Descrição de chapéu Governo Biden

Ketanji Brown Jackson é indicada para ser 1ª juíza negra da Suprema Corte dos EUA

Magistrada nomeada por Biden atuava na Justiça federal e estudou direito em Harvard

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington

O presidente dos EUA, Joe Biden, nomeou Kentanji Brown Jackson como nova juíza da Suprema Corte do país, informou a Casa Branca nesta sexta (25). Se confirmada pelo Senado, ela será a primeira mulher negra a ocupar o cargo desde a criação da corte, em 1789. A posse está prevista para outubro.

Ao anunciar a indicação, Biden disse que Jackson é conhecida por suas decisões sempre feitas com cuidado e por considerar como as leis vão impactar as pessoas comuns.

"Isso não significa que ela será tendenciosa. Ela entende o impacto amplo das decisões, seja se os casos lidam com direitos trabalhistas ou serviços do governo. Ela se preocupa em garantir que a democracia funcione para o povo americano", disse o presidente, em cerimônia na Casa Branca, ao lado da indicada e da vice-presidente Kamala Harris.

A juíza Ketanji Brown Jackson discursa na Casa Branca, à frente do presidente Joe Biden - Saul Loeb - 25.fev.22/AFP

Ao discursar após a indicação, Jackson, 51, agradeceu a Deus e ao apoio da família por ter chegado a este momento. "Quando eu era criança, meu pai decidiu mudar de carreira, e foi da escola pública para a faculdade de direito. Algumas das minhas primeiras memórias são de ver ele sentado na mesa da cozinha, lendo livros jurídicos. Vi ele estudando e ele se tornou meu primeiro exemplo profissional", disse.

Ela também comentou que teve um tio condenado à prisão perpétua por tráfico de drogas e que outros familiares fizeram carreira nas forças de segurança: seu irmão foi policial em Baltimore e depois entrou para o Exército, pelo qual esteve em missões no Oriente Médio. E dois outros tios são policiais, sendo que um deles foi chefe de polícia em Miami.

Jackson disse ter como inspiração Constance Motley (1921-2005), primeira negra a ser nomeada como juíza federal, em 1966. "Compartilho com ela o compromisso firme e corajoso pela igualdade na Justiça perante a lei. Se eu for afortunada o suficiente para ser confirmada como nova juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos, só posso esperar que minha vida, minha carreira, meu amor por este país e pela Constituição sobre a qual esta grande nação foi criada, vá inspirar futuras gerações de americanos", concluiu.

Jackson já havia sido nomeada por Biden em junho de 2021 para a Corte de Apelações do Distrito de Columbia. A indicação foi aprovada no Senado na época por 53 a 44, com três votos de republicanos. Antes, ela atuou na Corte Distrital do Distrito de Columbia, para a qual foi nomeada em 2013 pelo presidente Barack Obama.

No cargo, ela analisou processos envolvendo atos da Presidência e barrou uma tentativa do então presidente Donald Trump de ampliar a deportação de imigrantes sem ouvi-los em audiências e impediu três ordens executivas dele para limitar os direitos de trabalhadores federais, como a filiação a sindicatos.

Ketanji Brown Jackson, indicada de Biden para a Suprema Corte - Tom Williams - 28.abr.21/AFP

Jackson também fez parte do painel de três juízes que deu aval para que o Congresso obtenha acesso aos registros da Casa Branca relacionados a 6 de janeiro de 2021, quando houve a invasão ao Capitólio. A Suprema Corte depois confirmou a decisão.

Outras de suas decisões foram favoráveis ao republicano, como a autorização da dispensa do estudo de impacto ambiental na construção do muro na fronteira com o México.

Em questões relacionadas a direitos reprodutivos, decidiu contra uma tentativa do governo Trump de cortar recursos para um programa de prevenção à gravidez na adolescência e, quando advogada, deu apoio jurídico para ajudar a manter uma proibição estadual em Massachussets de que ativistas antiaborto constrangessem mulheres em busca de atendimento médico.

Ela nasceu em Washington, em 1970, filha de um advogado e de uma diretora de escola. Seus pais estudaram em escolas segregadas, no sul dos EUA, nas quais alunos brancos e negros deveriam ir a instituições diferentes. Depois, eles cursaram universidades voltadas para negros e começaram a carreira como professores na rede pública de Miami.

