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Ativistas desafiam proibição de Cuba e mantêm protestos marcados para novembro

Coletivos pedem liberação de presos políticos, e regime alega vínculo com os EUA para vetar atos

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Buenos Aires

O coletivo de artistas e ativistas Archipiélago, liderado pelo dramaturgo Yunior García, afirmou na terça-feira (12) que, mesmo com a proibição da ditadura cubana, a convocatória para uma marcha pacífica "frente ao autoritarismo" marcada para o dia 15 de novembro ainda está de pé.

O Archipiélago é um dos vários grupos de defesa de direitos humanos que tiveram integrantes presos nas manifestações de 11 de julho, que ocorreram em mais de 50 cidades e deixaram um morto, além de mais de 800 detidos —240 dos quais continuam presos, de acordo com o Observatório Cubano de Direitos Humanos.

Rua de Havana, capital de Cuba, um dia após a onda de protestos na ilha
Rua de Havana, capital de Cuba, um dia após a onda de protestos na ilha - Yamil Lage - 12.ju.21/AFP

Esses coletivos estão hoje reunidos no Conselho para a Transição Democrática em Cuba (CTDC), que inclui entidades de Havana e de municípios do interior. Um dos líderes do grupo, Dariem Columbié, foi preso na semana passada, depois de ser agredido na rua pela polícia, enquanto questionava a prefeitura da capital sobre a negativa ao pedido para realizar a marcha.

O organizador do protesto na cidade de Holguín, o médico Manuel Guerra, também acabou detido ao apresentar a lista de assinaturas de apoio ao ato contrário ao governo. Desde então, permanece em greve de fome.

A data inicial das manifestações era 20 de novembro, mas, em resposta, o regime cubano anunciou que realizaria manobras militares no mesmo dia. Os ativistas então adiantaram em cinco dias a programação, mas Miguel Díaz-Canel, líder da ilha, negou a autorização para os atos por meio de um texto publicado na página oficial do governo.

No comunicado, alega que os promotores do evento "têm laços com os EUA e uma intenção manifesta de promover uma mudança de sistema político em Cuba" e afirma não reconhecer a legitimidade das razões apresentadas para a marcha. Díaz-Canel voltou a convocar "o direito de combater por todos os meios qualquer um que tente derrubar a ordem política, social e econômica estabelecida".

A onda de protestos que tomou Cuba em julho pegou o governo de surpresa. Em reação, nos meses seguintes houve detenções em massa de pessoas que organizaram ou participaram das manifestações.

Por meio das redes sociais, o Archipiélago afirmou que o episódio "demonstra uma vez mais que não existe Estado de Direito em Cuba", que o regime "não está disposto a respeitar nem sequer sua própria Constituição e que, assim, viola os direitos humanos".

Em entrevista a uma rádio García, dramaturgo que lidera o coletivo, disse que a resposta oficial "demonstra que não há nem sequer um espaço cívico mínimo de legalidade para que os cubanos expressem suas propostas para o país" e negou laços com os EUA.

A convocatória para a marcha havia sido lançada nas redes sociais em setembro e vinha ganhando adeptos. Estão previstos atos, de acordo com a programação, em Havana, Holguín, Cienfuegos, Pinar del Río, Las Tunas, Santa Clara e Guantánamo. A chamada cita o artigo 56 da Constituição cubana de 2019, que reconhece o direito de reunião e manifestação associadas a fins lícitos e pacíficos.

A ideia é aproveitar, também, a retomada do turismo depois de um ano e meio de suspensão devido às restrições impostas contra a pandemia. A atividade, principal fonte de renda da ilha, responde por 22% do PIB do país, segundo o Banco Mundial.

Em julho, os atos foram marcados por palavras de ordem como "liberdade" e "abaixo a ditadura", consideradas uma forma de parte da população expressar frustração por meses de crise, restrições devido à Covid e o que era visto como negligência do regime. A polícia tentou reprimir os atos em Havana lançando spray de pimenta e batendo com cassetete em manifestantes, mas não conseguiu parar a multidão, que também abafava opositores que tentavam rebater gritando "Fidel!".

As manifestações haviam começado no povoado de San Antonio de los Baños, pequeno município rural da província de Artemisa, vizinha de Havana, com cerca de 50 mil habitantes, e se espalharam.

Passados quase três meses, além de ainda buscarem expressar descontentamento contra o regime, os ativistas querem a libertação das centenas de presos políticos do regime. Entre eles estão José Daniel Ferrer e Luis Manuel Otero Alcántara, integrantes do Movimento San Isidro, coletivo de artistas que realiza atos contra a censura na ilha.

Otero está em greve de fome há dez dias e contraiu coronavírus na prisão. Entre os nomes conhecidos que estão presos há também o rapper Maykel Osorbo.

Muitos artistas e ativistas famosos em Cuba e que participaram dos atos buscaram refúgio no exterior, como o artista plástico Hamlet Lavastida, que partiu para a Europa depois de quase três meses preso, e Tania Bruguera, hoje radicada em Nova York.

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