França libera saudita detido por engano devido a assassinato de jornalista

Polícia alega confusão de identidade e diz que não se tratava de ex-guarda real envolvido na morte de Jamal Khashoggi

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Paris | Reuters e AFP

A polícia francesa liberou nesta quarta-feira (8) o homem saudita detido em um aeroporto perto de Paris por suspeita de participação no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico do regime do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Os oficiais concluíram que houve uma confusão de identidade e que não se tratava de Khaled Aedh Al-Otaibi, ex-guarda real da Arábia Saudita apontado como envolvido no crime. À agência de notícias AFP uma autoridade disse que o detido era um homônimo.

Pessoas carregam fotos de Jamal Khashoggi em uma manifestação perto do consulado da Arábia Saudita em Istambul - Yasin Akgul - 25.out.18/AFP

Promotores comunicaram a liberação do saudita após confirmarem que ele não se enquadrava em um mandato emitido pela Turquia para dois ex-assessores do príncipe e que serviu de base para a prisão.

Horas antes da liberação, a embaixada saudita em Paris já afirmava que o detido não tinha relação com o caso. Em condição de anonimato ao jornal The Washington Post, com o qual Khashoggi colaborava, uma autoridade disse que se tratava de de equívoco de identidade, já que o verdadeiro Al-Otaibi já estava preso.

O jornalista foi visto pela última vez ao entrar no consulado saudita em Istambul, aonde foi em busca de documentos para seu casamento com uma mulher turca. Acredita-se que o crime tenha ocorrido em 2 de outubro de 2018, quando foi esquartejado, mas até hoje seus restos mortais não foram encontrados.

A notícia da prisão de um dos suspeitos –quando se pensava que ele era de fato o homem procurado– desencadeou uma onda de reações, com grupos de direitos humanos e a noiva de Khashoggi, Hatice Cengiz, manifestando alívio. Após o anúncio do engano, a organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras afirmou "continuar totalmente comprometida em garantir que todos os envolvidos no assassinato sejam levados à Justiça perante um Judiciário independente".

Relatório das Nações Unidas publicado há dois anos mostrou que Al-Otaibi era membro de uma equipe de 15 homens envolvida no assassinato do jornalista e enviada à Turquia por autoridades sauditas.

Uma investigação da CIA, a agência de inteligência americana, concluiu que a morte foi ordenada por Bin Salman, mas a procuradoria-geral saudita negou o envolvimento do líder e culpou um grupo de agentes enviado a Istambul para repatriar Khashoggi. A operação teria então saído do controle quando o jornalista foi amarrado e recebeu uma injeção com grande quantidade de uma droga que provocou uma overdose.

Segundo a CIA, Khalid bin Salman, irmão do príncipe e embaixador saudita nos EUA à época do crime, ligou para o jornalista dias antes e o aconselhou a ir ao consulado em Istambul para pegar os documentos, dando garantias de que ele estaria em segurança. Não está claro se Khalid sabia do plano para matar Khashoggi, mas a ligação teria sido ordenada por Bin Salman. "Não há como o assassinato ter acontecido sem ele estar consciente ou envolvido", afirmou uma autoridade americana sobre o príncipe.

Em 2019, um tribunal saudita condenou cinco pessoas à morte e outras três à prisão por envolvimento no caso. Mais tarde, porém, anulou o veredicto e transformou as penas de morte em prisões com penas de sete a 20 anos. Na época, as Nações Unidas classificaram o julgamento como uma "paródia de justiça".

A prisão por engano ocorreu três dias depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, reunir-se com Bin Salman na Arábia Saudita. O encontro foi apontado como o primeiro em terras sauditas envolvendo líderes ocidentais de relevo desde o assassinato de Khashoggi.

​Paris considera o país uma peça-chave para ajudar a forjar a paz em toda a região com o Irã, bem como personagem importante na luta contra facções fundamentalistas no Oriente Médio.

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