França prende suspeito de participar do assassinato de jornalista saudita

Detido é ex-guarda real do país árabe e estava prestes a embarcar para Riad

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Paris | Reuters e AFP

A polícia francesa prendeu, nesta terça-feira (7), um dos suspeitos de participar do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, crítico do regime do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Fontes disseram à agência Reuters que Khaled Aedh Al-Otaibi, 33 —ex-guarda real da Arábia Saudita–, foi detido no aeroporto Roissy, perto de Paris, antes de embarcar para Riad, capital do país árabe.

Acredita-se que o assassinato tenha ocorrido em 2 de outubro de 2018, última vez que o jornalista foi visto, dentro da embaixada da Arábia Saudita em Istambul. Na ocasião, Khashoggi foi esquartejado, mas até hoje seus restos mortais não foram encontrados.

A prisão realizada nesta terça tem como base um mandado emitido pela Turquia em 2019 e, a partir de agora, promotores franceses devem iniciar um processo de extradição do suspeito. Ainda não está claro como ou quando ele chegou à França.

Vigília em frente à embaixada da Arábia Saudita em Washington para marcar o aniversário do assassinato do jornalista
Vigília em frente à embaixada da Arábia Saudita em Washington para marcar o aniversário do assassinato do jornalista - Sarah Silbiger - 2.out.19/Reuters

Al-Otaibi já era alvo de sanções do Reino Unido, que o acusa de fazer "parte da equipe de 15 homens enviada à Turquia pelas autoridades sauditas", segundo relatório do governo britânico. De acordo com o mesmo documento, o suspeito esteve envolvido na ocultação de provas na residência do cônsul-geral.

Um relatório da CIA, a agência de inteligência americana, concluiu, cerca de um mês depois do assassinato, que a morte foi ordenada por Bin Salman, mas a procuradoria-geral saudita negou o envolvimento do líder e culpou um grupo de agentes enviado a Istambul para repatriar Khashoggi.

A operação teria então saído do controle quando o jornalista foi amarrado e recebeu uma injeção com grande quantidade de uma droga que provocou uma overdose. Khashoggi foi ao local para obter documentos necessários para seu casamento com uma mulher turca.

Segundo a CIA, Khalid bin Salman, irmão do príncipe e embaixador saudita nos EUA à época do crime, ligou para o jornalista dias antes e o aconselhou a ir ao consulado em Istambul para pegar os documentos, dando garantias de que ele estaria em segurança.

Não está claro se Khalid sabia do plano para matar Khashoggi, mas a ligação teria sido ordenada por Bin Salman. "Não há como isso [o assassinato] ter acontecido sem ele estar consciente ou envolvido", afirmou uma autoridade americana à época sobre o príncipe saudita.

No final de um processo conduzido por autoridades sauditas, cinco pessoas foram condenadas à morte e outras três à prisão. Mais tarde, porém, um tribunal do país anulou o veredicto final e transformou as penas de morte em prisões com penas de sete a 20 anos. Na época, a ONU classificou o julgamento como uma "paródia de justiça" e declarou que os "veredictos não têm legitimidade legal ou moral".

A prisão desta terça ocorre três dias depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, reunir-se, na Arábia Saudita, com Bin Salman. O encontro foi apontado pela Reuters como o primeiro em terras sauditas envolvendo grandes líderes ocidentais desde o assassinato de Khashoggi.

O presidente Jair Bolsonaro já havia visitado o país em outubro de 2019, quando se reuniu com o príncipe saudita. Na ocasião, o brasileiro afirmou ter muita "afinidade" com Bin Salman.

O presidente Jair Bolsonaro durante encontro com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, em Riad - José Dias/PR

Macron rejeitou na semana passada acusações de que estaria legitimando o príncipe herdeiro e disse que as diversas crises da região não poderiam ser resolvidas ignorando a Arábia Saudita.

A França é um dos principais fornecedores de armas do país árabe, mas tem enfrentado pressão para rever suas vendas devido à coalizão liderada pelos sauditas que luta contra rebeldes apoiados pelo Irã no Iêmen –guerra que deu origem a uma das piores crises humanitárias do mundo.

Procurados pela Reuters, o Ministério do Interior francês e a embaixada saudita em Paris não quiseram comentar a prisão desta terça. Já a embaixada da Arábia Saudita na França disse que Al-Otaibi não tem nada a ver com o caso e deveria ser libertado imediatamente. Os sauditas ainda afirmaram que os culpados já cumprem pena no próprio país árabe.

Nesta tarde, a organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras comemorou a detenção do suspeito. "Excelente notícia a polícia francesa não ter feito vista grossa à presença de Khaled Al-Otaibi", disse o diretor-geral da instituição, Christophe Deloire.

A noiva de Khashoggi, Hatice Cengiz, também celebrou a prisão e pediu o julgamento do suspeito em território francês ou a extradição "para um país capaz e disposto a, genuinamente, investigá-lo e processá-lo, bem como a pessoa que deu a ordem" para o assassinato.

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