Brasil fica fora da lista de países considerados hostis por Putin

País condenou guerra da Ucrânia na ONU, mas Bolsonaro se recusa a criticar aliado

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São Paulo

O Kremlin divulgou nesta segunda-feira (7) uma lista de países considerados hostis à Rússia. O Brasil, cujo presidente Jair Bolsonaro visitou Vladimir Putin na semana anterior ao início da guerra na Ucrânia e tem pregado neutralidade no conflito, não está nela.

A relação foi elaborada para normatizar um decreto assinado por Putin no sábado (5), que estabeleceu critérios de relações comerciais com outros países enquanto durar o conflito no vizinho.

Bolsonaro cumprimenta Putin após reunião no Grande Palácio do Kremlin
Bolsonaro cumprimenta Putin após reunião no Grande Palácio do Kremlin - Alan Santos - 16.fev.2022/Presidência da República

São considerados hostis Austrália, Albânia, Andorra, Reino Unido, os 27 países da União Europeia, Islândia, Canadá, Liechtenstein, Micronésia, Mônaco, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, San Marino, Macedônia do Norte, Singapura, Estados Unidos, Taiwan, Ucrânia, Montenegro, Suíça e Japão.

Todas essas nações aplicaram algum tipo de sanção contra o governo russo depois da invasão iniciada no dia 24 de fevereiro. O Brasil, como se sabe, nada fez na prática, embora tenha votado a favor da resolução da ONU (Organização das Nações Unidas) condenando a guerra.

Ao mesmo tempo, seu embaixador na entidade discursou condenando também as sanções, seguindo a tradição de busca de distanciamento do Itamaraty. Com o presidente, contudo, a situação é algo diferente.

Quando se encontrou com Putin, em 16 de fevereiro, Bolsonaro disse que "o Brasil é solidário à Rússia" num momento em que Estados Unidos e a Otan, a aliança militar ocidental, diziam havia semanas que os exercícios militares russos em torno da Ucrânia prenunciavam uma invasão.

Depois, com a guerra já em curso, no dia 27 Bolsonaro disse que manteria a neutralidade por temer retaliações no fornecimento de fertilizantes ao Brasil —23% dos insumos consumidos no Brasil em 2021 vieram da Rússia. "Para nós, a questão do fertilizante é sagrada", afirmou.

Não deu necessariamente certo: na sexta-feira (4), o governo russo recomendou aos fabricantes do produto que suspendessem suas exportações até que fosse encontrada uma saída para regularizar o fluxo de envio de produtos ao exterior.

As maiores transportadoras marítimas do mundo pararam de trabalhar em portos russos, temendo serem atingidas pelas sanções decretadas pelos EUA e outros países a quem fizer negócio com Moscou. Ainda assim, Bolsonaro parece que manterá o argumento, apoiado por setores do agronegócio.

Em uma live, Bolsonaro ainda repreendeu seu vice, Hamilton Mourão, que condenou a guerra. Disse que só ele poderia falar sobre o assunto. O assunto pressiona o presidente até em sua base eleitoral, que tem feito insistentes cobranças de uma posição mais dura por parte do Planalto.

Enquanto isso, seus adversários na corrida presidencial de outubro se posicionaram contra Putin, com maior ou menor assertividade. Pelo decreto de Putin, países "que cometem ações hostis contra a Rússia, empresas e cidadãos russos" poderão ter obrigações financeiras pagas por qualquer pessoa ou entidade russas em rublos, a partir de contas especiais abertas no país de Putin.

A medida deve valer enquanto houver controle de capitais no país e é mais uma tentativa de evitar a insolvência de empresas —títulos emitidos em dólar e euro tiveram forte depreciação com as sanções ocidentais, e papéis de gigantes como a estatal de gás Gazprom estão sendo disputados no mercado.

A resposta do Banco Central russo foi reduzir o acesso a moeda estrangeira, o que impacta a capacidade de pagamento no exterior dos russos. A nova medida é temporária e atinge apenas pagamentos superiores a 10 milhões de rublos (R$ 365 mil) mensais.

O que se sabe da guerra da Ucrânia e a invasão russa

Perguntas e respostas sobre o conflito

  1. O que quer Putin com a invasão da Ucrânia?

    A prioridade do presidente russo é evitar que a Ucrânia, ou qualquer outro país ex-soviético, entre na Otan e, de forma secundária, na União Europeia.

  2. O que a Otan tem a ver com o conflito?

    Em 2008, a aliança militar ocidental prometeu incorporar a Ucrânia e a Geórgia. Isso levou a Rússia a invadir a Geórgia meses depois e bloquear a adesão do país ao grupo.

  3. Como o Ocidente reagiu à invasão?

    Governos da Europa e dos EUA endureceram sanções contra a Rússia, enviaram armas ao Exército ucraniano e excluíram bancos russos da plataforma financeira global Swift.

  4. Como as sanções afetaram a economia da Rússia?

    O rublo caiu a mínimas históricas desde a invasão. Para conter a desvalorização da moeda, o Kremlin proibiu residente da Rússia de transferir dinheiro para o exterior.

  5. O que os russos pensam da guerra?

    Embora Putin mantenha apoio popular relevante, diversos ativistas, celebridade e até oligarcas ligados ao Kremlin criticaram a guerra, e milhares de manifestantes foram presos.

  6. Quem é Zelenski, presidente da Ucrânia alvo de Putin?

    O ator e comediante de 44 anos foi eleito líder do país após ficar famoso interpretando um presidente ucraniano em uma série de TV. Agora, lidera a resistência à invasão russa.

  7. A Ucrânia já não estava em guerra civil antes da invasão?

    Sim. Em 2014, após a queda do governo aliado do Kremlin em Kiev, Putin anexou a Crimeia e insuflou uma guerra civil no leste ucraniano que estava congelada nos últimos anos.

  8. Qual a posição do Brasil sobre o conflito?

    O presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu a neutralidade sobre a crise na Ucrânia. Já a diplomacia do país tem se manifestado na ONU contra a invasão pela Rússia

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