Jovem que matou 2 homens durante ato antirracista colapsa em julgamento

Kyle Rittenhouse, 18, alega que manifestantes o ameaçaram de morte e que agiu em legítima defesa

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Kenosha (EUA) | Reuters

O jovem branco de 18 anos que atirou em três homens e matou dois deles durante manifestação antirracista em Kenosha, nos EUA, em agosto de 2020, chorou copiosamente nesta quarta (10), enquanto fazia sua defesa no julgamento do caso. Segundo ele, os assassinatos foram um ato de legítima defesa.

Um vídeo exibido na corte mostrou o momento em que Kyle Rittenhouse atirou quatro vezes em Joseph Rosenbaum, 36. Na cena, é possível ver que, na hora dos tiros, o acusado era seguido pelo manifestante antirracista, mas, conforme noticiou o canal NBC News, o especialista forense Doug Kelley afirmou ao tribunal ter concluído que Rosenbaum não era uma ameaça naquele momento.

"Não notei Rosenbaum até que ele saiu de trás do carro, numa emboscada", disse o acusado ao júri, antes de começar a respirar ofegantemente e chorar quando o juiz pediu uma pausa no julgamento.

Kyle Rittenhouse, 18, chora ao testemunhar durante julgamento, no Tribunal do Condado de Kenosha, em Wisconsin
Kyle Rittenhouse, 18, chora ao testemunhar durante julgamento, no Tribunal do Condado de Kenosha, em Wisconsin - Mark Hertzberg/Pool via Reuters

Questionado pela promotoria, ele afirmou que fez "o que tinha que fazer para impedir a pessoa que estava me atacando" e completou dizendo que "dois deles morreram, mas evitei que a ameaça me atacasse". À época dos assassinatos, Rittenhouse tinha 17 anos. Além de Rosenbaum, foram baleados no mesmo dia pelo adolescente os jovens Gaige Grosskreutz, 26, e Anthony Huber, 27, que também morreu.

Rittenhouse disse ainda que havia sido ameaçado duas vezes de morte por Rosenbaum e que estava em meio ao ato para proteger uma concessionária de carros usados junto com outros homens armados.

O acusado afirmou também que seu objetivo era oferecer ajuda médica a feridos —ainda que estivesse com um fuzil AR-15, de porte proibido para menores de 18 anos em Wisconsin. Questionado sobre as possíveis contradições, ele respondeu que havia levado a arma para a sua proteção.

Os promotores, porém, enfatizaram que Rittenhouse foi a única pessoa a atirar em alguém em uma noite em que centenas de manifestantes saíram às ruas, alguns pacificamente e outros envolvidos em incêndios criminosos, saques e tumultos.

A defesa de Rittenhouse fez um pedido de anulação do julgamento depois que o juiz do caso, Bruce Schroeder, repreendeu repetidamente a promotoria por tentar apresentar evidências que ele já havia anteriormente considerado inadmissíveis —como questionar o silêncio do acusado.

Ao tentar se defender, o promotor Thomas Binger disse que havia agido de boa-fé, mas Schroeder respondeu: "Não acredito em você". O magistrado não se pronunciou sobre o pedido imediatamente, mas disse que vai avaliá-lo.

No final de outubro Schroeder e Binger já haviam se desentendido, quando o juiz determinou que a acusação não poderia se referir aos baleados como vítimas, porque, em sua visão, o termo está carregado de pré-julgamento.

Em contrapartida, o promotor Thomas Binger pediu que a defesa de Rittenhouse também fosse proibida de descrever Rosenbaum, Huber e Grosskreutz como "desordeiros, saqueadores ou incendiários".

Para ele, os termos são tão ou mais carregados de juízo de valor do que "vítimas" e deveriam ser banidos, porque não há evidências de que os baleados estavam cometendo crimes quando foram atingidos.

O juiz Schroeder negou o pedido, mas condicionou o uso dos adjetivos considerados pejorativos à apresentação de elementos que comprovassem as afirmações dos advogados do réu.

Os atos em Kenosha, em Wisconsin, começaram após Jacob Blake, um homem negro, ser baleado pelas costas por um agente branco durante uma abordagem policial, dois dias antes, em uma ação filmada por testemunhas. Três meses antes, George Floyd havia sido assassinado por um outro policial branco.

Erramos: o texto foi alterado

Os homens mortos por Kyle Rittenhouse na manifestação antirracista em Kenosha não eram negros, como dito em versão anterior do título e do texto.

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