Descrição de chapéu Belarus

UE eleva sanções contra Belarus; vizinho vê provocação crescente

Vinte e sete países do bloco concordam em punir mais 78 pessoas e 7 entidades belarussas, na mesma semana em que regime expôs jornalista preso

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Bruxelas

Os 27 países-membros da União Europeia concordaram nesta quarta (16) em sancionar mais 78 pessoas e 7 entidades da Belarus, devido à interceptação de um voo comercial da companhia aérea Ryanair para prender o jornalista Roman Protassevich, crítico à ditadura belarussa.

Os detalhes sobre proibições de viagens e congelamento de bens ainda serão divulgados, mas investidas do ditador Aleksandr Lukachenko nesta semana dão uma pista sobre seu potencial de impacto. Além de ignorar as pressões internacionais para que solte o blogueiro, ele organizou uma conferência-espetáculo na qual Protassevich, 26, foi exposto ao lado do comandante da Força Aérea e de ministros da ditadura.

Essa foi a terceira aparição do jornalista patrocinada pelo regime. Na primeira, foi publicado um vídeo em que ele afirmava estar bem de saúde, logo depois de ter sido preso. O objetivo era desmentir rumores crescentes de que Protassevich havia sido hospitalizado com problemas cardíacos. De acordo com sua família, o tom de voz do blogueiro mostrava claramente que ele estava tenso, e sinais em seu pescoço e nariz indicavam que ele havia sido torturado —o que Lukachenko nega.

O jornalista belarusso Roman Protassevich participa de entrevista organizada pela ditadura da Belarus, que o acusa de três crimes e o mantém preso desde 23 de maio
O jornalista belarusso Roman Protassevich participa de entrevista organizada pela ditadura da Belarus, que o acusa de três crimes e o mantém preso desde 23 de maio - Ramil Nasibulin - 14.jun.2021/BelTA/Reuters

Na segunda vez, uma emissora estatal de TV exibiu uma entrevista em que o blogueiro volta a dizer que está sendo bem tratado e elogia o ditador, além de se reconhecer “culpado de tentar derrubá-lo”. Imagens desse programa mostram marcas em torno de seus pulsos, que poderiam ter sido deixadas por algemas.

Na entrevista desta semana, o blogueiro —classificado de terrorista, acusado de três crimes e mantido na cadeia— afirmou aos repórteres que não havia sido espancado, estava se sentindo bem e “reconhecia seus erros” após ter sido “alertado” pelo regime de Lukachenko.

Segundo belarussos que ouviram a entrevista, um repórter perguntou se a ditadura lhe havia prometido liberdade em troca de colaboração. “Não tive nenhum acordo com a investigação. Qualquer participação nos eventos é voluntária. Bem como na entrevista à TV estatal”, respondeu Protassevich.

Ele também afirmou que sua consciência estava “absolutamente limpa”. “Eu não traio ninguém. Coopero com a investigação, ajudo meu país e pretendo ajudar ainda mais”, declarou, antes de pedir consideração com os pais: “Mãe, pai, não se preocupem, estou bem. Podem voltar para casa tranquilos.”

Em repúdio, o correspondente da rede britânica BBC no país, Jonah Fischer, deixou a sala, e repórteres belarussos usaram o microfone para manifestar apoio ao blogueiro e declarar que sabiam que ele estava sendo coagido a reproduzir discursos do regime.

O chefe da Força Aérea da Belarus, Igor Golub, também repetiu aos repórteres a versão de que o voo que ia da Grécia à Lituânia foi desviado para Minsk devido a uma ameaça de bomba. O avião em que estavam Protassevich e sua namorada, a russa Sofia Sapega, foi interceptado por um caça militar dois minutos antes de sair do espaço aéreo belarusso, e o casal foi preso ao desembarcar na capital da Belarus.

Nenhuma bomba foi encontrada.

Segundo Golub, o piloto da Ryanair decidiu sozinho mudar a rota do voo: “Por que o comandante da aeronave não estava em processo de descida, se pretendia pousar em Vilnius? Por que, a dois minutos de cruzar a fronteira, deu meia volta e pousou em Minsk, se ninguém o impediu de prosseguir?”.

A Ryanair, no entanto, afirmou nesta terça (15) que o piloto não teve alternativa. De acordo com o principal executivo da companhia aérea, Michael O'Leary, o comandante tentou confirmar a ordem de desvio com a empresa, mas foi enganada pelos belarussos que disseram haver problemas de conexão.

O executivo afirmou também que, após a aterrissagem do avião, a tripulação foi pressionada pelo regime da Belarus a gravar um vídeo afirmando que havia desviado voluntariamente para Minsk, mas se recusou.

Barracas montadas pelo governo lituano para abrigar imigrantes que passaram pela fronteira da Belarus nas últimas duas semanas - Ints Kalnins - 15.jun.2021/Reuters

Também nesta semana o governo lituano acusou Lukachenko de transportar refugiados para a fronteira com a UE e os ajudar a passar para o país vizinho. Segundo a Lituânia, o esquema usa no trajeto a empresa Tsentrkurort, controlada pelo ditador, e a passagem é feita com a ajuda dos guardas de fronteira.

Para a primeira-ministra da Lituânia, Ingrida Simonyte, Lukachenko está “cumprindo sua ameaça”. Em 26 de maio, três dias depois da prisão de Protassevich, ele fez um discurso contra sanções da União Europeia no qual disse que era a Belarus que impedia que o bloco fosse “inundado de imigrantes e drogas”. “Costumávamos pegar migrantes em massa aqui. Agora, esqueça, vocês mesmos vão pegá-los”, afirmou.

“E, de repente, em poucas semanas, vemos um rápido aumento de pessoas entrando ilegalmente. Não é um fluxo normal”, afirmou a primeira-ministra em visita à fronteira. Segundo o governo lituano, entraram no país nos últimos 12 dias 198 estrangeiros, de nacionalidade iraquiana, síria, iraniana, turca e egípcia.

Entre 2017 e 2020, a média de entrada anual era de 90 pessoas.

entenda as sanções

As sanções aprovadas nesta quarta serão validadas em reunião dos ministros das Relações Exteriores da UE no dia 21 e entram em vigor quando forem publicadas no Jornal Oficial. Também devem ser propostas sanções econômicas setoriais, em acréscimo à proibição de que companhias aéreas belarussas cruzem seu espaço aéreo e de que empresas europeias sobrevoem a Belarus.

Opositores vêm defendendo que sejam impostas restrições a exportações de potássio, insumo para fertilizantes, e ao uso de gás que chega da Rússia à UE por gasodutos que cortam a Belarus. “Desta vez temos realmente de tomar medidas cujo peso seja sentido por Lukachenko”, afirmou o responsável pela diplomacia do bloco, Josep Borrell. A Organização de Aviação Civil Internacional abriu uma investigação sobre o incidente do voo da Ryanair, apuração que deve ter alguma posição no final deste mês.

A agência da ONU, no entanto, não tem poder de fiscalização nem de punição.

Em rodadas anteriores, 88 membros do regime, incluindo Lukashenko e seu filho, já foram alvo de sanções, devido à brutal repressão a manifestantes que protestavam pacificamente por eleições justas.

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