Itamaraty celebra 30 anos de relação com Ucrânia às vésperas de ida de Bolsonaro à Rússia

Diplomacia brasileira elogia 'valiosa contribuição' de ucranianos'; Kiev vive grave tensão com Moscou

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São Paulo

Três dias antes da viagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia, o Itamaraty divulgou uma nota nesta sexta-feira (11) celebrando as relações diplomáticas do Brasil com a Ucrânia, que vive uma grave crise com Moscou sob a iminência de uma invasão russa.

O texto do Ministério das Relações Exteriores fala do aniversário de 30 anos do estabelecimento de relações diplomáticas com Kiev, quando foram abertas embaixadas mútuas nos dois países. "Desde que o governo brasileiro reconheceu a independência ucraniana, em dezembro de 1991, Brasil e Ucrânia mantiveram múltiplos contatos de alto nível entre seus mandatários", diz o texto.

O Itamaraty menciona ainda uma parceria estratégica estabelecida entre os dois países em 2009 nos setores espacial, de defesa e de saúde, e acrescenta que o comércio bilateral praticamente triplicou, em 2021, na comparação com o período inicial das relações diplomáticas, na década de 1990.

"O Brasil celebra a valiosa contribuição da comunidade de ucranianos e seus descendentes em nosso país —estimada em 500 mil pessoas— para o desenvolvimento nacional. Nomes célebres, como a escritora Clarice Lispector, nascida na Ucrânia, marcaram a formação cultural do povo brasileiro", continua o texto.

A visita de Bolsonaro à Rússia está programada para começar na segunda-feira (14), com encontros com o líder russo, Vladimir Putin.

Em entrevista à Folha nesta quinta (10), Melvyn Levitsky, ex-embaixador dos EUA no Brasil (1994-1998) e que também trabalhou na diplomacia americana em Moscou, criticou a visita, afirmando que "dá um sinal errado ao mundo".

Os EUA chegaram a pressionar o governo Bolsonaro a cancelar a viagem, em mais uma ação para tentar isolar Putin. Diplomatas americanos expressaram preocupação com o timing da visita, já que, na avaliação da Casa Branca, a recepção de Bolsonaro pelo russo passaria a mensagem de que o Brasil apoia as ações do Kremlin no Leste Europeu, algo que os EUA consideram uma violação do direito internacional.

Desde novembro, Putin resolveu emparedar o Ocidente e apresentou um ultimato para cristalizar sua visão estratégica de ter o antigo entorno da União Soviética neutro ou aliado.

O Kremlin, que deslocou mais de 100 mil soldados para regiões próximas do país vizinho, teme que Kiev se junte à Otan, a aliança militar ocidental, o que aumentaria a influência dos Estados Unidos e de países europeus às portas da Rússia. Atualmente, a organização já abriga os Estados bálticos (Lituânia, Estônia e Letônia), ex-repúblicas da União Soviética, algo que Putin também gostaria que fosse revertido.

​Em dezembro, quando aceitou o convite de Putin para fazer a visita, Bolsonaro disse que se sentia honrado e que a viagem traria oportunidades para a economia brasileira.

O presidente levará em sua comitiva a cúpula da Secretaria da Cultura, comandada pelo ator Mário Frias, um dos mais radicais apoiadores do presidente.

Outros bolsonaristas que cercam o secretário também devem participar da viagem, como André Porciuncula (secretário de Fomento), Felipe Cruz Pedri (secretário de Audiovisual), Raphael Azevedo (chefe de gabinete) e Hélio Ferraz (secretário-adjunto).

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