Conservadores acusam governo de chantagear deputados contrários a Boris Johnson

Rebelião liga alerta no partido para manter base no Parlamento; primeiro-ministro nega denúncias

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Londres | AFP

Em uma novela política sem fim, o deputado britânico William Wragg, 34, vice-presidente da Comissão de 1922, órgão que pode lançar uma moção de desconfiança contra o premiê Boris Johnson, denunciou nesta quinta (20) uma ação de intimidação contra parlamentares favoráveis à saída do líder britânico.

O primeiro-ministro enfrenta forte pressão no Partido Conservador, do qual faz parte, devido à revelação de que a residência oficial foi palco de festas durante o período de lockdown no país. Parlamentares da legenda, principalmente de uma ala mais jovem, defendem a renúncia de Boris, e a tensão em torno da crise cresceu nesta quarta, quando o o ex-ministro David Davis, que comandou entre 2016 e 2018 as ações do governo britânico para deixar a União Europeia, disse ao premiê: "Em nome de Deus, vá".

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, discursa durante debate no Parlamento, em Londres
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, discursa durante debate no Parlamento, em Londres - Jessica Taylor - 19.jan.22/Parlamento do Reino Unido/Reuters

A postura contrária ao líder conservador, segundo Wragg, gerou uma campanha de chantagem, e, "nos últimos dias", afirmou ele numa nota, "parlamentares sofreram pressão e foram intimidados por membros do governo depois de terem assumido o desejo de uma moção de desconfiança da liderança de Boris".

"Além disso, os relatos de que tenho conhecimento parecem constituir chantagem", disse o político, que recomendou aos colegas denunciar o que sabem ao presidente da Câmara britânica e à polícia.

Durante visita a um centro médico em Taunton, no sudoeste da Inglaterra, Boris disse não ver "nenhuma evidência para apoiar essas acusações" e se recusou a responder a perguntas sobre se renunciaria caso ficasse provado que ele quebrou regras anti-Covid ou como lidaria com uma tentativa de tirá-lo do poder.

Segundo o jornal The Telegraph, 11 pedidos de renúncia já foram protocolados até esta quarta (19), dia em que o deputado conservador Christian Wakeford se levantou da bancada do governo e atravessou a Câmara dos Comuns para se sentar com a oposição. "Você e o Partido Conservador como um todo se mostraram incapazes de fornecer a liderança e o governo que este país merece", disse o deputado de 37 anos.

Wakeford reforçou a declaração de Wragg e afirmou que o governo ameaçou reter o financiamento para uma nova escola em seu reduto eleitoral caso ele se recusasse a votar com os conservadores. "Trata-se de uma cidade [Radcliffe] que não teve uma escola secundária por quase dez anos. Como você se sente quando barram a recuperação de uma cidade devido a um voto? Não foi confortável."

Como ele, muitos conservadores são críticos da postura de Boris, e alguns dele escreveram cartas ao Comitê de 1922 pedindo uma ação para expulsá-lo do comando do partido e, portanto, de Downing Street.

Mas, para isso, são necessárias 54 cartas, ou 15% dos 360 membros da bancada governista, e a rebelião parece ter esfriado justamente devido ao movimento vira-casaca. Num momento em que pesquisas dão aos trabalhistas vantagem de mais de 10 pontos percentuais, a deserção assustou alguns conservadores.

"O primeiro-ministro provavelmente agradecerá a Christian, porque ele fez muitas pessoas pensarem duas vezes", disse o deputado Andrew Percy à BBC. "Acho que as pessoas reconheceram que, na realidade, esse constante olhar para o umbigo e o debate interno só beneficiam nossos oponentes políticos."

Segundo alguns meios de comunicação britânicos, parte dos rebeldes, que acusam Boris de mentir ao Parlamento sobre o que sabia sobre as muitas festas organizadas em Downing Street durante os confinamentos contra a Covid-19, até teria retirado suas cartas já apresentadas ao Comitê de 1922.

Embora na semana passada tenha se desculpado, o premiê negou ter infringido qualquer regra e pediu que se aguardassem as conclusões de uma investigação interna liderada pela segunda-secretária de gabinete, Sue Gray. O editor de política da ITV escreveu no Twitter que Gray encontrou um email de um alto funcionário alertando o principal secretário de Boris de que uma festa em 20 de maio de 2020 não deveria ocorrer.

Nesta quarta, o primeiro-ministro se defendeu de forma muito combativa das acusações, numa posição que espera manter até às próximas eleições legislativas, marcadas para 2024. Antes, dissera ao Parlamento ter pensado que o encontro era uma reunião de trabalho, já que o jardim da residência oficial funciona, de acordo com ele, como uma extensão do escritório. O premiê afirmou que permaneceu no local por 25 minutos para agradecer aos funcionários e voltou ao seu gabinete.

Tentando recuperar o controle do noticiário, Boris anunciou a retirada, a partir da próxima semana, das restrições impostas na Inglaterra em dezembro contra a variante ômicron —cuja onda parece dar sinais de diminuir—, incluindo teletrabalho, uso de máscaras em locais fechados e passaporte sanitário para grandes eventos.

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