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EUA fazem novo ataque aéreo no Afeganistão e admitem que podem ter atingido civis

Ação contra homens-bomba mirou 'atentado iminente'; testemunhas falam em 8 ou 9 civis mortos

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Washington | Reuters

A menos de dois dias do prazo final para a retirada americana do Afeganistão, os Estados Unidos realizaram um novo ataque militar com drones neste domingo (29) em Cabul.

A ação foi executada horas depois de o presidente Joe Biden prometer novos ataques contra a célula afegã do Estado Islâmico —o democrata havia alertado para a situação "extremamente perigosa" no país asiático, de onde os EUA saem após 20 anos de guerra.

Militar americana revista mulher que tenta deixar o Afeganistão pelo aeroporto de Cabul
Militar americana revista mulher que tenta deixar o Afeganistão pelo aeroporto de Cabul - Victor Mancilla - 28.ago.21/via Reuters

Segundo um funcionário do Departamento de Defesa, que falou sob condição de anonimato, os drones explodiram um veículo que transportava homens-bomba. Em comunicado, o porta-voz do Comando Central, o capitão Bill Urban, afirmou que os militares estão cientes de relatos de vítimas civis, sem especificar quantidade nem se ficaram feridas ou foram mortas. “Ficaríamos muito tristes por qualquer possível perda de vidas inocentes.”

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, já havia dito mais cedo que a operação havia atingido civis. “Estamos investigando a razão para o ataque aéreo e o número exato de vítimas”, afirmou.

Relatos de testemunhas à emissora americana CNN e ao jornal The Washington Post falavam em oito ou nove vítimas civis, incluindo crianças, todas da mesma família. A CNN ouviu uma pessoa em condição de anonimato que disse que seu irmão estava entre os mortos. Já o Washington Post entrevistou por telefone uma testemunha anônima que também identificou as vítimas como sendo familiares.

Segundo Urban, o ataque aéreo não tripulado conduzido pelas Forças Armadas americanas atingiu um veículo em Cabul, eliminando uma ameaça iminente do Estado Islâmico Khorasan contra o aeroporto. “Estamos confiantes que atingimos o alvo com sucesso. Explosões secundárias significativas do veículo indicaram a presença de quantidade substancial de material explosivo.”

Os primeiros relatos sobre a ação deste domingo vieram de jornalistas da agência de notícias AFP, que relataram ter ouvido uma explosão à tarde (no horário local) perto do aeroporto de Cabul —palco do atentado que deixou mais de 180 mortos, incluindo 13 soldados americanos, na quinta-feira (26). O Estado Islâmico reivindicou a autoria desse crime.

O aeroporto é a porta de saída para civis estrangeiros e afegãos que tentam deixar o país depois da tomada do poder pelo grupo fundamentalista Talibã, há duas semanas.

Na noite deste sábado (28), a embaixada dos EUA em Cabul emitiu o terceiro alerta da semana para que americanos deixassem imediatamente a área do aeroporto e evitassem ir até o local devido a uma “ameaça específica e crível”.

Mais cedo no sábado, o presidente dos EUA, Joe Biden, havia alertado sobre novas ameaças. “Nossos comandantes me informaram que é muito provável [que haja] um ataque nas próximas 24 horas a 36 horas. Eu determinei que tomem toda medida possível para priorizar a proteção das forças.”

A ação deste domingo foi a segunda reação militar americana ao ataque suicida promovido pelo Estado Islâmico no aeroporto de Cabul. A primeira foi na noite de sexta-feira (27), madrugada de sábado no horário local, quando os Estados Unidos mataram dois membros do grupo terrorista em um ataque com drones na província de Nangahar, perto da fronteira com o Paquistão.

Os revides americanos —que, segundo o Departamento de Defesa, tentam neutralizar novos ataques suicidas na capital afegã— acontecem enquanto as Forças Armadas do país tentam concluir a operação de saída antes da próxima terça (31), prazo final estabelecido pelo presidente Biden.

Nas últimas horas, os militares têm diminuído o ritmo de checagem e embarque de passageiros civis para se concentrar na operação de levar de volta para casa suas próprias tropas.

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Na manhã deste domingo, de acordo com relato do New York Times, alunos da Universidade Americana do Afeganistão, inaugurada em 2006 em Cabul, embarcaram em vários ônibus em direção ao aeroporto, mas tiveram o acesso negado, o que deixou no país centenas de estudantes, professores e funcionários, um dos mais vocais grupos de defensores de direitos humanos, direitos das mulheres, liberdade de expressão e democracia —e, portanto, alvos importantes do novo governo nas mãos do Talibã.

Cerca de 117 mil pessoas já deixaram o país, entre americanos, aliados e afegãos, segundo balanço divulgado por Biden.

Neste domingo, o presidente americano e a primeira-dama, Jill, foram à base militar de Delaware e se encontraram com as famílias dos militares americanos que morreram no atentado de quinta-feira.

Eles acompanharam a chegada dos corpos de 11 soldados, em caixões cobertos por bandeiras dos Estados Unidos. Durante a cerimônia, uma mulher desmaiou e foi retirada do local de ambulância.

Os corpos de mais dois militares serão transferidos em outro evento privado, a pedido dos familiares.

Nenhum dos mortos tinha mais de 31 anos, e cinco tinham 20 —assim como a própria guerra.

Também neste domingo o Reino Unido anunciou ter retirado do Afeganistão seus últimos soldados e funcionários, incluindo o embaixador Laurie Bristow.

Em um vídeo publicado em uma rede social, gravado já em solo britânico, Bristow disse que a embaixada será temporariamente transferida para o Qatar e que Londres vai pressionar o Talibã para permitir a saída dos que ainda não puderam ser retirados do Afeganistão.

"Vamos continuar a apoiar o povo afegão. Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para dar ao povo afegão o futuro que eles merecem", afirmou.

Não está claro quantos cidadãos britânicos e afegãos com permissão para viajar ao Reino Unido ainda continuam no país asiático.

"Faremos tudo o que pudermos para proteger os ganhos dos últimos 20 anos", disse o embaixador.

Também no Twitter, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, elogiou os esforços para retirar mais de 15 mil pessoas, entre britânicos e afegãos, em menos de duas semanas em condições adversas.

"Eles usaram toda a paciência e cuidado que tinham para ajudar pessoas que temem por suas vidas."

Com The New York Times

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