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Boris retira restrições contra Covid na Inglaterra, 1ª grande economia da Europa a se abrir

Medida suspende isolamento obrigatório e testes gratuitos e não vale para o restante do Reino Unido

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Londres | Reuters

Contrariando a orientação de especialistas, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou nesta segunda-feira (21) que vai retirar todas as restrições ainda em vigor para conter a Covid-19 na Inglaterra, incluindo o isolamento obrigatório de pessoas contaminadas.

A estratégia, batizada "convivendo com a Covid", foi anunciada apenas um dia após a rainha Elizabeth 2ª receber o diagnóstico da doença. A princípio, os anúncios não valem para Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, que compõem o Reino Unido juntamente com a Inglaterra.

Primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, durante entrevista coletiva em Munique, na Alemanha
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, durante entrevista coletiva em Munique, na Alemanha - Matt Dunham - 19.fev.22/AFP

O relaxamento é considerado prematuro por especialistas, que ​temem que o plano deixará o país vulnerável a novas variantes do coronavírus. Além do fim do isolamento obrigatório, marcado para 24 de fevereiro, o governo também vai deixar de distribuir testes gratuitos para detecção da doença a a partir de 1º de abril.

A ideia de abandonar o que resta de restrições é uma prioridade para muitos legisladores do Partido Conservador —a legenda de Boris—, cujo descontentamento com a liderança do primeiro-ministro, que enfrenta uma série de escândalos por ele mesmo furar restrições em seu gabinete, ameaçou sua estabilidade no cargo. Críticos afirmam que o anúncio de suspender restrições também é uma tentativa de desviar a atenção desses escândalos.

O Reino Unido soma mais de 160 mil mortes pela Covid-19, sétima maior cifra no mundo.

O anúncio coloca o país como a primeira grande economia da Europa a permitir que pessoas infectadas frequentem lojas e transporte público sem restrições e trabalhem presencialmente. Enquanto outros países europeus mantêm as regras de distanciamento social e a obrigatoriedade das vacinas, Boris tem dito que é hora de a população assumir a responsabilidade e retomar liberdades individuais.

"As restrições representam um grande custo a nossa economia, a nossa sociedade, a nosso bem-estar mental e às chances de vida de nossos filhos. E não precisamos mais pagar esse custo", disse o premiê ao Parlamento. "Então, vamos aprender a conviver com esse vírus e continuar protegendo a nós mesmos e aos outros sem restringir nossas liberdades".

Os governos de Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte têm suas próprias restrições contra a Covid-19, mas dependem de dinheiro do Reino Unido para distribuir testes à população.

A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, criticou o anúncio: "Permitir o desmantelamento significativo da infraestrutura de testes construída nos últimos dois anos seria uma negligência imperdoável, dados os riscos contínuos".

Boris afirmou que o governo vai manter algumas estruturas de vigilância para tentar conter novas variantes, mas justificou o plano dizendo que a variante ômicron tem causado doenças menos graves.

"É apenas porque sabemos que a ômicron é menos grave. Os testes em escala colossal que temos feito são muito menos importantes e muito menos valiosos na prevenção de doenças graves", disse. "Isso teve um grande custo. Agora devemos reduzir isso."

O primeiro-ministro afirmou que os testes permanecerão disponíveis para grupos de risco e equipes de assistência social e disse que trabalhará com o comércio para permitir que qualquer pessoa possa comprar testes se desejar.

A Inglaterra vê uma queda acentuada no número de casos após a nova cepa levar ao maior pico desde o início da pandemia. Nesta segunda, foram 29.753 infecções, bem abaixo das 150 mil registradas no início de janeiro.

As mortes tiveram uma leve alta, mas ficaram bem longe do que foi visto em janeiro de 2021. A curva de hospitalizações, apesar de um maior crescimento, apresentou comportamento semelhante.

O premiê, por sua vez, já afirmou não querer que as pessoas "joguem a cautela pela janela". Com ampla cobertura vacinal — 71,6% estão com esquema completo—, o plano do governo é fazer com que a imunização deixe de ser uma obrigação imposta pelo Estado e passe a figurar no nível da responsabilidade pessoal.

Para especialistas, porém, é impossível prever o quão rápido o comportamento das pessoas irá mudar, já que a maioria continua a evitar regiões movimentadas e usar máscaras mesmo após essas regras deixarem de existir.

Também houve divergências dentro do próprio governo em torno do fim das restrições, com um atrito entre os ministros da Saúde e das Finanças, Sajid Javid e Rishi ​Sunak, respectivamente, sobre o financiamento de algumas das medidas, segundo a mídia local.

Uma divisão entre conservadores já havia ocorrido em dezembro do ano passado, quando medidas mais duras para conter o surto da ômicron, apresentadas como "Plano B", foram aprovadas no Parlamento, mas expuseram um racha no partido de Boris.

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