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Kishida se torna novo premiê do Japão e convoca eleições para 31 de outubro

Ex-chanceler pretende aproveitar apoio com melhora nos números da pandemia, dizem analistas

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Guarulhos e São Paulo

O ex-chanceler Fumio Kishida foi eleito oficialmente o 100º premiê do Japão nesta segunda-feira (4), após ganhar a maioria dos votos nas duas Casas do Parlamento.

De família tradicional na política, ele tem pela frente duas missões iniciais: guiar seu partido nas eleições e consolidar um plano de enfrentamento à pandemia de coronavírus e à desigualdade.

O novo premiê japonês, Fumio Kishida, ex-chanceler do país - Issei Kato - 4.out.21/Reuters

Quanto à primeira parte, o premiê já convocou para 31 de outubro o pleito que estava previsto para novembro. Assim, o Parlamento será dissolvido no próximo dia 14 de outubro. A prática é comum para quem chega ao cargo e é uma forma de testar a popularidade do novo premiê, segundo Paulo Watanabe, doutor em relações internacionais pela Unesp e professor da Universidade São Judas Tadeu.

Analistas ouvidos pela agência de notícias Reuters observam ainda que Kishida não quis perder tempo devido aos riscos impostos pela pandemia, mesmo que pudesse desfrutar de um período de lua de mel que normalmente ocorre em novos governos.

"Ele provavelmente deseja evitar qualquer piora no cenário da Covid", disse Corey Wallace, especialista em política japonesa da Universidade de Kanagawa.

Tóquio registrou nesta segunda 87 novas infecções por coronavírus, número diário mais baixo desde o início de novembro de 2020. O volume de casos tem diminuído desde agosto, quando havia mais de 5.000 novas infecções diariamente, na quinta onda da pandemia, impulsionada pela variante delta.

A capital e a maior parte do Japão saíram na semana passada de um estado de emergência que durou quase seis meses. O país tem hoje 71,6% da população com uma dose da vacina e 61,2% com o esquema vacinal completo, de acordo com dados da plataforma Our World in Data.

Para evitar uma sexta onda da Covid-19, Kishida disse nesta segunda, em sua primeira entrevista coletiva, querer garantir a implementação de medidas de combate à Covid e políticas econômicas de larga escala e ambiciosas. “Para isso, precisamos perguntar para as pessoas se elas confiam em mim, Kishida, para levar adiante essas políticas.”

“Gostaria de seguir uma política de confiança e compaixão com o mandato do povo”, afirmou, repetindo o tema de sua campanha à liderança do Partido Liberal Democrata (LDP), principal sigla do Legislativo que o nomeou ao cargo de primeiro-ministro.

Kishida recebeu 311 votos na Câmara baixa do Parlamento, contra 124 para o principal líder da oposição, Yukio Edano. O Senado escolheu o novo primeiro-ministro com 141 votos, contra 65 para Edano.

O político, que também foi deputado de Hiroshima, já pleiteou a posição outras vezes. Ele era considerado o provável herdeiro de Shinzo Abe, ex-premiê que anunciou sua renúncia ao cargo em 2020 para tratar uma doença intestinal crônica. Sua baixa classificação em pesquisas eleitorais, porém, o fez ficar em segundo lugar na votação interna para líder do LDP, perdendo para Yoshihide Suga.

Suga, por sua vez, anunciou uma saída abrupta do posto na primeira semana de setembro, menos de um ano após assumir. Com baixa popularidade, o agora ex-premiê sofreu os reveses da pandemia de Covid-19 e foi criticado pela má condução do combate à doença. Nem sequer as Olimpíadas de Tóquio, que lançaram projeção internacional no país, ajudaram a reverter a crise do governo.

Com a decisão de Suga de não concorrer à liderança do partido governista, as eleições internas alçaram Kishida ao cargo. Ele obteve 257 votos, enquanto seu rival, Taro Kono, também um ex-chanceler e responsável por gerir a campanha de imunização contra a Covid-19 no país, conseguiu apenas 170. Como o LDP domina o Legislativo, já era esperado que o novo líder da legenda fosse, também, eleito premiê.

Em um movimento de continuidade, ele organizou a formação de seu gabinete com alguns nomes de aliados do ex-premiê Shinzo Abe. Dos 20 cargos do gabinete do novo premiê, 13 foram preenchidos por pessoas sem experiência anterior nos ministérios, algo que Kishida vinha prometendo –dar oportunidade a novos rostos.

As demais cadeiras foram ocupadas por aliados de Abe e do agora ex-ministro de Finanças, Taro Aso, líderes de correntes internas do LDP que foram decisivas para a vitória do novo primeiro-ministro.

A média de idade dos membros do gabinete é de 61,8 anos. Apenas três mulheres entraram para o governo, uma das quais Seiko Noda, 61, ex-ministra de Assuntos Internos que ficou em quarto lugar nas eleições internas da sigla. Ela vai comandar a pasta relacionada a igualdade de gênero.

Também foram escolhidas Noriko Horiuchi, como ministra das vacinas, e Karen Makishima, como responsável pela reforma administrativa. O gabinete anterior contava com apenas duas mulheres.

O novo ministro das Finanças, Shunichi Suzuki, é cunhado de Aso. O chefe da diplomacia, Toshimitsu Motegi, conservou a pasta, assim como Nobuo Kishi na Defesa. Kishi é o irmão mais novo de Abe.

Hirokazu Matsuno, ex-ministro e membro da ala de Abe, foi nomeado para o cargo de secretário-geral do governo. "O governo de Kishida busca um equilíbrio entre as grandes facções e gerações do LDP, o que reflete a vontade dele de não fazer inimigos", disse o economista Junichi Makino, da SBMC Nikko Securities, à agência de notícias AFP.

Há, ainda, uma novidade no gabinete: a criação da pasta de Segurança Econômica, medida vista como uma forma de lidar com a ameaça econômica chinesa. Em declarações dadas após a eleição do premiê, Pequim celebrou a possibilidade de estreitar laços com o país, mas analistas chineses veem com cautela a possibilidade e projetam que Kishida adote políticas linha-dura ao ser influenciado por Abe e Aso.

Durante a campanha, o ex-chanceler japonês teceu diversas críticas ao regime liderado por Xi Jinping. Disse, por exemplo, que apoia uma resolução parlamentar para condenar os abusos cometidos contra a minoria uigur em Xinjiang —o que Pequim nega— e pediu que um assessor seja nomeado para monitorar a situação na região.

Segundo o South China Morning Post, jornal de Hong Kong, o Ministério das Relações Exteriores chinês disse que Pequim está pronta para "promover o desenvolvimento sólido e estável das relações" com o premiê japonês. E a emissora estatal CGTN descreveu Kishida como "a melhor opção possível para Pequim" e disse que a eleição pode trazer "uma correção de curso" nas relações entre as duas nações.

O principal motivo do ceticismo dos analistas políticos são as ligações cada vez maiores entre Tóquio e Washington. Ambas fazem parte do Quad, o Diálogo de Segurança Quadrilateral, grupo que também conta com Índia e Austrália e visa cercar a China geopolítica e militarmente na região do Indo-Pacífico.

Ao South China Morning Post Benoit Hardy-Chartrand, especialista em assuntos internacionais da Universidade Temple (EUA), analisou que, enquanto o LDP estiver no poder, é improvável que haja uma reformulação da relação japonesa com os EUA.

"Há um amplo acordo dentro do partido quanto à necessidade de o Japão assumir um papel de liderança maior e fortalecer os laços com os EUA, vistos como um baluarte-chave contra a China", disse.

Com AFP e Reuters

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