Ao menos 55 pessoas morreram e mais de 140 ficaram feridas após um ataque nesta sexta (8) em uma mesquita na cidade de Kunduz, capital da província de mesmo nome localizada no norte do Afeganistão. A informação foi divulgada pela emissora estatal Bakhtar, controlada pelo Ministério da Informação.
Horas depois, o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) assumiu a autoria da ação em um grupo no aplicativo de mensagens Telegram. O chefe regional do Talibã para assuntos de cultura e informação em Kunduz, Matiullah Rohani, afirmou, sem dar detalhes, que a explosão foi provocada por um ataque suicida.
Em uma rede social, a missão das Nações Unidas confirmou que o balanço inicial indicava que "mais de cem pessoas morreram e ficaram feridas" e classificou o atentado como parte de um "padrão perturbador de violência" no país da Ásia Central. "A equipe da ONU está muito preocupada", dizia a mensagem.
"Nesta tarde [manhã no horário de Brasília] houve uma explosão em uma mesquita de nossos compatriotas xiitas que causou várias mortes e ferimentos", afirmou Zabihullah Muhajid, porta-voz do grupo fundamentalista Talibã, que retomou o poder no país em agosto. O dirigente condenou a ação.
Informações iniciais, obtidas pela AFP com médicos que trabalham no local, indicavam que 50 afegãos haviam morrido no atentado. À tarde, a agência de notícias reportou o número de ao menos 55 vítimas. Ao jornal americano The New York Times, porém, um líder comunitário disse acreditar que a cifra poderia se aproximar de 70.
Imagens compartilhadas em redes sociais mostram vários corpos perto do local. A explosão ocorreu durante a oração do meio-dia —que, às sextas-feiras, tradicionalmente reúne grupos maiores nas mesquitas, já que o dia é sagrado para os seguidores do islã. Muçulmanos xiitas compõem de 10% a 15% da população afegã, majoritariamente sunita, de acordo com o Escritório de Liberdade Religiosa Internacional (EUA). Uma minoria de 0,3% é composta por cristãos, hindus e sikhs.
"Até agora, recebemos 35 corpos e mais de 50 feridos", disse um médico de um hospital local à AFP. Pouco antes, um porta-voz dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) no local disse que a clínica da organização havia recebido mais de 90 feridos e ao menos 15 mortos.
O EI e seu braço afegão vêm realizando atentados em território afegão desde o retorno do Talibã ao poder, consolidado com a retirada das tropas ocidentais do país. O grupo extremista sunita costuma ter como alvos muçulmanos xiitas, especialmente a minoria étnica hazara.
No último sábado (3), outro ataque —igualmente reivindicado pelo Estado Islâmico—, também próximo a uma mesquita em Cabul, deixou ao menos cinco mortos e 11 feridos. O local abrigava, no momento da explosão, uma cerimônia em memória à mãe de Zabihullah Mujahid, porta-voz do grupo extremista islâmico.
Em setembro, a capital da província de Nangarhar, Jalalabad, foi palco de cinco explosões que deixaram três mortos e 20 feridos. A cidade é um reduto da filial afegã do EI, ativa desde o retorno do Talibã.
O EI-Khorasan, como é conhecida a ramificação, também reivindicou a autoria de um ataque no aeroporto de Cabul, em 26 de agosto, que matou mais de 170 afegãos e 13 militares americanos. O atentado se deu em meio à retirada das tropas ocidentais do país, quando civis se aglomeravam no entorno do terminal tentando também deixar o Afeganistão.
A ação elevou o patamar do caos que era visto na operação comandada pelos EUA. O ataque desta sexta é o mais mortal no Afeganistão desde então.
Desde que foi criado, em meados de 2014, o braço afegão do EI apresentou uma série de divergências públicas com o Talibã, que já resultaram em conflitos armados e disputa territorial, em especial na fronteira com o Paquistão. O grupo faz ameaças para desestabilizar o governo que a facção fundamentalista islâmica tenta consolidar no Afeganistão para conseguir apoio internacional.
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