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Explosões matam 3 pessoas e deixam 20 feridos no Afeganistão

Primeiros ataques desde que EUA deixaram país ocorrem em meio a volta às aulas

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Cabul e Islamabad | Reuters e AFP

Nos primeiros ataques desde que os EUA concluíram a retirada do Afeganistão, ao menos três pessoas morreram e cerca de 20 ficaram feridas em uma série de explosões na cidade de Jalalabad, no leste do Afeganistão, neste sábado (18), segundo relatos de pessoas na cidade.

As mortes ocorreram durante cinco explosões, de acordo com essas pessoas, que disseram ter recebido informações de hospitais e testemunhas. Um talibã afirmou à AFP que, em pelo menos um dos ataques, o alvo era um veículo do grupo extremista que assumiu o poder, e, de acordo com um dos relatos, combatentes estavam entre as vítimas. O membro da organização relatou ainda que entre os feridos há mulheres e crianças.

Membros do Talibã monitoram região próxima a um dos ataques em Jalalabad, no Afeganistão
Membros do Talibã monitoram região próxima a um dos ataques em Jalalabad, no Afeganistão - AFP

Fotos do local de uma das explosões mostram um veículo verde da polícia com a bandeira do Talibã, que teve seu capô deformado e estava quase em posição vertical, em meio aos escombros. Os ataques ainda não foram reivindicados. Capital da província de Nangarhar, Jalalabad é um reduto do grupo Estado Islâmico, ativo desde que o Talibã voltou ao poder no mês passado.

A filial afegã da organização terrorista, o EI Khorasan, atacou o aeroporto de Cabul, por onde as forças ocidentais faziam as operações de resgate. A ação deixou quase 200 mortos, incluindo 13 soldados dos EUA.

Em reação, os americanos fizeram dois ataques: um no dia 27, na província de Nangarhar, alegadamente matando um membro do EI; e outro, no dia 29, quando 10 civis morreram, incluindo 7 crianças. Desde o início, porém, este segundo ataque levantou dúvidas, com indícios de que as vítimas não tinham qualquer envolvimento com o grupo terrorista.

Nesta sexta, o Departamento de Defesa americano reconheceu que a ação foi um "erro". Para os afegãos, no entanto, é preciso mais. "Eles têm que vir aqui e se desculpar pessoalmente", disse à AFP Farshad Haidari, 22, sobrinho de Ezmarai Ahmadi e cujo irmão e alguns primos morreram no ataque. Ele afirmou que os Estados Unidos não entraram em contato com sua família.

O irmão do motorista, Aimal Ahmadi, cuja filha de 3 anos também morreu, reconheceu o gesto americano, mas considerou a atitude insuficiente. "Nossa inocência foi provada, mas agora pedimos justiça e queremos ser indenizados."

Desde que as tropas estrangeiras saíram do país, porém, não houve grandes atos violentos no Afeganistão. Paralelamente, os talibãs prometeram levar a paz e a estabilidade de volta após 40 anos de guerras, crises e turbulências políticas.

Além disso, o grupo extremista garantiu um governo moderado, o que tem sido colocado em xeque após repressão a protestos de mulheres, ataques contra jornalistas e dúvidas sobre a presença de meninas nas escolas —que, segundo a organização, poderiam estudar, mas sempre usando ao menos um hijab, véu que cobre os cabelos e os ombros.

Neste sábado, escolas reabriram suas portas para o ensino primário (6 a 11 anos). Conforme o Talibã já havia anunciado, as turmas foram segregadas. Nazife, uma professora em uma escola particular em Cabul que tinha salas mistas antes da volta do grupo extremista, relatou que as manhãs foram destinadas às meninas —que possuem apenas professoras mulheres— e as tardes, aos meninos —que, por sua vez, são ensinados somente por homens.

Há dúvidas ainda, no entanto, sobre o retorno do ensino secundário (12 a 18 anos). Nesta sexta, o ministro da Educação disse que as escolas para meninos nessa faixa etária reabririam em breve, sem citar o ensino para meninas.

Já neste sábado, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, garantiu à agência de notícias local Bakhtar que providências estavam sendo tomadas para a reabertura de escolas secundárias para meninas, também sem especificar uma data.

“A moral está baixa e elas estão esperando por anúncios do governo para poder voltar a estudar”, relatou Hadis Rezaei, que dá aulas para meninas no ensino secundário na mesma escola de Nazife. Para o diretor da instituição, Mohammadreza, educar meninas é consertar uma geração. “A educação de meninos pode impactar uma família, mas a de meninas impacta a sociedade.”

A agência da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reagiu e pediu neste sábado a reabertura das escolas para as meninas, alertando que o fechamento tem "consequências irreversíveis" para metade da população do país.

A diretora da organização, Audrey Azoulay, considera que "o futuro do Afeganistão depende da educação das meninas e dos meninos" e que "é igualmente importante que todas as professoras possam retornar ao colégio para ensinar, fornecendo um encontro de aprendizagem seguro e inclusivo".

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