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Ministro de Chávez que se tornou dissidente morre de Covid na prisão na Venezuela

Raúl Baduel comandou Exército e foi ministro da Defesa, mas rompeu com governo em 2007

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Caracas | AFP

O general Raúl Baduel, considerado um dos presos políticos mais emblemáticos da Venezuela por ter sido ministro da Defesa de Hugo Chávez, morreu vítima de Covid-19 na prisão aos 66 anos, informou nesta terça-feira (12) o procurador-geral do país.

"Lamentamos o falecimento de Raúl Isaías Baduel de parada cardiorrespiratória, decorrente da Covid-19", escreveu Tarek Saab no Twitter. O militar havia recebido apenas uma dose da vacina contra a Covid-19, seguno o procurador.

O então presidente venezuelano Hugo Chávez conversa com o ministro da Defesa, Radul Baduel, que depois se tornaria opositor do regime - Juan Barreto/AFP

Aliado de Chávez desde 1982, o general o ajudou a recuperar o poder depois do golpe de Estado de abril de 2002, que o tirou brevemente do cargo. Baduel foi comandante do Exército venezuelano de 2004 a 2006 e ministro da Defesa de 2006 a 2007.

Baduel, porém, rompeu com Chávez depois de discordar do projeto de reforma constitucional que previa a reeleição indefinida apenas para presidente, o que o militar chamou de golpe.

Considerado traidor pelo governo, foi preso em 2009 acusado de desviar dinheiro das Forças Armadas venezuelanas e de não obedecer a intimações para depor. Ele deixou a prisão em 2015, mas voltou a ser detido sob acusação de conspirar contra o atual ditador, Nicolás Maduro.

"Com a morte de Raúl Isaías Baduel já são dez os presos políticos mortos sob custódia", disse o advogado Gonzalo Himiob, da ONG Fórum Penal, dedicada a defender presos políticos. Segundo o órgão, há 259 presos políticos no país, 126 dos quais são militares.

"A responsabilidade sobre a vida e a saúde de qualquer detido recai sobre o Estado. Exige-se continuamente tratamento médico para os presos. Quase nunca há uma resposta adequada", escreveu no Twitter.

Nesta quarta (13), a ONU exigiu uma investigação independente sobre o caso. "Lamentamos profundamente a morte na prisão de Raúl Baduel. Pedimos à Venezuela que garanta uma investigação independente", disse em nota o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

O órgão ainda pediu a Caracas que conceda atendimento médico para todos os detidos e "que considere medidas alternativas à detenção e liberte aqueles que estão presos de forma arbitrária".

A ditadura venezuelana condenou a declaração em um comunicado da chancelaria, dizendo que o país não tem pessoas detidas arbitrariamente. "Todas e cada uma das pessoas privadas de liberdade estão sujeitas a processos penais conduzidos pelos órgãos do sistema de justiça, com todas as garantias", diz o texto.

Dois dos filhos de Baduel também foram detidos sob acusações de conspiração: Raúl Emilio, que agora está em liberdade; e Josnars Adolfo, preso por suposta participação em uma incursão marítima em maio de 2019 para derrubar Maduro —ele continua detido.

A família do general, que chegou a fazer parte do círculo mais próximo de Chávez, denunciou várias vezes as dificuldades de visitá-lo na prisão. Parentes disseram recentemente que ele estava junto de seu filho Josnars em um presídio do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional, onde há uma série de denúncias de violações de direitos humanos.

O líder opositor Juan Guaidó acusou o governo pela morte. "Sequestram-no, torturaram-no e negaram-no atenção médica. Depois de 12 anos de sofrimento brutal, Baduel é o décimo preso político que nas mãos do regime. Hoje mais de 250 venezuelanos continuam em risco como reféns da ditadura", escreveu no Twitter.

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