Com saída dos EUA do Afeganistão, Taleban avança e acende alerta de conflito

Combatentes já dominaram 50 dos 370 distritos do país e podem ocupar capitais de províncias

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Nova York | Reuters

A retirada das tropas americanas do Afeganistão tem significado um crescimento cada vez maior do Taleban no país. Combatentes do grupo islâmico já tomaram mais de 50 dos 370 distritos do Afeganistão desde maio, afirmou nesta terça-feira (22) a enviada especial da ONU, Deborah Lyons, alertando que o aumento do conflito representa um risco para muitos outros países.

Ao Conselho de Segurança das Nações Unidas Lyons afirmou que o anúncio no início deste ano da retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão estremeceu o país. “Esses distritos que foram tomados estão no entorno das capitais de províncias, sugerindo que o Taleban está se posicionando em uma tentativa de tomar essas capitais uma vez que as forças estrangeiras se retirem completamente.”

Forças afegãs circulam na província de Kunduz, região de conflito com o Taleban
Forças afegãs circulam na província de Kunduz, região de conflito com o Taleban - Reuters

Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, à caça de Osama Bin Laden. As forças afegãs apoiadas pelos americanos derrubaram o governo da organização radical Taleban e prometeram levar a paz. Após duas décadas, os EUA começaram a retirar as 2.500 tropas que ainda se encontram no país, em um processo previsto para terminar até a simbólica data de 11 de setembro. Cerca de 7.000 pessoas de países da Otan (aliança militar ocidental), além de Austrália, Nova Zelândia e Geórgia, também planejam deixar o Afeganistão até essa data.

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“Todos os principais indicadores, como segurança, processo de paz, economia, emergência humanitária e, claro, Covid-19, estão negativos ou estagnados”, disse Lyons ao conselho. “A possível queda em direção a cenários terríveis é inegável.”

Com a saída das tropas, os afegãos começam a sofrer as consequências. Desde o início de maio, quando a retirada começou, combatentes do Taleban têm cercado postos militares na zona rural, e alguns deles têm caído após rendições em grande escala.

Os afegãos enfrentam ainda outra crise, com 18 mil casos abertos de ex-funcionários, incluindo tradutores, que esperam o governo americano cumprir a promessa e recompensá-los por arriscar a vida pelos EUA. O problema chegou a um ponto crítico agora com a retirada já que, quando ela acabar, essas pessoas estarão à mercê do Taleban.

A saída das tropas faz parte do acordo de paz assinado pelos EUA com o grupo radical islâmico. Em troca da retirada americana e de países da Otan, o Taleban se comprometeu a parar de fazer ataques, a não apoiar grupos terroristas e a negociar com o governo afegão.

O Taleban defende uma visão radical de preceitos islâmicos. Quando esteve no governo, as mulheres não podiam estudar ou trabalhar fora de casa e tinham de usar burcas para sair às ruas. Há temores de que, com a volta do grupo à política, as mulheres voltem a ser subjugadas.

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