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Ásia

Temor após fechamento do Apple Daily se estende a outros jornalistas chineses

Ação em Hong Kong serve de alerta para limite imposto pela China

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São Paulo

A uma semana do centenário do PC, o fechamento do Pingguo Ribao ou Apple Daily, forçado por uma investigação com base na lei de segurança nacional de Hong Kong instituída há menos de um ano, serve de alerta geral para o limite imposto pelo governo chinês à cidade —e além dela.

Formalmente, é por conluio com força estrangeira, secessão, mas a ação que inviabilizou o jornal, ao congelar seus ativos financeiros e mirar o conteúdo, criminalizando opinião, é drástica demais para não ter como objetivo o próprio choque que provoca no ambiente, não só de mídia.

Funcionários do Apple Daily trabalham na última edição do jornal de Hong Kong
Funcionários do Apple Daily trabalham na última edição do jornal de Hong Kong - Anthony Wallace/AFP

O alvo é um tabloide, caracterizado por cobertura cotidiana sensacionalista, mas a mensagem é aos outros veículos, do South China Morning Post, do bilionário Jack Ma, ao canal RTHK e outros meios com financiamento estatal que, de tempos em tempos, dão sinais de jornalismo crítico.

O cerco comercial à China, iniciado por Donald Trump e mantido por Joe Biden, e as manifestações de 2019 em Hong Kong estremeceram o governo chinês, colocando em risco o próprio papel da cidade como centro financeiro, e acabaram servindo de justificativa para o cerceamento no ano passado.

A União Europeia reagiu ao fechamento do Apple Daily enfatizando, uma vez mais, que cercear a livre expressão de opinião ameaça as aspirações de Hong Kong como centro internacional de negócios, mas é improvável que as instituições financeiras prefiram o Apple Daily à estabilidade pós-2019.

Pelo contrário, o HSBC, segundo maior banco europeu, nascido como Hongkong and Shanghai Banking Corporation, vem há meses anunciando o abandono de outros mercados em favor de Hong Kong e da China, que passou a acelerar a abertura também aos bancos americanos.

A ameaça de perda de estatura econômica, se existe, vem mais da concorrência de centros como Xangai, que passaram a oferecer benefícios comparáveis. Ou seja, a perda que importa, para os próprios chineses, se concentra na liberdade de expressão —que não é prioridade de Pequim.

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O temor espalhado pelas ações contra o jornal se evidenciou na própria Redação, com a saída de metade de seus jornalistas nesta última semana de operações. Prevista inicialmente para o próximo sábado, a última edição saiu na quinta porque começou a faltar equipe para a produção.

É um efeito que se estende agora a outros jornalistas chineses, noutros veículos, não só de Hong Kong.

O dono do Apple Daily, Jimmy Lai Chee-ying, é figura controversa também para a política dos Estados Unidos. Foi uma das primeiras vítimas da nova lei, em agosto último. Saiu então algemado pelos corredores da Redação, levado pelos policiais, na capa de seu próprio jornal.

Mas a imagem no exterior não resistiu. Seu ativismo e métodos não se limitam a Hong Kong —e logo veio a revelação nos EUA de que o apoio que dedicou publicamente a Trump, então em campanha, incluiu produzir um dossiê sobre os negócios de Hunter Biden, filho de Joe, na China.

No intervalo, Jimmy Lai foi condenado, está cumprindo 14 meses de cadeia e tem outros processos a caminho. Tornou-se um perseguido político, como Julian Assange. Na pauta americana dos malfeitos de Pequim, porém, foi caindo para segundo plano.

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