EUA prometem enviar respostas formais às demandas da Rússia após reunião em Genebra

Países voltam a discutir situação da Ucrânia e, de novo, saem sem grandes avanços

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Genebra | Reuters

Estados Unidos e Rússia voltaram a se reunir para discutir a situação da Ucrânia e, outra vez, saíram do encontro sem grandes avanços. Nesta sexta-feira (21), os responsáveis pela diplomacia dos dois países, Antony Blinken, do lado americano, e Serguei Lavrov, do russo, conversaram em Genebra, na Suíça.

Após a reunião, as falas do chanceler do presidente Vladimir Putin, em entrevista coletiva, não fugiram do usual: ele atacou a Otan, a aliança militar ocidental, negou as acusações de que a Rússia invadirá a Ucrânia e disse que o encontro desta sexta não foi o fim das negociações.

Do outro lado, Blinken também repetiu o roteiro: afirmou que a Rússia vai enfrentar uma "resposta rápida e severa" se invadir a Ucrânia. "Se alguma força militar russa atravessar a fronteira, será uma nova invasão."

Os chefes da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, e da Rússia, Sergei Lavrov, em reunião em Genebra, na Suíça - Ministério das Relações Exteriores da Rússia/Reuters

Por outro lado, houve uma novidade, e o secretário de Estado americano concordou com o pedido da Rússia de enviar respostas formais, por escrito, às demandas do Kremlin —a saber, a garantia de que antigas repúblicas soviéticas como Ucrânia, Geórgia ou Moldova não integrarão a Otan e a retirada de tropas do grupo de países ex-comunistas, freando a presença nas vizinhanças russas.

Em todas as oportunidades anteriores, como num encontro entre representantes do clube militar e do governo russo, as exigências foram negadas, e o secretário-geral do órgão, o norueguês Jens Stoltenberg, embora tenha celebrado a existência da reunião, disse haver "um risco real de conflito armado na Europa".

A cúpula desta sexta é mais uma de uma série de reuniões após Moscou posicionar mais de 100 mil soldados na fronteira com a Ucrânia, disparando o alarme entre países ocidentais de que Putin pode invadir o país. O movimento traz à memória 2014, quando a derrubada do governo pró-Kremlin em Kiev levou a Rússia a anexar a Crimeia e a apoiar a guerra civil de separatistas étnicos russos no Donbass.

A existência de disputas territoriais é um impedimento formal à entrada da Ucrânia na Otan, cujas regras barram o ingresso de países nessas condições —o que explica, em partes, a postura de Moscou.

Para o chefe da diplomacia russa, que não descartou uma nova cúpula entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin, como ocorreu justamente em Genebra no começo do mandato do democrata à frente dos Estados Unidos, as respostas americanas dirão se o diálogo está no caminho certo. De acordo com a agência estatal russa de notícias RIA, ambos os países podem realizar um novo encontro no próximo mês.

Blinken também se esforçou para dar um ar de normalidade e afirmou ser importante continuar o diálogo pelas vias diplomáticas. "Baseado nas conversas que tivemos, nas longas conversas, ao longo da última semana e hoje aqui em Genebra, acredito que há bases e caminhos para discutir algumas das preocupações mútuas que temos sobre segurança", disse.​

O secretário americano também abordou, durante o encontro, outra questão que preocupa os dois países, as negociações para salvar o acordo nuclear com o Irã. Para Blinken, o tema é um exemplo de como EUA e Rússia podem trabalhar juntos. O diplomata pediu a Lavrov que Moscou use sua influência e relacionamento com Teerã para transmitir ao país persa o "senso de urgência" que o problema demanda, já que "há apenas uma pequena janela para levar o pacto de 2015 a um fim exitoso".

Apesar de Lavrov dizer nesta sexta esperar um esfriamento das tensões em torno da Ucrânia, os movimentos recentes da Rússia sugerem o contrário. Na quinta, o Kremlin anunciou a realização de exercícios navais com o Irã e a China, dois dos maiores adversários dos EUA hoje e, antes, Moscou enviou tropas e equipamentos militares a Belarus para a realização de exercícios conjuntos.

Os russos também ameaçaram deixar os diálogos e, sacando uma arma da época da Guerra Fria, sugeriram que podem enviar tropas para Venezuela e Cuba, posicionando-se próximo aos EUA.

Nesta sexta, a Otan também elevou o tom ao negar um pedido russo de retirar suas tropas da Bulgária e da Romênia. "As exigências criariam membros da Otan de primeira e segunda classe, e não podemos aceitar isso", disse a porta-voz Oana Lungescu, acrescentando que a aliança "não desiste" de defender seus membros.

A reação aos anúncios e às declarações tiveram repercussões, mas principalmente no campo da retórica: a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, ao se encontrar com Lavrov, em Moscou, disse que o custo para defender Kiev será grande —e que a Alemanha está disposta a pagá-lo.

Ela se referia, na prática, ao Nord Stream 2, caso a energia seja usada como arma pelos russos. O gasoduto liga a Alemanha à Rússia e ficou pronto recentemente, mas sua operação foi suspensa e ainda não iniciada, com a possibilidade de ser autorizada apenas em junho.

Nesta quinta, líderes de Reino Unido, França e Alemanha —que se reuniram com Blinken em Berlim— também se esforçaram para demonstrar, por meio de declarações públicas, união em defesa da Ucrânia.

O britânico Boris Johnson, que luta para se segurar no cargo de primeiro-ministro após uma série de crises internas, afirmou que, "se a Rússia fizer qualquer tipo de incursão na Ucrânia, em qualquer escala, será um desastre, não apenas para a Ucrânia como também para a Rússia".

As declarações foram dadas após uma gafe de Biden, para quem os países ocidentais estavam divididos sobre como reagir a uma "pequena incursão" da Rússia na Ucrânia. Em entrevista para marcar o aniversário de um ano de mandato, o democrata afirmou que, "se for uma pequena incursão, acabaremos tendo que discutir sobre o que fazer". Depois, disse que uma invasão de fato "seria um desastre para a Rússia".

A declaração pegou mal e, logo após o término da coletiva, a Casa Branca correu para dizer que o presidente não toleraria nenhuma incursão, por menor que fosse. "Se qualquer força militar russa atravessar a fronteira ucraniana, será uma nova invasão, e ela será recebida com uma resposta rápida, severa e unida dos EUA e dos nossos aliados", disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.

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