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Moscou anuncia corredores humanitários até Rússia e Belarus, mas Ucrânia rejeita

Kiev acusa Kremlin de manipulação; terceira rodada de negociações na Belarus termina sem avanços significativos

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São Paulo

​​A Ucrânia rejeitou nesta segunda (7) o anúncio feito pela Rússia para a abertura de novos corredores humanitários. Mais cedo, Moscou informou que planeja abrir caminho para que civis saiam do país com destino à Rússia ou à Belarus.

Segundo a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereschuk, a abertura das rotas para a Rússia ou para o país vizinho aliado de Moscou é uma tentativa de manipular a opinião internacional, sobretudo a do presidente da França, Emmanuel Macron, que telefonou ao líder russo, Vladimir Putin.

"[O corredor] não é uma opção aceitável", disse Vereschuk. "Espero que Macron entenda que seu nome e seu desejo sincero de ajudar estão na realidade sendo manipulados pela Federação Russa", disse ela.

Mulher recebe ajuda de militares ucranianos para atravessar ponte destruída em Irpin, na Ucrânia
Mulher recebe ajuda de militares ucranianos para atravessar ponte destruída em Irpin, na Ucrânia - Aris Messinis - 5.mar.22/AFP

Além de acusar Moscou de tentar manipular a opinião pública, o governo ucraniano também classificou a iniciativa como "imoral" porque a Rússia se propõe a levar os civis para seu território.

"Essa é uma história completamente imoral. O sofrimento das pessoas é usado para criar a imagem desejada para a televisão. Esses são cidadãos da Ucrânia, eles devem ter o direito de ser deslocados para o território da Ucrânia", disse um porta-voz do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

Macron, por sua vez, chamou de "cinismo moral e político" a proposta apresentada por Putin. O político francês telefonou ao russo no domingo (6) pedindo um cessar-fogo e recebeu como resposta nesta segunda a proposta dos corredores humanitários.

"Isso não é sério. É de um cinismo moral e político que me parece insuportável", disse o presidente em entrevista ao canal de TV LCI. Para Macron, o gesto russo é hipócrita. "É um discurso que consiste em dizer 'vamos proteger as pessoas e levá-las a Rússia'. Pessoas estão morrendo, estão exaustas. E não conseguimos obter um cessar-fogo".

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou nesta segunda que exortou o Kremlin a "interromper imediatamente as hostilidades e assegurar passagem humanitária segura e acesso à assistência" na Ucrânia.

Michel também reiterou a condenação à invasão russa e a solidariedade à Ucrânia, afirmando que o Conselho deve discutir nos próximos dias o possível ingresso do país na União Europeia —um tópico bastante sensível para a Rússia e frontalmente contra os interesses do Kremlin.

O plano para cessar-fogo e retirada de civis seria viabilizado, em tese, às 10h no horário de Moscou (4h no horário de Brasília). Igor Konachenkov, porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, disse que, ao todo, seis corredores humanitários seriam abertos em cidades ucranianas para permitir que civis escapassem.

Seriam eles: um de Kiev a Gomel (Belarus); dois de Mariupol, sendo um para Zaporíjia e outro para Rostov-do-Don (Rússia); um de Kharkiv a Belgorod (Rússia); e dois de Sumi, sendo um para Belgorod (Rússia) e outro para Poltava. ​Há desconfiança, entretanto, em relação à eficiência da operação. Dois acordos para cessar-fogo em Mariupol e na cidade vizinha de Volnovakha falharam nos últimos dois dias, com ambos os lados se acusando de descumprir o combinado.

Nesta segunda, um dos negociadores da delegação russa acusou a Ucrânia de cometer "crimes de guerra" ao rejeitar os corredores humanitários propostos por Moscou. "Os nacionalistas que assumiram posições nas cidades continuam mantendo civis nas localidades e os usam, direta e indiretamente, inclusive como escudos humanos, o que é claramente um crime de guerra", disse Vladimir Medinski em entrevista a uma TV russa.

A passagem para a retirada de civis foi o tema principal abordado na terceira rodada de negociações realizada nesta segunda em Belovejskaia Puscha, na Belarus. O encontro, no entanto, não teve desdobramentos significativos. A delegação ucraniana descreveu que apenas pequenos avanços na coordenação para a criação de corredores humanitários foram feitos, mas sem medidas concretas.

Já a delegação russa disse que uma quarta rodada de negociações deve ocorrer "muito em breve", mas sem revelar a data acordada.

Depois das negativas ucranianas e do encontro na Belarus, Moscou voltou a dizer que estabeleceria corredores humanitários em diversas cidades ucranianas na terça-feira (8). As rotas não foram detalhadas e, por ora, Kiev não se manifestou.

Enquanto anuncia planos para a retirada de civis em Kiev, a Rússia "acumula recursos" para atacar a cidade, acusaram em nota nesta segunda as Forças Armadas da Ucrânia. "Além disso, o inimigo continua a operação ofensiva contra o país, focada nos arredores de Kiev, Kharkiv, Tchernigov, Sumi e Mikolaiv."

Na capital, soldados ucranianos foram vistos se preparando para um possível confronto contra os russos. Eles armaram explosivos no que dizem ser a última ponte intacta no caminho das forças de Putin.

"A capital está se preparando para se defender", disse o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko. "Kiev vai resistir!"

No sul, autoridades militares ucranianas disseram que a Rússia bombardeou a região de Tuzli, nas proximidades de Odessa, danificando "equipamentos de infraestrutura cruciais", mas sem deixar feridos.

A invasão de Odessa começou a se configurar neste domingo. Principal porto no sul ucraniano, a cidade está no alvo de forças de Putin a leste, e, caso seja dominada, fará com que Moscou estabeleça o controle sobre quase toda a costa do mar Negro, fechando o acesso ucraniano a ele.

De acordo com o Ministério da Defesa do Reino Unido, forças russas provavelmente estão mirando a infraestrutura de comunicação ucraniana para reduzir o acesso a fontes de notícias confiáveis. "O acesso à internet provavelmente também será interrompido", disse em comunicado.

Em Kharkiv, bombas de Moscou atingiram uma universidade e um prédio residencial. Outras áreas atingidas foram a cidade de Tchernihiv, ao norte, Mikolaiv, ao sul, de acordo com o conselheiro da Presidência ucraniana Oleksi Arestovitch. Tchernihiv foi bombardeada em todas as suas regiões.

Arestovitch classificou de "catastrófica" a situação dos subúrbios de Kiev, como ​Butcha, Irpin e Hostomel. Nesta última, o prefeito Iuri Illich Prilipko foi morto durante um ataque russo enquanto, de acordo com a gestão municipal, distribuía pão e remédios a doentes.

Em Lugansk, sob o controle de separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, uma forte explosão provocou um incêndio em um depósito de petróleo, segundo a agência de notícias russa Interfax.

O Acnur, a agência da ONU para refugiados, divulgou nesta segunda que o número de pessoas fugindo do conflito na Ucrânia ultrapassou a marca de 1,7 milhão, configurando assim a crise de refugiados que mais cresce desde a Segunda Guerra Mundial.

Nesta segunda, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, anunciou que a Cruz Vermelha da China fornecerá ajuda humanitária à Ucrânia e reiterou pedido para que as negociações continuem. Ele disse também que a amizade do país com a Rússia é "sólida como uma rocha" e que a cooperação mútua traz "benefícios e bem-estar para os dois povos".

Com Reuters e AFP

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