Uma sessão do Legislativo peruano para dar ou não o voto de confiança ao gabinete ministerial do presidente Pedro Castillo foi interrompida na tarde desta segunda-feira (25) devido à morte de um deputado. Fernando Herrera Mamani, 55, era do partido Perú Libre, o mesmo do chefe do Executivo.
Os parlamentares estavam debatendo as propostas da primeira-ministra Mirtha Vázquez, apresentadas horas antes, e se preparavam para emitir seus votos sobre a equipe ministerial quando a deputada Silvia Monteza Facho foi interrompida pela vice-presidente do Parlamento, Lady Carmones, que deu a notícia no microfone. Muitos choraram e ao menos um desmaiou no plenário.
Mamani, da província de Tacna, morreu em casa. Ele havia se sentido mal de manhã, quando foi ao Congresso, e decidiu voltar ao apartamento onde morava. A informação inicial foi a de que ele sofreu uma parada cardiorrespiratória.
Depois da notícia da morte, a presidente do Congresso, Maria del Carmen Alva Prieto, anunciou a interrupção dos trabalhos do Legislativo e organizou um minuto de silêncio em homenagem ao colega. A sessão para referendar o gabinete, que seria retomada nesta terça (26), acabou agendada para a manhã do próximo dia 4.
Castillo se disse solidário à dor da família de Mamani. "Há gente que dá a vida pela luta pela democracia, e Fernando era um deles. Quando um professor morre, nunca morre." Vladimir Cerrón, líder do Perú Libre, também prestou condolências em um tuíte.
O óbito de um parlamentar do partido se soma ao racha que a legenda já enfrenta, que ficou clara logo na entrada do gabinete de ministros no Congresso na manhã desta segunda. O grupo foi acompanhado pessoalmente por Castillo, em claro sinal de apoio do mandatário para confrontar documento publicado há alguns dias por Cerrón, que dizia que sua bancada não daria o voto de confiança ao novo ministério.
Sob a pressão de que o Legislativo promoveria um impeachment de Bellido e de outros ministros, Castillo pediu a renúncia de alguns deles no último dia 6. No lugar, chamou nomes de políticos de esquerda mais experientes e não vinculados ao Perú Libre, em um esforço por governabilidade.
O melhor exemplo foi a escolha de Mirtha Vázquez, reconhecida advogada de direitos humanos, com experiência no Parlamento. A nova primeira-ministra é da Frente Ampla, grupo de esquerda moderada que discorda das posições mais dogmáticas do Perú Libre.
Em sua apresentação de duas horas ao Congresso nesta segunda, Vázquez afirmou que as prioridades do governo serão a luta contra a pandemia, a reforma agrária, o estabelecimento de novos planos sociais para ajudar os mais vulneráveis e a "reativação econômica com justiça social, gradual, voluntária e descentralizada".
Ela destacou que o governo vai priorizar um aumento das aposentadorias por meio de subvenção direta do Estado a maiores de 65 anos e reforçou que, na reforma agrária, não haverá expropriação de terras. "Mas sim dar maior valor agregado à produção rural por meio de processos de transformação produtiva", afirmou.
Vázquez também pediu que o Parlamento evitasse que o clima de tensão política trouxesse mais insegurança à população na retomada das atividades econômicas.
Antes da sessão, a primeira-ministra se reuniu com os líderes de bancada e empresários, que se mostraram simpáticos à ideia de colaborar com projetos do governo.
Na nova configuração ministerial, ainda há nomes que podem causar atritos com o Parlamento. É o caso do ministro do Interior, Luis Barranzuela, advogado de Cerrón em seu processo por corrupção; e da titular de Desenvolvimento e Inclusão Social, Dina Boluarte, que está sendo investigada por lavagem de dinheiro e financiamento ilegal da campanha do Perú Libre.
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