Jackson cresceu em Miami, destacando-se em torneios de debate e oratória, e estudou direito em Harvard, universidade na qual foi subeditora da Harvard Law Review. Após se formar, foi assistente de alguns juízes, incluindo Stephen Breyer, 83, integrante da Suprema Corte que anunciou que se aposentará ao final do atual ano jurídico, em outubro, e abriu caminho para a nova nomeação.

Nos anos 2000, alternou períodos como advogada e defensora pública, em que atendia pessoas sem dinheiro. Se for confirmada, Jackson será a primeira ex-defensora pública a chegar à Suprema Corte.

Em 2009, foi indicada por Obama para a vice-presidência do órgão responsável por definir as bases para sentenças federais. Durante seu mandato, o departamento recomendou a redução nas penas para crimes ligados ao porte de drogas.

Jackson mora atualmente em Washington. Ela é casada com Patrick, chefe da divisão de cirurgia geral no hospital da universidade Georgetown, com quem tem duas filhas.

A Suprema Corte dos EUA é a mais alta instância judicial do país e tem poder para decidir os rumos do país em áreas sensíveis. Atualmente, a corte tem seis magistrados de orientação conservadora e três que costumam votar de modo mais liberal. A nova nomeação não mudará este quadro.

Um dos temas em análise pela corte é o direito ao aborto, que foi liberado por uma decisão do próprio tribunal, em 1973. Nos últimos anos, vários estados americanos aprovaram leis para restringir a prática, e ao analisar a legalidade dos procedimentos de um deles, o tribunal poderá mudar seu entendimento sobre o tema. O sonho de muitos conservadores é que uma nova decisão derrubasse a decisão de 1973, abrindo caminho para vetar o aborto.

A indicação de Biden precisará ser aprovada no Senado, por maioria simples. Os democratas possuem hoje 50 votos (de um total de cem), mais o poder de desempate da vice-presidente Kamala Harris. O processo de avaliação deve durar em torno de um mês. Assim, sobraria tempo para que a nova indicada poderia tomar posse antes das eleições de meio de mandato, nas quais os democratas correm o risco de perder as estreitas maiorias na Câmara e no Senado.

A escolha foi vista como um aceno do presidente ao eleitorado negro, que deu boa votação aos democratas em 2020, mas que hoje tem lideranças fazendo críticas a ele. Em janeiro, por exemplo, o presidente foi à Geórgia fazer um ato em defesa de mudanças para facilitar o acesso ao voto, mas o evento foi boicotado por alguns líderes negros, que pediam mais ações e menos discursos.

A nova juíza será apenas a terceira pessoa negra a ser nomeada para a Suprema Corte em 232 anos. O primeiro foi Thurgood Marshall, indicado pelo democrata Lyndon Johnson em 1967 —​ele se aposentou em 1991 e morreu em 1993. O segundo é Clarence Thomas, no cargo desde 1991, quando foi indicado pelo republicano George Bush.

Entre as mulheres, a primeira a chegar ao posto foi Sandra O'Connor, em 1981, indicada pelo presidente republicano Ronald Reagan. Desde então, outras quatro já passaram pela corte. Com a vinda de Jackson, a corte terá quase uma paridade entre gêneros, com cinco homens e quatro mulheres, pela primeira vez.


QUEM É QUEM NA SUPREMA CORTE

Ala conservadora

Jonh Roberts, 67
Indicado por George W. Bush em 2005. Ainda que seja considerado conservador, o atual presidente da Corte às vezes atua de forma moderada

Clarence Thomas, 73
Indicado por George Bush pai em 1991

Samuel Alito, 71
Indicado por George W. Bush em 2006

Neil Gorsuch, 54
Indicado por Donald Trump em 2017

Brett Kavanaugh, 57
Indicado por Trump em 2018

Amy Coney Barrett, 50
Indicada por Trump em 2020

Ala progressista

Stephen Breyer, 83 (se aposenta em outubro)
Indicado por Bill Clinton em 1994

Sonia Sotomayor, 67
Indicada por Barack Obama em 2009

Elena Kagan, 61
Indicada por Obama em 2010​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.