Afegãos que chegaram à Alemanha nesta quarta (18) descreveram cenas aterrorizantes no aeroporto de Cabul antes que fossem evacuados. Agora, temem pela vida de familiares que deixaram no país.
Pouco depois de pousarem em Frankfurt em um voo que partiu de Tashkent, no Uzbequistão, homens, mulheres e crianças lembraram a jornada dos poucos que foram retirados por membros da Otan (a aliança militar ocidental) depois de o país ser retomado pelo grupo radical Taleban com velocidade espantosa.
"Tivemos de forçar a passagem, e meu filho pequeno caiu. Ficamos assustados, mas conseguimos", disse uma mulher, em alemão. "Um americano então demonstrou boa vontade e percebeu que estávamos completamente exaustos. Ele pegou os passaportes e disse que precisava verificar se eram autênticos. Outros atrás de nós choravam e se deitaram no chão. Fiquei assustada."
Ela, o filho e o marido estavam no primeiro de vários voos organizados pela Alemanha para resgatar afegãos que correm risco diante dos insurgentes talebans, já que trabalharam para exércitos da Otan ou para organizações financiadas pelo Ocidente.
Uma mulher enxugava as lágrimas, outra falava no celular, e homens soluçavam enquanto abraçavam parentes e amigos alemães que foram recebê-los. Nenhum dos poucos que falaram com os repórteres mencionou nomes ou o que faziam no Afeganistão por medo de retaliação a parentes.
"Todo mundo quer sair", disse o marido da mulher, também em alemão e carregando o filho. "Cada dia é pior que o anterior. Nós nos salvamos, mas não conseguimos resgatar nossas famílias."
A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, afirmou em reunião do Partido Democrata Cristão na segunda (16) que o país pode ter de conceder asilo a cerca de 10 mil afegãos que trabalharam com o exército alemão e agências de desenvolvimento, assim como ativistas de direitos humanos e advogados.
Legendas de oposição na Alemanha criticaram o governo por não ter previsto a queda de Cabul e pelo que, segundo eles, é uma aventura militar fracassada desde 2001 e que custou bilhões de euros e a vida de 59 soldados do país. O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) pediu que o governo institua uma moratória a pedidos de asilo e cuide de civis afegãos em países vizinhos como o Paquistão.
No aeroporto de Frankfurt, um jovem afegão com jaqueta vermelha e branca falou sobre a felicidade por estar na Alemanha. "A ansiedade era enorme, porque toda a minha família ainda está lá", disse ele. "Não foi fácil deixá-los para trás e vir para cá. Uma parte de mim continua lá. Estou muito emocionado, mas fora isso estou bem, graças a Deus." Uma menina ao lado de seus pais disse em alemão: "Quando os soldados abriram fogo não foi bom, porque todo mundo ficou com medo e começou a gritar".
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