Em visita à Eslováquia, o papa Francisco criticou, nesta segunda (13), o individualismo e o egoísmo da sociedade, deixando claro o apoio da Igreja Católica à acolhida de imigrantes em países europeus. Mensagem semelhante já havia sido expressa no domingo (12), quando o pontífice foi a Budapeste, capital da Hungria.
O papa também fez um apelo aos líderes para que transformem um pacote trilionário elaborado pela União Europeia para a retomada da economia do bloco pós-pandemia numa oportunidade de intensificar a distribuição de renda no continente.
“Nessas terras, até poucas décadas atrás, um único sistema de pensamento [comunismo] sufocava a liberdade. Hoje, outro sistema de pensamento único está esvaziando a liberdade de significado, reduzindo o progresso ao lucro e os direitos apenas às necessidades individuais”, disse.
A Eslováquia —onde 65% da população se diz católica— era parte da Tchecoslováquia durante a era comunista, mas tornou-se independente em 1993, quando o regime já havia caído.
Desde então, a economia eslovaca, como a de outros países do leste europeu, cresceu, mas a integração dessas nações à União Europeia coincidiu com uma reação nacionalista contra o aumento da imigração ilegal, muitas vezes envolvendo muçulmanos do Oriente Médio e de países como o Afeganistão.
Francisco se referiu à história local como uma "mensagem de paz", destacando o nascimento "sem conflitos" de dois países independentes há 28 anos: a República Tcheca e a Eslováquia.
"Que este país reafirme sua mensagem de integração e de paz, e que a Europa se distinga por uma solidariedade que, atravessando as fronteiras, possa levá-la de volta ao centro da história", pediu.
Dirigindo-se à presidente eslovaca, Zuzana Caputova, a autoridades e diplomatas no jardim do palácio presidencial, na capital Bratislava, o papa acrescentou: "Esta [fraternidade] é urgente agora, num momento em que, depois de meses muito duros de pandemia, apresenta-se, junto com muitas dificuldades, uma esperada reativação econômica, favorecida pelos planos de recuperação da União Europeia".
Em novembro de 2020, o papa publicou a encíclica "Fratelli tutti" (todos irmãos, em italiano). Nela, clama por um mundo mais solidário com os mais fracos para romper o "dogma neoliberal".
Nesta segunda, Francisco reiterou que, em um mundo totalmente interconectado, "ninguém pode se isolar, seja como indivíduo, seja como nação", o que é, no seu entender, a grande lição da pandemia.
No início do ano, a Eslováquia registrou uma das mais elevadas taxas mundiais de contágio e de letalidade por habitante em razão do coronavírus. Desde o início da pandemia, o pequeno país de 5,4 milhões de habitantes acumula mais de 12 mil mortes.
Francisco também expressou o que chamou de vergonha pela matança de judeus eslovacos e lamentou que o nome de Deus tenha sido usado "na loucura do ódio" durante a Segunda Guerra Mundial.
Em um discurso à pequena comunidade judaica do país, num lugar onde antes havia uma sinagoga destruída pelo comunismo, Francisco condenou todas as formas de antissemitismo. "Aqui, ante a história do povo judeu, marcada por essa trágica e indescritível afronta, nos envergonhamos em admitir: quantas vezes o nome inefável do Altíssimo foi usado para realizar ações que, por sua falta de humanidade, são indizíveis. Quantos opressores disseram: 'Deus está conosco', mas eram eles que não estavam com Deus."
Após a criação em 1939 da primeira República Eslovaca, país-satélite totalitário da Alemanha nazista, várias leis antissemitas foram usadas para deportar dezenas de milhares de judeus eslovacos. Hoje, a comunidade conta apenas com cerca de 2.000 membros; menos de 300 sobreviventes da guerra permanecem no país.
Hungria
No domingo, o papa iniciou, em Budapeste, sua primeira viagem desde que foi submetido a uma cirurgia intestinal, em julho.
A Hungria é governada, desde 2010, pelo premiê Viktor Orban, acusado por críticos e por parte da comunidade europeia de autoritarismo. Ele toca uma política anti-imigração e já chamou os refugiados da guerra civil síria de "invasores muçulmanos".
Em uma aparente resposta a Orban, o papa, durante uma missa no domingo, referiu-se à Hungria como uma nação "apegada às suas raízes" e que deveria ser aberta a todos.
“A cruz, conectada ao chão, não só nos convida a estar enraizados, mas também estende seus braços a todos”, disse. "Meu desejo é que vocês sejam assim: ancorados e abertos, enraizados e respeitosos."
Por outro lado, segundo a imprensa húngara, durante o encontro entre os dois líderes, o primeiro-ministro, em um ato simbólico, entregou a Francisco uma cópia de uma carta enviada por um rei húngaro no século 13 ao papa da época em que pedia que a igreja enviasse ajuda para conter uma invasão mongol.
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