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FHC e Ciro pedem respeito a autonomia de Cuba e criticam repressão a protestos

Ex-presidente diz que tentativas de sufocar manifestações vão na contramão da democracia

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Guarulhos

Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não há o que justifique a repressão do regime de Cuba aos atos populares realizados no país desde o último fim de semana. Também não é plausível "jogar a culpa nos americanos", acrescenta o tucano, em referência aos representantes do regime que apontam participação dos EUA na articulação dos protestos.

"Assim como sempre fui contra as pressões armadas e econômicas feitas contra o regime cubano, sou contra sufocar manifestações do povo", disse ele em comunicado enviado por sua fundação na quinta. "A democracia exige respeito aos que protestam, mesmo quando se está em desacordo com o que desejam."

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo - Eduardo Knapp - 22.mar.17/Folhapress

Nesta sexta (16), Ciro Gomes (PDT), presidenciável e ex-governador do Ceará, também fez críticas ao regime cubano e condenou o bloqueio econômico imposto pelos EUA à ilha. "A política externa brasileira não pode ser condescendente com o desrespeito à soberania de Cuba, como é agora no governo Bolsonaro [citando o embargo americano], nem deve seguir o figurino da política exterior do PT [de apoio ao regime cubano]. É preciso coragem e isenção", afirmou Ciro, em um vídeo.

"Existem duas bombas-relógio armadas há muito tempo sobre esse povo valoroso. Uma é o bloqueio econômico, e a outra é a ditadura política. Desarmá-los é uma tarefa que envolve o povo cubano em sua autodeterminação, mas que merece também a atenção e a solidariedade internacionais", defendeu o presidenciável. "Cuba não é uma democracia. As liberdades, inclusive de debater, estão suprimidas."

No domingo (11), cubanos foram às ruas nas manifestações que já são consideradas as maiores em décadas na ilha. Entre outras demandas, pedem mais liberdade de expressão e políticas efetivas de combate à escassez de alimentos e remédios. A mobilização ganhou força após a crise ser intensificada pelos efeitos da pandemia de Covid. No ano passado, Cuba viu o PIB encolher 11%.

O regime reprimiu os atos e, ainda que as informações que chegam da ilha sejam difusas —há cortes na internet cubana—, a morte de um manifestante na periferia de Havana, a capital, foi confirmada. Ao menos cem pessoas foram detidas pela polícia, e, de acordo com o último balanço do Instituto Cubano para a Liberdade de Expressão e de Imprensa, 47 comunicadores sofreram algum tipo de repressão.

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Na terça (13), o ex-presidente Lula (PT) também se manifestou sobre as mobilizações, mas em posição oposta à de FHC. O petista usou as redes sociais para defender a legitimidade do regime cubano. "Você não viu nenhum soldado em Cuba com o joelho em cima do pescoço de um negro, matando ele", escreveu o ex-presidente, em referência ao assassinato de George Floyd, homem negro morto pela polícia americana em 2020, um episódio que gerou comoção global.

O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, comentou os atos na segunda (12) e usou o episódio para alimentar o discurso de que o comunismo ameaça o Brasil. "O dia de ontem foi um dia muito triste, dado o que aconteceu em Cuba. Muita gente acha que a gente nunca vai chegar lá, nunca vai chegar à [situação da] Venezuela, que a gente [nunca] vai ter problemas como estão tendo em outros países por aqui", afirmou. Também disse que os cubanos foram pedir alimentos e tiveram "borrachada, pancada e prisão".

O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, respondeu. Em uma rede social, disse que Bolsonaro, em vez de usar os atos na ilha para desviar a atenção dos problemas de sua gestão, deveria cuidar da atuação do governo no combate à pandemia e das acusações de corrupção que enfrenta.

Ainda que os atos na ilha tenham diminuído nos últimos dias, ativistas seguem com intensa mobilização nas redes sociais, usando a hashtag "SOSCuba". A cúpula do regime nega que os protestos tenham base social e acusa os EUA de articularem os protestos para fragilizar o país e fortalecer sua hegemonia.

Em entrevista à Folha, o cônsul-geral de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón, argumentou que a repressão aos atos foi cordial. "Não usamos balas de borracha ou canhões de água contra manifestantes, como em países da América Latina ou da Europa. Apenas prendemos gente que cometeu vandalismo, atacou policiais, como qualquer país faria", disse.

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