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Artigo acusa opositora de Boris de tática à la Sharon Stone e provoca reação contra sexismo

Relato anônimo em tabloide diz que parlamentar cruza e descruza as pernas para distrair premiê

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Belo Horizonte

"Tudo vale no amor, na guerra e no duelo da Casa dos Comuns [Câmara baixa do Reino Unido] contra Boris Johnson, se as alegações dos conservadores forem verdadeiras."

Foi com essas palavras que o tabloide britânico The Mail on Sunday iniciou um artigo, publicado no sábado (23), sobre acusações anônimas de que uma das maiores opositoras do primeiro-ministro estaria cruzando e descruzando as pernas, durante os discursos do adversário, para supostamente distraí-lo.

Vice-líder do Partido Trabalhista britânico, Angela Rayner, discursa na Câmara dos Comuns, em Londres
Vice-líder do Partido Trabalhista britânico, Angela Rayner, discursa na Câmara dos Comuns, em Londres - Reprodução - 11.jan.22 / AFP

Segundo um parlamentar conservador –do mesmo partido de Boris–, que não teve o nome divulgado pelo tabloide, a trabalhista Angela Rayner se comportou como a personagem interpretada pela atriz Sharon Stone no filme "Instinto Selvagem", de 1992. A produção conta a história de uma escritora que, ao mesmo tempo, é suspeita de um assassinato e tenta seduzir o investigador do caso.

Em uma das cenas, a personagem, que não está usando calcinha, cruza e descruza as pernas para confundir os detetives durante um interrogatório sobre o crime.

A comparação, claro, gerou revolta. Nesta segunda (24), o órgão regulador de imprensa do país disse ter recebido 5.500 reclamações sobre o artigo, acusando-o de sexista e misógino. A Organização Independente de Padrões de Imprensa, como é chamada a pasta, afirmou ainda que investiga possíveis violações do Código de Conduta dos Editores por parte da chefia do jornal.

O presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, disse que se reuniria com o editor do tabloide para discutir o artigo. "Expresso a minha simpatia a Angela Rayner. [O artigo] é humilhante e ofensivo para as mulheres no Parlamento e apenas desencoraja mulheres que possam estar considerando concorrer às eleições, em detrimento de todos nós", disse.

Horas após a publicação, a parlamentar publicou em sua conta no Twitter uma série de comentários sobre o texto. Chamando o artigo de "jornalismo de sarjeta", ela atribuiu o caso ao sexismo e misoginia que, segundo Rayner, mulheres sofrem no Parlamento britânico. "Comigo não é diferente", disse.

"Os líderes de torcida de Boris Johnson recorreram a espalhar difamações desesperadas e pervertidas em suas tentativas condenadas de salvar sua pele. Eles sabem exatamente o que estão fazendo e as mentiras que estão contando", acrescentou.

O premiê, por sua vez, também comentou o caso e, nesta segunda, em frente às câmeras, disse que havia entrado imediatamente em contato com a parlamentar e repudiado o artigo. Boris ainda afirmou que o autor das declarações sofrerá as consequências, caso seja descoberto.

No domingo, ele já havia publicado em sua conta no Twitter que, "por mais que discorde de Angela Rayner em quase todas as questões políticas, eu a respeito como parlamentar e deploro a misoginia dirigida a ela anonimamente". A parlamentar respondeu ao premiê com um "obrigado".

São comuns os debates acalorados entre Boris e Rayner durante as discussões no Parlamento. Ela é vice-líder do Partido Trabalhista, principal opositor do atual governo, e, na ausência do líder da legenda, Keir Starmer, ela é a responsável por assumir a cadeira principal da oposição ao premiê.

O artigo não cita um episódio específico em que Rayner tenha tentado "distrair" o premiê, mas os últimos meses foram marcados por momentos espinhosos de Boris no Parlamento. Na última terça-feira (19), ele se desculpou pelas festas que sua equipe realizou em seu gabinete, enquanto seu próprio governo havia estipulado restrições para conter o avanço da pandemia de Covid-19, em 2020 e 2021. O novo pedido de desculpas veio após ele ser multado pela polícia de Londres.

A mais recente desavença entre Boris e Rayner também ocorreu na semana passada. Na quinta (21), enquanto o Parlamento votava se o premiê deveria ser alvo de investigação por ter eventualmente mentido à Câmara, Rayner o acusou de ter "zombado do sacrifício" dos britânicos durante a pandemia.

"Como profissional de saúde, conheço os sacrifícios que eles fizeram na pandemia na linha de frente, colocando-se em risco para cuidar dos outros. O mínimo que merecem é que o primeiro-ministro seja responsabilizado pela sua própria conduta", disse.

Antes de se tornar política, Rayner trabalhava como cuidadora. Ela entrou para o sindicato e iniciou sua carreira pública. O tabloide britânico, porém, preferiu tratar a parlamentar como "uma avó socialista que deixou a escola aos 16 anos, quando estava grávida, antes de se tornar uma cuidadora".

Os atributos, segundo o parlamentar ouvido pela publicação, destoam dos do premiê, visto como membro da elite britânica. "Ela sabe que não pode competir com o treinamento de debate da Oxford Union de Boris, mas ela tem outras habilidades que ele não tem", disse o conservador, em relação à suposta tentativa de Rayner de seduzir o adversário político.

Posteriormente à repercussão negativa do caso, o jornal The Sunday Times informou que três ministros do governo e dois parlamentares da oposição enfrentam acusações de má conduta sexual. Eles estão entre os 56 casos encaminhados ao órgão responsável por receber esse tipo de denúncia em relação a membros do Parlamento.

Com AFP

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