Descrição de chapéu terrorismo

Taleban captura última grande cidade do norte afegão, e presidente fala em remobilizar tropas

Importante centro comercial, Mazar-i-Sharif foi tomada pelos insurgentes com pouca resistência

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Guarulhos

Em sua forte e veloz ofensiva para tomar o poder no Afeganistão, o grupo fundamentalista islâmico Taleban conquistou neste sábado (14) Mazar-i-Sharif, capital da província de Balkh, no norte do país.

Com mais esse movimento, os insurgentes agora controlam as regiões sul, oeste e norte —praticamente cercando Cabul.

Das principais cidades, apenas a capital e Jalalabad ainda continuam sob controle do governo do presidente Ashraf Ghani, que deu uma declaração pública dizendo que vai remobilizar as tropas.

Importante centro comercial do país, Mazar-i-Sharif tornou-se uma das cidades mais estáveis desde a invasão americana em 2001 e vinha servindo de retaguarda para as forças nacionais.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, durante pronunciamento televisionado neste sábado (14) - Reuters

Um político local confirmou a queda da cidade à agência de notícias Reuters e disse que os militares que defendiam a área fugiram. Aparentemente, os talebans encontraram pouca resistência, apesar de ainda haver algumas batalhas nos arredores.

"Eles estão desfilando seus veículos e motocicletas, atirando para o alto para comemorar", disse à agência France Presse Atiqullah Ghayor, morador da cidade, acrescentando que as forças afegãs se retiraram da cidade.

Mais cedo, Ashraf Ghani fez uma rara declaração pública televisionada. Sob suspeita de que poderia renunciar, o presidente disse que está conversando com lideranças afegãs e internacionais e que tem como prioridade remobilizar as tropas do país. Sugeriu ainda que não participaria de eleições em um cenário no qual o Taleban concordasse em realizá-las.

"Como seu presidente, meu foco é impedir mais instabilidade, violência e deslocamento do meu povo", disse Ghani. A retomada do Taleban, 20 anos após deixar o poder, reacendeu uma crise migratória na região.

Até o momento, o grupo já tomou 24 das 34 capitais provinciais do país enquanto avança em direção a Cabul, a capital nacional.

​Analistas internacionais projetam que, nesse cenário, o Taleban pode estar no controle de todo o território em menos de um mês.

Neste sábado, o Qatar, que abriga um escritório político do Taleban, enviou um pedido de cessar-fogo ao grupo fundamentalista. Por meses, Doha facilitou reuniões entre os insurgentes e o governo afegão, com poucos sinais de progresso. Esse foi o pedido mais claro já feito pelo país.

Na quarta (11), o presidente afegão viajou para Mozar-i-Salam, hoje tomada, na tentativa de juntar forças pró-governo. Na quinta (12), de acordo com informações do New York Times, conversou por telefone com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e com o secretário de Defesa, Lloyd Austin.

A atuação do mandatário tem recebido críticas, inclusive de ex-aliados, que o veem em uma postura isolada. "Ele se recusa a admitir a realidade. As notícias relatam uma coisa, mas isso chega para ele com um filtro", disse Torek Farhadi, ex-conselheiro de Ghani.

"Ele está isolado, confuso e profundamente reticente com todos", afirmou Tamim Asey, um ex-vice-ministro de Defesa.

O avanço do Taleban faz também crescer o temor na comunidade internacional. O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, afirmou nesta sexta (13) que a ONU está avaliando a situação do país a cada hora e que enviou uma equipe para Cabul, além de ainda não ter evacuado seu contingente.

Guterres disse estar consternado com o avanço do grupo fundamentalista e com as denúncias de violações de direitos humanos que as Nações Unidas têm recebido —que, segundo relatos, seriam principalmente ameaças a mulheres e a jornalistas.

"A mensagem da comunidade internacional para aqueles em pé de guerra deve ser clara: tomar o poder por meio de força militar é uma proposta perdida", disse a repórteres. "Isso pode apenas levar a uma prolongada guerra civil ou a um completo isolamento do Afeganistão", completou.

Com Reuters e AFP

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