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Ressa e Muratov recebem Nobel da Paz e destacam defesa do jornalismo

Filipina defendeu regulação de plataformas de mídia social, enquanto russo criticou possível invasão da Ucrânia

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Os jornalistas Maria Ressa e Dmitri Muratov, ganhadores do Nobel da Paz de 2021, receberam o prêmio em Oslo, capital na Noruega, nesta sexta (10). Além de defenderem a liberdade de imprensa, tema que deu o tom do evento, ambos aproveitaram para levantar bandeiras que advogam em seus países de origem.

Ressa, repórter filipino-americana, reiterou o apelo à reforma das plataformas de mídias sociais. A editora do site Rappler, de jornalismo investigativo, é uma das principais vozes críticas ao ambiente de desinformação e violência contra profissionais nas redes.

Os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, durante cerimônia de entrega do Prêmio Nobel, em Oslo - Odd Andersen - 10.dez.21/AFP

"Nossa maior necessidade é combater esse ódio e essa violência, essa lama tóxica que percorre nosso ecossistema de informações", disse. "O que acontece nas redes sociais não fica nas redes sociais; violência online é também violência no mundo real", acrescentou.

Ela, que chegou a ser presa pelo governo de Rodrigo Duterte com base em uma controversa legislação, lembrou os colegas mortos ou encarcerados como tentativa de silenciar a imprensa.

Levantamento publicado nesta quinta (9) mostrou que 293 jornalistas estão presos ao redor do mundo, um número recorde, enquanto 24 foram assassinados neste ano em razão da profissão.

Como é perseguida com outros processos judiciais nas Filipinas, Ressa precisou de uma autorização da Justiça para que pudesse viajar a Oslo. Em artigo publicado no New York Times, ela afirma que o governo filipino entrou dez vezes com processos contra ela. "Desde que o presidente Rodrigo Duterte assumiu o poder, 22 jornalistas foram mortos, o último nesta semana", afirmou a editora.

Já Muratov disse que autoridades russas estão promovendo ativamente uma ideia de guerra no país e que a invasão da Ucrânia se tornou uma possibilidade real. Ele criticou o tom de violência que domina o Kremlin e afirmou que os políticos que evitam o derramamento de sangue têm sido vistos como fracos, enquanto aqueles que ameaçam o mundo com uma guerra são, equivocadamente, vistos como patriotas.

"Na cabeça de alguns políticos malucos, uma guerra entre Rússia e Ucrânia deixou de ser impossível", disse, referindo-se à possibilidade da invasão russa do país vizinho. Muratov também afirmou que o jornalismo na Rússia passa por um "vale escuro", com mais de uma centena de jornalistas, meios de comunicação, defensores dos direitos humanos e ONGs rotulados como "agentes estrangeiros", designação usada na Guerra Fria para classificar dissidentes e hoje dada a críticos do governo do presidente Vladimir Putin.

"Na Rússia, isso significa 'inimigos do povo'", afirmou o jornalista, cofundador e editor-chefe do Novaia Gazeta (novo jornal, em russo), um dos principais jornais de oposição ao governo Putin. Ele dedicou o prêmio a todos os jornalistas investigativos e a seus colegas de trabalho que foram assassinados —entre os quais Anna Politkovskaia, morta a tiros no dia do aniversário de Putin, em 2006.

O prêmio de Ressa e Muratov é o primeiro para jornalistas desde que o alemão Carl von Ossietzky o recebeu, em 1935, por revelar o programa secreto de rearmamento de seu país no pós-guerra. Como lembrou Ressa, porém, o alemão não chegou a colocar as mãos no prêmio, uma vez que morreu em um campo de concentração nazista. "Ao dar esse prêmio aos jornalistas hoje, o comitê do Nobel sinaliza um momento histórico, um ponto existencial para a democracia", disse. Os ganhadores recebem um certificado, uma medalha de ouro e um cheque de 10 milhões de coroas suecas (R$ 6,2 milhões).​

Com Reuters

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