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China constrói maquetes de navios dos EUA para treinar disparos de mísseis

Imagens capturadas por satélites indicam que Pequim tenta aprimorar suas técnicas de defesa naval

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Pequim | AFP e Reuters

Imagens de satélite de uma empresa americana mostraram, neste domingo (7), que a China construiu maquetes em tamanho real de um porta-aviões da Marinha e de outros navios de guerra dos Estados Unidos no deserto de Xinjiang.

Os modelos, possivelmente desenvolvidos para servirem como objeto de treinamento, refletem os esforços de Pequim para aprimorar suas defesas contra forças navais, especialmente americanas, visto que as tensões continuam altas com Washington na região de Taiwan e do Mar do Sul da China.

Os registros feitos por satélites da empresa Maxar mostraram maquetes em tamanho real de um porta-aviões dos EUA e de pelo menos dois destróieres construídas no que parece ser um novo complexo militar em Taklamakan, um dos maiores desertos do mundo, no noroeste da China.

Imagens captadas por satélite mostram maquete em tamanho real de porta-aviões dos EUA sobre uma ferrovia em Xinjiang, na China - Maxar Technologies/Divulgação - 7.out.21/Reuters

As imagens também mostraram uma ferrovia de seis metros de largura sobre a qual havia um alvo do tamanho de um navio —o que, segundo especialistas, pode ser usado para simular uma embarcação em movimento.

Segundo o Instituto Naval dos EUA, o complexo foi usado para testes de mísseis balísticos. "A análise das imagens históricas de satélite mostra que o modelo do porta-aviões foi construído inicialmente entre março e abril de 2019", diz o relatório do órgão.

"Passou por várias reconstruções e foi quase totalmente desmontado em dezembro de 2019. Mas o local voltou a funcionar no final de setembro deste ano e a estrutura estava praticamente concluída no início de outubro."

Questionado nesta segunda-feira (8) sobre as imagens, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, disse não estar ciente da situação.

Na China, os programas de mísseis antinavios são supervisionados pela Força de Foguetes do Exército de Liberação do Povo (PLARF, na sigla em inglês).

De acordo com o último relatório anual do Pentágono, o PLARF conduziu seu primeiro lançamento de fogo real no Mar do Sul da China em julho de 2020. Na ocasião, foram disparados seis mísseis balísticos DF-21 nas águas ao norte das ilhas Spratly, onde Pequim tem disputas territoriais com Taiwan e outros quatro países do Sudeste Asiático.

Para Collin Koh, da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura, os testes no mar podem ter mostrado à China que o país ainda está longe de criar um ASMB (sigla em inglês para míssil balístico antinavio) com a precisão necessária.

"Não acho que os alvos no deserto [de Taklamakan] serão o estágio final. São para um refinamento adicional", disse o pesquisador à agência de notícias Reuters.

Segundo Koh, um teste de ASMB nesse território não reflete as condições reais de um ambiente marinho. Isso afetaria os sensores e a seleção de alvos, mas permitiria que a China realizasse testes em segurança.

"A melhor maneira de testá-lo e mantê-lo longe dos olhares indiscretos dos militares e recursos de inteligência dos EUA é fazê-lo no interior [do país]."

O poderio militar de Pequim é tema recorrente no noticiário internacional e, nas últimas semanas, tornou-se ainda mais. No mês passado, o jornal britânico Financial Times publicou uma reportagem afirmando que China testou em agosto um míssil hipersônico que circulou a Terra antes de acelerar em direção a seu alvo, o que teria surpreendido a inteligência dos EUA.

Pequim negou o relato e disse que o que foi testado era um veículo espacial, não um míssil.

Dias depois, China e Rússia enviaram dez navios de guerra pela primeira vez para atravessar o estreito que separa as duas principais ilhas do arquipélago nipônico, o que foi visto como uma provocação direta aos EUA e ao Japão no Pacífico.

No campo dos discursos, o presidente Joe Biden procurou fazer uma demonstração de força ao dizer, em entrevista à CNN, que os EUA defenderiam Taiwan de uma eventual invasão chinesa. A fala tocou em um ponto sensível para Pequim, que considera Taiwan uma província rebelde e, frequentemente, acusa Washington e seus aliados ocidentais de interferência em um assunto que diz respeito somente à China.

"Quando se trata de questões relacionadas à soberania e integridade territorial da China e outros interesses fundamentais, não há espaço para fazer compromissos ou concessões", afirmou Wang Wenbin, porta-voz da diplomacia de Pequim, na ocasião. "E ninguém deve subestimar a forte determinação, firme vontade e grande capacidade do povo chinês de defender sua soberania nacional e integridade territorial."

No final de outubro, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, também concedeu entrevista à imprensa americana e confirmou relatos de que mais de 20 membros de operações especiais dos EUA e um contingente de fuzileiros navais estão há mais de um ano em território taiwanês. A declaração ocorreu semanas após a maior incursão aérea da história da China contra as defesas de Taipé.

A tensão regional se traduziu em ameaças. Na semana passada, autoridades chinesas disseram que punirão criminalmente, "para o resto de suas vidas", políticos e ativistas taiwaneses pró-independência, em uma escalada retórica que não era vista há anos. O país não descartou o uso da força para colocar a ilha sob seu controle, apesar da afirmação do governo taiwanês de que é uma nação independente e que defenderá sua liberdade e sua democracia.

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