a Crimeia, na esteira da derrubada do governo pró-Moscou em Kiev, Putin militarizou crescentemente a península —que já sediava, mediante um acordo, a Frota do Mar Negro em Sebastopol.

A Ucrânia, que com a crise desde então não conseguiu integrar a Otan como seu novo governo desejava, passou a fazer exercícios frequentes com forças ocidentais. Putin já disse que seu imperativo é impedir que a aliança absorva o vizinho e estabeleça uma nova e grande fronteira com seu território.

Interceptações de navios e aeronaves são extremamente comuns nas áreas de atrito estratégico entre Moscou, forças da Otan, da China e de aliados americanos no Pacífico.

Na Europa, os mares Negro e Báltico são os teatros de operações mais ativos. Na semana passada, por exemplo, um grupo de bombardeiros e caças russos foi interceptado por aviões da Otan e da Suécia, um aliado ocidental que não integra a aliança, ao longo da costa báltica.

Mas é desconhecido um episódio recente com tal gravidade, a ser preciso o relato divulgado pelos russos. No ano passado, um destróier americano quase foi abalroado por outro russo perto de Vladivostok, sede da Frota do Pacífico de Moscou, mas não houve tiros envolvidos.

No mar Negro, a tensão está alta desde 2014, e a reunião de cúpula da Otan na semana passada não ajudou a esfriar os ânimos.

Nela, a primeira com a presença do presidente Joe Biden, a aliança reafirmou que considera a Rússia de Putin a maior ameaça à sua segurança. A China, aliada de Moscou, também foi incluída pela primeira vez no rol de potencial risco.

O fato de o navio envolvido na ação ser britânico demonstra uma tentativa americana de evitar uma escalada direta de tensões —Biden teve uma tensa reunião com Putin na quarta (16).

O HMS Queen Elizabeth está fazendo sua primeira viagem operacional e depois de agir no Mediterrâneo irá para o Índico e o Pacífico, em um sinal claro para Pequim.

O porta-aviões, contudo, não carrega apenas aeronaves britânicas. Há 18 aviões furtivos ao radar F-35B, de uso naval, tanto de Londres quanto dos Fuzileiros Navais americanos a bordo. Nesta semana, eles fizeram o primeiro ataque a partir do navio, contra posições remanescentes do Estado Islâmico na Síria.

É o maior deslocamento de forças navais de Londres desde a Guerra das Malvinas, em 1982, ainda que observadores independente sejam céticos acerca da capacidade financeira de o Reino Unido manter tal tipo de poder no mar.

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