Um ataque realizado com drone na manhã desta segunda-feira (17) pelo grupo rebelde houthi, do Iêmen, contra Abu Dhabi provocou um incêndio próximo ao aeroporto da capital dos Emirados Árabes Unidos e a explosão de três caminhões-tanque. O incidente deixou três mortos.
A avaliação de analistas é que o atentado pode levar a guerra do Iêmen, entre o grupo rebelde e a coalizão liderada pela Arábia Saudita, a um novo nível, dificultando os esforços para conter as tensões regionais, num momento em que Estados Unidos e Irã tentam resgatar o acordo nuclear —os houthis são aliados de Teerã.
"Os Emirados Árabes Unidos condenam esse ataque terrorista das milícias houthis em regiões e edifícios civis", disse em comunicado o Ministério das Relações Exteriores, que acrescentou que o atentado "não ficará sem punição" e que o país "se reserva o direito de responder" militarmente.
Como parte da coalizão que atua no Iêmen, os emiradenses armaram e treinaram forças locais que se juntaram à luta contra os houthis nas regiões produtoras de energia Shabwa e Marib.
Os rebeldes já lançaram mísseis e drones na fronteira com a Arábia Saudita, mas reivindicaram poucos ataques nos Emirados Árabes. "Com o tempo acabando nas negociações [nucleares do Irã], o risco de deterioração na sensação de segurança da região está aumentando", disse à Reuters Torbjorn Soltvedt, principal analista de Oriente Médio e Norte da África na empresa de análise de risco Verisk Maplecroft.
A explosão de caminhões-tanque na área industrial de Musaffah, perto das instalações de armazenamento da petrolífera Adnoc (Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi), deixou três mortos e seis feridos. Entre as vítimas havia dois indianos e um paquistanês, que trabalhavam na companhia.
A polícia fechou a estrada que levava à área, que ficou coberta por uma fumaça preta. "As investigações iniciais encontraram partes de um pequeno avião, que poderia ser um drone, em ambos os locais, o que poderia ter causado tanto a explosão quanto o incêndio", disse a polícia de Abu Dhabi.
A Etihad Airways chegou a anunciar o cancelamento de alguns voos devido a "medidas de precaução", mas declarou que as operações foram retomadas rapidamente.
Mais tarde, o porta-voz militar dos houthis reivindicou o que chamou de "operação militar a fundo". Ele afirmou, sem mostrar evidências, que os rebeldes dispararam cinco mísseis balísticos e "um grande número" de drones nos aeroportos de Dubai e Abu Dhabi, além de atacarem uma refinaria de petróleo em Musaffah e vários locais "sensíveis".
Os insurgentes disseram à agência AFP que a ação desta segunda foi uma advertência e que outros ataques podem ser esperados caso os emiradenses "persistam em sua hostilidade com o Iêmen".
A agência estatal saudita informou, à noite, que a aliança liderada pelo país realizou uma contraofensiva após o atentado, com ataques aéreos em Sanaa, capital iemenita controlada pelos houthis. Nesta terça (18), o governo Houthi, que detém grande parte do norte do Iêmen, afirmou que os ataques da aliança mataram 20 pessoas, entre elas um ex-militar rebelde –no bombardeio, sua mulher e seu filho de 25 anos também foram mortos.
De acordo com a mídia houthi, o militar morto era Abdullah Qassim al-Junaid, que estava entre os 170 oficiais rebeldes condenados à morte por um tribunal na província de Marib, que permanece sob o controle do governo iemenita, reconhecido internacionalmente.
Os sauditas também alegaram que interceptaram oito drones lançados pelos rebeldes.
Após o ataque em Abu Dhabi, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, ligou para seu homólogo nos Emirados Árabes e condenou o atentado. Já o assessor de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse que Washington trabalharia para combater os rebeldes.
"Os houthis assumiram a responsabilidade pelo ataque e vamos trabalhar com os Emirados Árabes e nossos parceiros internacionais para fazê-los prestar contas", destacou, acrescentando que o compromisso dos americanos com a segurança do aliado é sólido.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também condenou o ataque e pediu, segundo seu porta-voz, contenção às partes envolvidas e que "evitem qualquer escalada".
Inicialmente, não houve comentários das autoridades iranianas, mas a agência de notícias estatal Tasnim afirmou que o ataque é uma "operação importante". O Irã, que mantém relações difíceis com os Emirados, é o único país que apoia abertamente os rebeldes houthis, mas nega a acusação de fornecimento de armas ao grupo —a guerra do Iêmen é vista como uma batalha por procuração entre a Arábia Saudita, muçulmana sunita, e o Irã, xiita.
Para o analista político emiradense Abdulkhaleq Abdulla deve haver uma retaliação, ainda que seja cedo para dizer exatamente o que o país fará. "Os Emirados Árabes Unidos não vão levar isso de forma muito leve." Riad e Abu Dhabi têm se esforçado para dialogar diretamente com o Irã nos últimos meses, para evitar um conflito amplo que possa prejudicar as ambições econômicas da região.
Dada a frequência dos ataques houthis contra a Arábia Saudita, não era "tecnicamente surpreendente" que o grupo pudesse atingir alvos dos Emirados Árabes Unidos, segundo Jean-Loup Samaan, pesquisador-sênior do Instituto do Oriente Médio da Universidade Nacional de Singapura. Os sauditas e o Bahrein condenaram o que descreveram como um ataque "covarde e terrorista".
O atentado desta segunda-feira coincide com uma visita do presidente sul-coreano Moon Jae-in aos Emirados Árabes Unidos. Segundo o governo coreano, uma reunião bilateral entre Moon e o príncipe herdeiro de Abu Dhabi foi cancelada devido a um "assunto de estado imprevisto e urgente".
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