Belarus e Polônia deslocam tropas para fronteira em meio a crise de refugiados

Tensão entre rivais escala, e premiê polonês acusa Putin de estar por trás do movimento

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São Paulo

A crise dos refugiados entre Belarus e Polônia escalou nesta terça-feira (9), gerando uma troca de acusações que ameaça colocar frente a frente o principal aliado da Rússia de Vladimir Putin e um dos mais agressivos membros da Otan (aliança militar ocidental).

Ambos os países deslocaram tropas para as fronteiras. Minsk afirmou que irá reagir a quaisquer provocações, enquanto Varsóvia voltou a acusar a ditadura de Aleksandr Lukachenko de usar os refugiados como arma de pressão sobre seu país.

Mais: o premiê polonês, Mateusz Morawiecki, acusou diretamente o presidente russo pela crise. "Lukachenko é o executor deste ataque, mas ele é organizado de Moscou, quem o orquestra é Putin", afirmou no Parlamento.

O russo e seu colega belarusso haviam discutido o assunto ao telefone, informou o Kremlin.

A confusão começou em meados deste ano, com um grande fluxo de refugiados, a maioria de países do Oriente Médio como o Iraque, sendo concentrados por autoridades da Belarus junto às fronteiras da Polônia e da Lituânia.

Soldados poloneses trabalham em barreira de arame farpado na fronteira com a Belarus
Soldados poloneses trabalham em barreira de arame farpado na fronteira com a Belarus - Leonid Shcheglov/Belta/AFP

A UE (União Europeia), à qual ambos os vizinhos da Belarus pertencem, afirma que o movimento foi forçado por Minsk como forma de retaliação pelas sanções econômicas aplicadas pelo bloco devido à repressão à oposição belarussa.

Em agosto do ano passado, Lukachenko venceu mais uma eleição de fachada, mas enfrentou grandes protestos de rua. Ato contínuo, endureceu o regime e promoveu uma dura perseguição aos rivais, condenada no Ocidente.

Por outro lado, interessado em manter o aliado sob sua órbita, o Kremlin deu apoio ao ditador, que está no poder desde 1994. Mais que isso, acentuou a cooperação militar com exercícios conjuntos e o processo de integração político-econômica do chamado Estado da União entre os dois países, uma proposta que remonta ao ano 2000.

Polônia e Lituânia fecharam suas fronteiras para os imigrantes. Na segunda-feira, forças de Varsóvia tiveram de conter uma tentativa de invasão e, segundo o Ministério do Interior do país, 20 mil soldados foram posicionados na região.

O Kremlin não comentou ainda a acusação do premiê, mas seu Ministério das Relações Exteriores afirmou que o Ocidente é o culpado pela crise, já que foram intervenções externas no Oriente Médio que geraram guerras e fluxo de refugiados.

"'É inadmissível [a União Europeia] usar padrões diferentes para a Polônia", disse o chanceler Serguei Lavrov em entrevista coletiva nesta terça.

"Selar a fronteira polonesa é do nosso interesse nacional. Mas hoje, a estabilidade e a segurança de toda a UE está em jogo", afirmara antes no Twitter Morawiecki. "Nós não seremos intimidados e vamos defender a paz na Europa com nossos parceiros da Otan e da UE."

A Polônia estima em até 15 mil o número de refugiados no vizinho, ao menos 4.000 deles concentrados num campo em Kuznica.

Já o Ministério da Defesa de Belarus afirmou que a Polônia violou acordos bilaterais de segurança e enviou, sem aviso prévio, 10 mil soldados para as fronteiras. "Nós gostaríamos de alertar o lado polonês contra qualquer provocação", afirmou o órgão, em nota.

Além da escaramuça pontual, devido à repressão de Lukachenko, a questão de fundo real é o antagonismo entre os europeus e Putin.

A Polônia é um dos membros da Otan e da União Europeia mais vocais em suas queixas contra o Kremlin, alimentando uma amarga rivalidade que remonta ao passado em que o país foi usado como tampão tanto do Império Russo quanto da União Soviética ante o continente.

Já os russos acusam os poloneses de paranoia ao estilo Guerra Fria, além de apontar a grande militarização do país. Entre os 30 membros da Otan, a Polônia é o sétimo que mais gasta com defesa, em proporção a seu Produto Interno Bruto: em 2021, aplicou 2,1% dele no setor, acima da meta da aliança, de 2%, algo que só dez países do clube fazem.

Enquanto as autoridades se digladiam, o drama humano continua na terra de ninguém entre as forças de ambos os países. Há relatos de falta de comida e imagens em redes sociais de fogueiras e acampamentos improvisados ao longo da fronteira.

O duro frio da região promete um inverno de sofrimento para os refugiados, que segundo as autoridades europeias foram atraídos de propósito à Belarus —que nega, dizendo que os imigrantes estão legalmente no país.

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