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China nega teste de míssil hipersônico e diz que lançou veículo espacial

Diplomacia de Pequim refuta reportagem do Financial Times sobre suposto exercício que teria surpreendido EUA

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Pequim e Genebra | Reuters

A China negou, nesta segunda-feira (18), que tenha realizado o teste de um míssil hipersônico com capacidade nuclear, conforme relatado pelo jornal britânico Financial Times. De acordo com a diplomacia de Pequim, o que foi lançado era um veículo espacial, não um míssil.

Segundo a reportagem publicada no sábado (16), que tem como fontes cinco pessoas familiarizadas com o assunto, a China testou em agosto um míssil hipersônico que circulou a Terra antes de acelerar em direção a seu alvo, demonstrando capacidade militar que teria pegado de surpresa a inteligência dos EUA.

Esse tipo de armamento voa a cinco vezes a velocidade do som e é manobrável, o que o torna mais difícil de rastrear. "Não era um míssil, era um veículo espacial", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian. Durante entrevista coletiva em Pequim, ele disse que o que ocorreu foi um "teste de rotina" com o propósito de avaliar formas de reutilizar o veículo.

O lançador de foguetes Longa Marcha decola do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no deserto de Gobi, no noroeste da China - 16.out.21/AFP

Segundo Zhao, o teste de reutilização é importante porque pode "fornecer um método barato e conveniente para humanos viajarem pacificamente do e para o espaço". Ainda de acordo com o porta-voz, esse teste ocorreu em julho, não em agosto, como noticiou o Financial Times.

O jornal britânico disse ter procurado a embaixada chinesa, que não quis comentar o teste antes da publicação da reportagem. Um porta-voz, no entanto, disse que a China sempre adotou uma política militar de "natureza defensiva" e que seu desenvolvimento militar não tem como alvo nenhum país.

"Em contraste, os EUA nos últimos anos inventaram desculpas como 'a ameaça chinesa' para justificar sua expansão bélica e o desenvolvimento de armas hipersônicas", afirmou Liu Pengyu. "Isso intensificou a corrida armamentista nessa categoria e minou gravemente a estabilidade estratégica global."

Os Estados Unidos, por meio de Robert Wood, embaixador para a Conferência de Desarmamento em Genebra, na Suíça, afirmaram nesta segunda-feira que o país está preocupado com o teste do possível míssil e o potencial uso da tecnologia para fins militares. "Não sabemos como podemos nos defender desse tipo de tecnologia —e nem China ou Rússia sabem", disse Wood, em referência à dificuldade dos sistemas de defesa para rastrear armamentos do tipo, que podem manobrar e escapar dos escudos.

Nesta segunda, a Casa Branca afirmou que os EUA deixaram claro sua preocupação sobre os desenvolvimentos militares da China, mas a secretária de Imprensa do governo americano, Jen Psaki, disse a repórteres que não iria comentar o lançamento reportado pelo Financial Times.​

Neste domingo (17), o jornal Global Times, alinhado ao Partido Comunista Chinês e conhecido pelo tom frequentemente belicista, publicou um editorial no qual afirma que a China está "diminuindo a lacuna em relação aos EUA em algumas tecnologias militares importantes".

O texto também nega que Pequim esteja em uma disputa de aprimoramento bélico com Washington. "A China não precisa se envolver em uma 'corrida armamentista' com os EUA —ela é capaz de enfraquecer as vantagens gerais dos EUA sobre a China ao desenvolver o poder militar em seu próprio ritmo."

O jornal associado à linha dura do regime ressalta ainda a superioridade de Pequim em áreas sensíveis como o estreito de Taiwan e o mar do Sul da China e acusa os EUA de espalhar rumores sobre supostas estratégias nucleares chinesas como possíveis justificativas para o aumento de gastos militares.

"Washington precisa ser realista e repensar sua abordagem em relação à China", afirma o editorial, antes de sugerir que os países precisam reconstruir a confiança mútua. "Não podem as grandes potências com sistemas políticos diferentes cooperar para alcançar um resultado em que os dois lados ganham?".

Na esteira do suposto teste do míssil hipersônico chinês, os EUA anunciaram, também neste domingo, a realização de um exercício militar junto ao Canadá no estreito de Taiwan na última semana.

Segundo Washington, um contratorpedeiro de mísseis guiados americano e uma fragata canadense passaram pela região entre a China continental e a ilha de Taiwan entre quinta (14) e sexta-feira (15).

O anúncio, como esperado, voltou a elevar as tensões com Pequim, que mantém a posição de reanexar Taiwan. Para o regime, a ilha é uma província rebelde. Na prática, porém, tem autonomia administrativa.

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