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Castillo vai ao Congresso do Peru e faz defesa enfática contra acusações de corrupção

Legislativo analisa moção de vacância contra presidente, que faz defesa mais forte de sua tumultuada gestão

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Lima | Reuters

O presidente do Peru, Pedro Castillo, foi ao Congresso nesta terça-feira (15) e fez um discurso de uma hora para se defender das acusações de corrupção que envolvem sua administração. Ele ainda reconheceu que todos os setores de seu governo passam por uma crise.

O discurso foi feito um dia depois de os parlamentares autorizarem a abertura de um processo para analisar um novo pedido de destituição do esquerdista. "O Peru está passando por uma crise institucional sem precedentes", afirmou Castillo, no pronunciamento de defesa mais assertivo que fez até aqui. "Nós vamos enviar ao Congresso uma série de reformas que nos permitirá superar essa crise estrutural."

O presidente do Peru, Pedro Castillo, antes de discursar no Congresso
O presidente do Peru, Pedro Castillo, antes de discursar no Congresso - Mariana Bazo/Xinhua

Desde que assumiu, há cerca de sete meses, Castillo já teve que nomear quatro gabinetes ministeriais e enfrentou uma série de outros desgastes. ​

Eleito em julho de 2020, ele viu sua aprovação cair rapidamente —em fevereiro, 70% rejeitavam seu governo, de acordo com pesquisa do instituto Ipsos. O mesmo levantamento mostrou que 57% dizem querer que o presidente deixe o cargo e 52% afirmam acreditar que ele está envolvido em corrupção.

"Eu entendo o poder do Congresso de exercer a fiscalização e o controle político, mas esses mecanismos não podem ser executados mediante abuso de direito, degradação da Constituição e ignorando a vontade popular expressa nas urnas", afirmou ele nesta terça.

O presidente falou em erros cometidos, ainda que não tenha nomeado nenhum. Em dezembro, outra moção de vacância contra o esquerdista, então por falta de "capacidade moral" para o cargo, acabou rejeitada pelos parlamentares.

Agora, a nova moção, que alega casos de corrupção no governo, será debatida pela Casa no próximo dia 28. Serão necessários 87 dos 130 votos para aprovar a vacância.

Em um cenário no qual o pedido venha a ser acolhido pelo Legislativo, a Presidência seria assumida pela vice de Castillo, Dina Boluarte. Analistas, porém, veem como pouco provável que a oposição de direita, ainda que tenha maioria no Congresso, consiga angariar o apoio necessário para validar o afastamento.

Pedidos semelhantes levaram à queda dos presidentes Pedro Pablo Kuczynski, em 2018, e Martín Vizcarra, em 2020.

Horas mais tarde, o primeiro-ministro Anibal Torres disse a jornalistas que sugeriu a Castillo que ele propusesse a antecipação das eleições para 2023. O presidente, segundo ele, recusou, alegando que buscaria "uma última tentativa" de acerto com o Legislativo.

Professor rural, Castillo levou para a Casa de Pizarro, sede do Executivo peruano, uma mistura de populismo de esquerda na economia com pautas conservadoras nos costumes. O peruano é, por exemplo, contra o casamento gay, o aborto e o que chama de "ideologia de gênero".

Frente a grande instabilidade política desde que assumiu, o presidente já enfrentou pedidos de impugnação do pleito, a renúncia do chefe das Forças Armadas e demissões de auxiliares —por declarações polêmicas, denúncias de irregularidades e pela realização de uma festa em meio a restrições para conter a Covid.

Um dos pontos recentes mais polêmicos e que deu combustível ao pedido dos congressistas foi o anúncio sobre um possível referendo nacional para conceder à vizinha Bolívia uma saída para o oceano Pacífico por meio do território peruano, demanda antiga do governo boliviano, mas engavetada há anos.

O Ministério das Relações Exteriores do Peru, posteriormente, desmentiu a afirmação do presidente. Qualquer alteração territorial teria de receber aval do Congresso. Ainda assim, legisladores têm acusado Castillo de trair a pátria por apoiar referendo do tipo.

Mesmo antes do atual governo o Peru já vinha sofrendo com um longo período de forte instabilidade política. Foram cinco presidentes diferentes desde 2018 e diversas tentativas de impeachment ou outras formas de destituição de governos no período.

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