Líder de gangues no Haiti vê conspiração em morte do presidente e ameaça tomar as ruas

'É hora de os negros terem o controle dos negócios', disse Jimmy Cherizier

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Porto Príncipe | Reuters

O lider de uma das gangues mais poderosas do Haiti disse no sábado (10) que seus homens poderão tomar as ruas para protestar contra o assassinato do presidente Jovenel Moïse, o que ampliaria a instabilidade no país.

Jimmy Cherizier, um ex-policial conhecido como "Barbecue" (churrasco), lidera o grupo chamado G9, que reúne nove gangues haitianas. Para ele, Moïse foi assassinado por um conluio que envolveu a burguesia do país, policiais e estrangeiros.

Cidadãos do Haiti se reúnem para pedir asilo, perto da embaixada dos EUA em Tabarre - Valerie Baeriswyl - 10.jul.21/AFP

"Isso foi uma conspiração nacional e internacional contra o povo haitiano", disse Cherizier em um vídeo. "Dissemos a todas as nossas bases para se mobilizarem e tomarem as ruas para que haja esclarecimentos sobre o assassinato do presidente."

Moïse foi assassinado na madrugada de quarta (7). De acordo com as autoridades haitianas, um esquadrão de 28 homens —26 colombianos, muitos dos quais militares reformados, e dois cidadãos haitianos-americanos— invadiu a residência do mandatário e abriu fogo contra ele. As forças de segurança prenderam 17 suspeitos e mataram pelo menos outros três. Os demais seguem foragidos.

Até o momento, não está claro o motivo do ataque, e as autoridades buscam desvendar quem foi o mandante do magnicídio.

O líder das gangues disse que seus seguidores poderiam praticar "violência legítima" e que é hora de os donos do sistema —empresários de origem síria e libanesa que dominam setores da economia— deixarem o poder. Alguns deles tinham rusgas com Moïse. "É hora de as pessoas negras, com o cabelo crespo como nós, serem donos de supermercados, concessionárias de carros e bancos."

As declarações aumentam o temor de violência descontrolada em Porto Príncipe, capital do Haiti, onde gangues e polícia vivem em confronto pelo controle das ruas. "Eles realmente não têm capacidade de oferecer segurança. Não há policiais o suficiente", disse Benoit Jean, morador da cidade.

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O assassinato do presidente agrava a crise em que o Haiti está mergulhado. Moïse, que havia praticamente inabilitado o Congresso e governava o país por decreto, mantinha-se no cargo apesar de opositores reivindicarem que seu mandato deveria ter se encerrado em fevereiro passado.

Com a morte do presidente, o premiê interino, Claude Joseph, assumiu o comando do país e declarou estado de sítio durante duas semanas, medida que amplia os poderes do Executivo. Joseph deverá ficar encarregado de realizar as eleições parlamentares e presidenciais marcadas para setembro.

Na sexta, o governo haitiano pediu que os Estados Unidos e a ONU enviem tropas militares para ajudar a proteger a infraestrutura local, como aeroporto e reservatórios de gasolina.

O governo americano não confirmou o envio das tropas, mas a Casa Branca afirmou que mandará agentes do FBI e do Departamento de Segurança Interna, além de vacinas contra a Covid ao único país das Américas que ainda não começou a imunizar sua população.

Já o pedido à ONU traz à memória a Minustah, missão que reuniu, entre 2004 e 2017, tropas para tentar estabilizar o Haiti. A operação teve protagonismo do Brasil, que, excetuando-se breves intervalos, comandou um contingente internacional que chegou a ter mais de 7.000 militares de 22 países.

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