Descrição de chapéu Rússia Europa

EUA fazem jogo duplo, e Ucrânia pede que 'previsões apocalípticas' sejam ignoradas

Americanos negam querer guerra, mas vazam relatório sobre ação russa para tomar Kiev em menos de 48 h

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington | AFP e Reuters

Dias após anunciar o envio de cerca de 3.000 soldados para a Europa, os EUA afirmaram neste domingo (6) que não pretendem iniciar uma guerra com a Rússia, que mobilizou 110 mil militares na fronteira com a Ucrânia e dá sinais, segundo o governo americano, de que uma invasão pode ocorrer em breve.

"O presidente deixa claro há meses que os EUA não estão enviando forças para iniciar uma guerra ou entrar em uma guerra contra a Rússia na Ucrânia", afirmou Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden, em entrevista à rede americana NBC neste domingo. O primeiro contingente de soldados americanos chegou à Polônia no sábado (5).

O governo ucraniano, por sua vez, por meio de Myhailo Podoliak, conselheiro-chefe do presidente Volodimir Zelenski, tem tentado reduzir as tensões e voltou a dizer que a possibilidade de resolver a crise com a Rússia por meio da diplomacia segue maior do que a chance de um ataque militar. ​

Estrangeiros residentes em Kiev e ucranianos carregam bandeiras dos EUA em manifestação contra invasão russa - Valentyn Ogirenko/Reuters

No Twitter, o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, reforçou o coro e pediu que a população "não acredite em previsões apocalípticas". "Hoje, a Ucrânia tem um Exército forte, apoio internacional sem precedentes e a fé dos ucranianos em seu país. O inimigo deve ter medo de nós, não nós deles."

Para Jake Sullivan, entretanto, "uma escalada militar e uma invasão poderiam ocorrer a qualquer momento". "Acreditamos que os russos já colocaram em marcha capacidades para uma operação militar significativa", disse. Segundo o assessor do governo americano, entre as opções russas estão a anexação da região de Donbass, onde separatistas apoiados pela Rússia romperam com o controle do governo em 2014, ou mesmo uma invasão em larga escala do país. Ataques cibernéticos também estão sobre a mesa.

No fim de semana, a inteligência americana começou a vazar relatórios à imprensa sobre o que aconteceria se a Rússia optasse por um ataque de grandes proporções. A invasão, para a Casa Branca, poderia tomar a capital Kiev e derrubar Zelenski em até 48 horas, além de matar de 25 mil a 50 mil civis.

Entre as baixas também poderia haver entre 5.000 e 25 mil soldados ucranianos mortos e entre 3.000 e 10 mil soldados russos. A ação também poderia desencadear uma avalanche de refugiados, de 1 milhão a 5 milhões de pessoas, principalmente para a Polônia, de acordo com a Casa Branca.

Funcionários da inteligência americana também disseram ao Congresso dos Estados Unidos que as forças russas têm crescido em ritmo constante e que Putin terá poder de fogo para uma invasão em grande escala, com cerca de 150 mil soldados, em poucas semanas.

Apesar de já ter reunido 110 mil tropas na fronteira, a Rússia nega planos de invadir o vizinho, mas diz que pode agir caso suas exigências de segurança não sejam atendidas, como o compromisso de que a Otan, a aliança militar ocidental, nunca admitirá a entrada da Ucrânia no clube e o recuo do grupo a seu tamanho antes da absorção de membros ex-comunistas —pontos que os americanos consideram inaceitáveis.

Neste domingo, o presidente francês, Emmanuel Macron, voltou a falar com Biden, em um esforço de coordenação antes de sua viagem a Moscou nesta segunda. O telefonema de 40 minutos serviu para que os dois líderes "compartilhassem informações sobre contatos feitos durante o fim de semana".

Moscou, por sua vez, mesmo que negue a intenção de invadir a Ucrânia, segue mostrando os dentes, com manobras militares conjuntas com Belarus e o envio, de acordo com a inteligência americana, de batalhões para o norte de Kiev e para a região de Brest, próximo da fronteira com a Polônia.

Há duas semanas, 60 batalhões do Exército russo se posicionaram ao norte, a leste e a sul do país vizinho, particularmente na península da Crimeia, anexada pela Rússia depois de uma invasão em 2014. Na sexta-feira o número cresceu para 80 batalhões, e outros 14 estavam a caminho a partir de outras partes do país, também segundo autoridades americanas. Além disso, cerca de 1.500 soldados das forças especiais russas conhecidas como Spetsnaz foram enviados ao longo da fronteira com a Ucrânia há uma semana.

Imagens de satélite de uma empresa privada dos EUA, a Maxar, publicadas neste domingo, mostram manobras militares na fronteira de Belarus com a Ucrânia, antes dos exercícios conjuntos anunciados por Moscou e Minsk que a Otan chamou de o maior destacamento militar para o país desde a Guerra Fria.

Imagens de satélite mostram unidades militares em Rechitsa, na Belarus, próximo à fronteira com a Ucrânia
Imagens de satélite mostram unidades militares em Rechitsa, na Belarus, próximo à fronteira com a Ucrânia - Maxar Technologies via AFP

Rússia e Belarus anunciaram exercícios conjuntos entre 10 e 20 de fevereiro, com o objetivo de treinar para reagir a um ataque às fronteiras ao sul da aliança. As imagens divulgadas neste domingo mostram que unidades militares armadas com mísseis, lançadores de foguetes e aeronaves de ataque estão em três pontos do território belarusso próximos à fronteira com a Ucrânia.

A Maxar disse ter coletado imagens de equipamentos militares perto de Yelsk, Rechitsa e Luninets em 4 de fevereiro, todos pontos a cerca de 50 quilômetros da fronteira ucraniana. Uma importante força naval russa também está posicionada no Mar Negro, equipada com cinco navios de assalto anfíbio, que poderiam ser usados para desembarcar tropas na costa sul da Ucrânia, segundo os EUA.

Também foram observados outros seis navios anfíbios saindo do Mar de Barents, ao norte da Rússia, e navegando além do Reino Unido e através do Estreito de Gibraltar, aparentemente a caminho do Mar Negro. A Rússia, ainda de acordo com o governo americano, colocou aviões de combate perto da Ucrânia, assim como bombardeiros, baterias de mísseis e antiaéreas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.