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Após protestos, Cuba autoriza livre entrada de alimentos e remédios

População foi às ruas para se manifestar contra escassez de produtos em atos mais intensos em décadas

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Havana | AFP

O regime cubano autorizou nesta quarta-feira (14) a entrada sem restrições no país de alimentos, remédios e produtos de higiene trazidos por viajantes, três dias após intensas manifestações na ilha. A medida começa a valer na segunda (19).

O governo concordou em autorizar “excepcionalmente e temporariamente” a importação desses produtos, trazidos por passageiros, sem limite de valor e sem o pagamento de taxas, anunciou o número dois do regime, Manuel Marrero, na TV cubana, ao lado do líder do país, Miguel Díaz-Canel. Marrero explicou ainda que a medida vale até 31 de dezembro e que, depois desse período, será reavaliada.

Com bandeiras de Cuba e dos EUA, manifestantes em Miami participam de ato em apoio aos protestos na ilha
Com bandeiras de Cuba e dos EUA, manifestantes em Miami participam de ato em apoio aos protestos na ilha - Eva Marie Uzcategui - 13.jul.21/AFP

As leis cubanas permitem a importação sem o pagamento de impostos de até 10 quilos de medicamentos, mas impõem limites maiores a alimentos e outros produtos. Segundo Marrero, não haverá restrições impostas pelo regime nem pela alfândega, e quem irá determinar esse limite será a companhia aérea.

Essa era uma das demandas de acadêmicos e intelectuais em carta aberta enviada ao governo recentemente, em uma tentativa de contornar a crise que atinge o país —e que motivou também os protestos no domingo (11) e na segunda (12) em cerca de 40 cidades da ilha.

Os atos são as maiores manifestações contra o regime realizadas nas últimas décadas no país. Os cubanos que foram às ruas pedem mais liberdade e a implementação de políticas efetivas de combate à escassez de alimentos e de remédios. A mobilização ganhou força após a crise ser intensificada pelos efeitos da pandemia de Covid-19, que fez o PIB de Cuba encolher 11%.

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Ainda que as demandas já fossem conhecidas pelo regime e pela comunidade internacional, o volume dos protestos surpreenderam. Nos últimos anos, o governo cubano já enfrentava mobilizações, marcadas em grande parte pela participação de artistas, jornalistas e intelectuais, que construíram redes de articulação após um decreto de 2018 que limitou ainda mais a liberdade de expressão.

Diferentemente dessas mobilizações, os atos iniciados no fim de semana somaram participação popular e foram registrados em diversas províncias. O regime, porém, segue negando que os atos tenham base social. Na tentativa de asfixiar as manifestações, que ganharam força nas redes sociais, o regime da ilha também cortou a internet da população na segunda-feira. Assim, plataformas como WhatsApp, Facebook, Instagram e Telegram passaram a funcionar de maneira instável —quando funcionavam.

De acordo com balanços divulgados por organizações sociais, cerca de cem pessoas foram detidas desde o início das manifestações. A repressão contra a imprensa também foi intensificada. Ao menos 42 jornalistas sofreram ameaças, agressões psicológicas e físicas ou foram presos, segundo números do Instituto Cubano para a Liberdade de Expressão e de Imprensa. Uma das repórteres presas é a cubana Camila Acosta, colaboradora do jornal espanhol ABC.

Ao menos um homem que participava da onda de protestos populares morreu, segundo informou o Ministério do Interior nesta terça. Diubis Laurencio Tejeda, 36, morava no bairro de Arroyo Naranjo, na periferia de Havana, um dos que registraram atos contra o regime cubano na segunda.

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