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Boris pede desculpas à rainha Elizabeth 2ª após festas na véspera do funeral do príncipe Philip

Funcionários do governo quebraram regras do confinamento contra a Covid em meio a luto oficial no país

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BAURU (SP)

Após um novo escândalo, um novo pedido de desculpas.

O gabinete do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, pediu perdão à rainha Elizabeth 2ª nesta sexta-feira (14), depois de a imprensa revelar que funcionários do governo quebraram as regras de confinamento e fizeram festas em Downing Street na véspera do funeral do príncipe Philip.

"É profundamente lamentável que isso tenha acontecido em um momento de luto nacional, e o número 10 [referência à residência oficial do premiê] pediu desculpas ao Palácio", disse um porta-voz de Boris. Segundo o gabinete, o premiê nem sequer foi convidado e estava em Chequers, sua casa de campo.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, em Downing Street, sua residência oficial em Londres - Dylan Martin - 16.dez.21/Reuters

A informação sobre as festas um dia antes do funeral do marido da rainha foi veiculada pelo Telegraph nesta quinta-feira (13). De acordo com o jornal britânico, funcionários do gabinete de Boris beberam álcool em abundância, e alguns convidados dançaram até tarde na despedida do diretor de comunicação James Slack e de um fotógrafo do líder britânico, eventos que ocorreram separadamente.

As festas ocorreram em meio às restrições sanitárias em vigor para conter a propagação da Covid. As medidas marcaram o funeral do príncipe Philip, realizado no dia seguinte —uma cerimônia que teve como símbolo a imagem da rainha Elizabeth 2ª solitária na igreja para cumprir as regras de distanciamento.

Nesta sexta (14), veio outra denúncia. O tabloide Daily Mirror divulgou que os funcionários chegaram a comprar uma geladeira de bebidas para o gabinete e faziam uma espécie de happy hour toda sexta-feira, inclusive nos períodos em que festas particulares em ambientes fechados estavam vetadas. Segundo o jornal, Boris compareceu a vários desses encontros, encorajando que seus funcionários "extravasassem".

Boris enfrenta pedidos de renúncia, inclusive de membros de seu próprio partido, justamente devido às festas na residência oficial no momento em que o Reino Unido estava sob confinamento rígido.

Uma pesquisa divulgada nesta sexta aponta que a oposição, do Partido Trabalhista, abriu dez pontos de vantagem para os conservadores de Boris. Com 42% da preferência, a legenda alcançou sua melhor marca desde 2013 —o partido do premiê ficou com uma fatia de 32%.

No levantamento feito com 2.151 adultos nesta quinta, 70% disseram querer que o primeiro-ministro renuncie.​

A série recente de escândalos começou quando veio à tona outro evento realizado em Downing Street, durante a época do Natal de 2020, quando celebrações presenciais estavam proibidas em razão de restrições sanitárias. O episódio levou à renúncia de uma assessora de Boris.

Já no mês passado, os jornais britânicos The Guardian e The Independent fizeram uma investigação apontando que cerca de 20 funcionários do governo realizaram uma festa em maio de 2020 —mas há relatos de que seriam até 40. Uma foto do evento, regado a queijo e vinho, mostrava o premiê no jardim da residência oficial, o que contrariava sua versão inicial de que não havia ocorrido celebração alguma.

A crise se agravou na segunda (10), quando a rede ITV divulgou um email enviado pelo secretário particular do premiê convidando ao menos cem funcionários do gabinete para a ocasião.

"Após um período incrivelmente movimentado, seria bom aproveitar ao máximo o clima agradável e tomar, com distanciamento social, algumas bebidas, nos jardins do número 10", afirmava a mensagem de Martin Reynolds. "Por favor, junte-se a nós a partir das 18h e traga sua bebida!"

Sob pressão, Boris admitiu pela primeira vez na quarta (12) ter furado as regras de confinamento ao participar da festa. Diante do Parlamento, disse que a indignação causada era compreensível.

Na versão do premiê, ele pensou que o evento era uma reunião de trabalho, já que o jardim da residência oficial funciona, segundo ele, como uma extensão do escritório. Boris afirmou que lá permaneceu por 25 minutos para agradecer aos funcionários e, depois, voltou ao seu escritório.

"Olhando em retrospecto, eu deveria ter mandado todos de volta para dentro, encontrado outra forma de agradecê-los e reconhecido que, ainda que aquilo tecnicamente estivesse dentro das orientações [por ser um ambiente aberto], haveria milhões e milhões de pessoas que não veriam as coisas assim".

"Pessoas que sofreram terrivelmente", seguiu o premiê, "e foram proibidas de encontrar entes queridos, em ambientes internos ou externos; e a eles e a esta Casa eu ofereço minhas sinceras desculpas."

A admissão e o pedido de desculpas, no entanto, não acalmaram os ânimos dos parlamentares, que já vinham submetendo o premiê a um processo de fritura nos últimos meses. A fala de Boris provocou vaias e risadas no Parlamento, em especial dos legisladores da oposição.

Mesmo entre parlamentares conservadores houve manifestações de descontentamento. O premiê foi descrito por colegas de partido como um "morto-vivo" político, e sua declaração, como um "abjeto pedido de desculpas". Para outros, a permanência de Boris no poder tornou-se insustentável.

A secretária de Relações Exteriores, Liz Truss, apontada como possível sucessora de Boris, admitiu que "erros reais" foram cometidos, mas pediu que a crise seja colocada em contexto. "Precisamos olhar para a posição geral em que estamos como país, o fato de que [Boris] entregou o brexit, de que estamos nos recuperando da Covid. Ele se desculpou, acho que agora precisamos seguir em frente."

Os episódios se somam à derrota eleitoral do Partido Conservador numa região que era seu reduto político há 200 anos, tornando-se assim símbolo da imagem em queda do premiê. Na mesma semana, o governo sofreu outra baixa: David Frost, ministro do brexit, renunciou por preocupação com os rumos da gestão.

Duas pesquisas de opinião pública divulgadas na terça (11) apontam que mais da metade dos entrevistados defende que o premiê deve deixar o cargo. Analistas consideram, porém, que a renúncia é improvável, em parte devido à habilidade de Boris de escapar de crises, mas também em razão da ausência de um nome entre os conservadores que reúna apoio para formar maioria no Parlamento.

A polícia britânica, por sua vez, afirmou nesta quinta que não irá investigar os eventos a menos que um inquérito interno do governo encontre evidências de possíveis crimes.

Com Reuters

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