Descrição de chapéu Ásia Brics

EUA dizem pela 1ª vez que China testou armas hipersônicas e citam 'momento Sputnik'

General Mark Milley comparou experimento chinês a satélite que colocou URSS à frente dos EUA na corrida espacial

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington | Reuters

Os Estados Unidos confirmaram nesta quarta-feira (27), de forma oficial pela primeira vez, que a China fez testes recentes com armas hipersônicas. O movimento foi considerado um avanço importante da capacidade militar dos asiáticos, sobretudo para escapar de sistemas de defesa americanos.

Os testes, realizados em julho e em agosto, foram relatados primeiro pelo jornal britânico Financial Times, mas são negados pelos chineses, que sustentam terem lançado um veículo espacial, não um míssil.

O Pentágono também vinha se esforçando para evitar uma confirmação clara do teste. O general Mark Milley, chefe do Estado-Maior dos EUA, porém, comentou o episódio em entrevista ao canal Bloomberg.

O lançador de foguetes Longa Marcha decola do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no deserto de Gobi, no noroeste da China - Liu Lei - 16.out.21/Xinhua

A maior autoridade militar americana afirmou que o teste coloca a China "muito próxima" de um "momento Sputnik". Milley fez referência ao lançamento pela então União Soviética, em 1957, do primeiro satélite artificial, que colocou Moscou à frente da corrida espacial na Guerra Fria. "O que vimos foi um evento muito significativo de um teste de um sistema de armas hipersônicas. E é muito preocupante", disse.

Especialistas afirmam que o míssil parece ter sido projetado para escapar das defesas dos EUA de duas maneiras. Primeiro, os hipersônicos se movem a velocidades cinco vezes superiores à velocidade do som, ou cerca de 6.200 km/h, tornando-os mais difíceis de detectar e interceptar. Além disso, são manobráveis.

Pessoas inteiradas do assunto disseram à agência de notícias Reuters que os EUA também afirmam acreditar que o teste da China envolveu uma arma que primeiro orbitou a Terra, o que na Guerra Fria era conhecido como "bombardeio orbital fracionado", de acordo com especialistas militares.

"É uma forma de evitar defesas e sistemas de alerta de mísseis", disse no mês passado o secretário da Força Aérea, Frank Kendall, ao explicar que nesse sistema a arma entra em órbita antes de atingir um alvo. No modelo tradicional conhecido como ICBM, o míssil vai do ponto de lançamento ao de impacto.

O bombardeio orbital fracionado funcionaria para que a China evitasse as defesas antimísseis que os EUA têm no Alasca, projetadas para barrar um número limitado de armas de um país como a Coreia do Norte.

"A maneira mais simples de pensar sobre o sistema de bombardeio orbital chinês é imaginar um ônibus espacial, colocar uma arma nuclear no compartimento de carga e esquecer o trem de pouso", disse Jeffrey Lewis, do Instituto de Estudos Internacionais de Middlebury.

Segundo ele, a diferença é que o sistema chinês de reentrada na órbita é um planador.

Ao Financial Times três pessoas informadas sobre o teste em julho disseram que ele surpreendeu o Pentágono e a inteligência americana porque a China demonstrou uma nova capacidade de armamentos.

Uma das fontes disse que cientistas do governo estão se esforçando para compreender essa capacidade, que os EUA não possuem hoje, e acrescentaram que a conquista chinesa parece "desafiar leis da física".

O sistema antimíssil dos EUA não é capaz de combater um ataque em grande escala da China ou da Rússia, e a busca aberta dos americanos por defesas mais avançadas levou Moscou e Pequim a procurar armamentos mais eficazes, dizem especialistas, incluindo as armas hipersônicas e, aparentemente, o bombardeio orbital fracionário.

Ao jornal americano The New York Times o embaixador Robert Wood, que representa os EUA nas seções de controle de armas na ONU, em Genebra, afirmou que há dúvidas generalizadas sobre como se defender desse tipo de armamento.

"Nós simplesmente não sabemos como podemos nos defender contra essa tecnologia, nem a China nem a Rússia sabem", disse ele, que expressou preocupação com uma nova corrida armamentista.

Essa corrida, que também envolve países como a Coreia do Norte, tem levado ao desejo de autoridades de defesa americanas a pressionar por mais recursos para o programa de armas hipersônicas do país —que já estava atrás da Rússia e, agora, aparentemente, dos chineses também.

Na semana passada, o presidente Joe Biden se manifestou sobre armas hipersônicas, quando questionado por jornalistas se estava preocupado com o desenvolvimento de armas manobráveis de alta velocidade. Laconicamente, respondeu: "Sim".

O programa dos EUA realizou, também na semana passada, três testes com protótipos de componentes de armas hipersônicas, considerados bem-sucedidos. Mas um outro experimento com um foguete, para verificar os aspectos de veículos planadores hipersônicos, teve um revés, com uma falha no veículo que não foi especificada.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.