Boris Johnson, sua esposa e secretário de Finanças são multados por festas no lockdown

Premiê britânico recebe punição por celebrações na sede do governo, volta a pedir desculpas e nega renúncia

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Londres | AFP e Reuters

O premiê britânico, Boris Johnson, sua esposa, Carrie, e seu secretário de Finanças, Rishi Sunak, foram multados nesta terça-feira (12) devido à realização de festas durante o período de lockdown em Downing Street, sede do governo.

"O primeiro-ministro e o secretário de Finanças receberam a notificação de que a Polícia Metropolitana tem a intenção de multá-los", disse uma porta-voz. Pouco depois, a representante ​de Carrie Johnson também foi notificada sobre a punição.

Horas depois, o gabinete informou que a punição se deveu à festa organizada pela mulher de Boris para celebrar o aniversário do político, em 19 de junho de 2020 —o evento, segundo o governo, durou menos de dez minutos. Não foram detalhadas outras acusações que pesam contra o premiê e Sunak.

O premiê Boris Johnson, à esq., e o secretário de Finanças do Reino Unido, Rishi Sunak, durante evento em Maidstone
O premiê Boris Johnson, à esq., e o secretário de Finanças do Reino Unido, Rishi Sunak, durante evento em Maidstone - Gareth Fuller - 7.fev.22/AFP

Segundo o jornal britânico The Guardian, o valor provável das multas aplicadas pode variar entre 20 e 50 libras (de R$ 120 a R$ 302). As punições integram as 50 já aplicadas pela polícia de Londres relacionadas às festas realizadas no gabinete e na residência de Boris —na primeira leva, o gabinete disse que Boris não estava entre os multados.

Nesta terça, o premiê afirmou que acatava a decisão. "Paguei a multa e peço desculpas", disse ele, destacando que "compreende a raiva" dos britânicos. "Com toda a franqueza, àquela altura não me ocorreu que pudesse ter violado as regras. Aceito com toda a sinceridade que as pessoas têm o direito de esperar algo melhor."

Ele negou, porém, que planeje renunciar. "Quero seguir em frente e cumprir o mandato de lidar com os problemas que o país enfrenta."

Depois de Boris, Sunak também afirmou que respeita a decisão da polícia e que pagou sua multa. "Lamento profundamente a frustração e a raiva causadas e peço desculpas."

A Scotland Yard investiga ao menos 12 festas realizadas em Downing Street, depois de um inquérito interno descobrir que a equipe do premiê fez reuniões, inclusive com bebidas alcoólicas, em períodos nos quais restrições por causa da pandemia proibiam a realização desse tipo de evento —o líder britânico participou de alguns desses encontros. Os primeiros casos foram revelados pela imprensa local no final de 2021.

Na época das primeiras revelações, o premiê disse que todas as regras foram seguidas. Depois, pediu desculpas ao Parlamento por participar de um dos encontros, afirmando que acreditava se tratar de um evento de trabalho. Com o agravamento da crise, ele também se desculpou com a rainha Elizabeth 2ª, devido a uma das festas de sua equipe, realizada na véspera do funeral do marido dela, o príncipe Philip.

O escândalo chegou a ameaçar a manutenção de Boris no cargo no início deste ano, quando membros de seu próprio partido pediram que ele renunciasse e a confiança pública em sua liderança despencou —a Guerra da Ucrânia depois monopolizou as atenções e, em parte, aliviou a pressão sobre o caso.

Com a revelação das multas nesta terça, porém, as críticas voltaram a um tom mais alto.

O líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, afirmou que essa foi a primeira vez que um líder britânico foi apanhado infringindo a lei estando no cargo e pediu a demissão dos políticos. "Boris Johnson e Rishi Sunak infringiram a lei e mentiram repetidamente para os cidadãos britânicos. Ambos devem renunciar. Os conservadores são totalmente incapazes de governar", escreveu em uma rede social.

O centro de pesquisas YouGov divulgou um levantamento que apontou que 57% dos ingleses são a favor da renúncia do premiê e que 75% acreditam que ele mentiu no episódio do "partygate".

Alguns dos membros do partido de Boris já haviam advertido previamente que não aceitariam que o premiê permanecesse no cargo se ele fosse considerado culpado por violar a lei. O anúncio das multas, então, trouxe de volta ao debate a possibilidade de os conservadores apresentarem uma moção de desconfiança. O mecanismo previsto no sistema parlamentar seria o primeiro passo para tirar Boris do cargo.

Para isso, seria necessário que ao menos 54 dos 360 parlamentares da legenda enviem o pedido a um órgão do partido chamado Comitê de 1922.

O número dos que já enviaram essa carta é conhecido apenas pelo presidente do comitê. Segundo o Guardian, a cifra chegou a girar em torno de 30, mas parte dos conservadores teria retirado o pedido com base no entendimento de que, em um cenário de guerra na Europa, não seria a hora de trocar a liderança do país.

O discurso foi ecoado nesta terça por alguns deputados, como Douglas Ross, líder do Partido Conservador Escocês. "No meio de uma situação na Europa em que Vladimir Putin está cometendo crimes de guerra e o Reino Unido se mostra o maior aliado da Ucrânia, como o presidente [Volodimir] Zelenski disse no fim de semana, não seria certo remover o primeiro-ministro agora."

Outro fator que complica essa equação é o fato de não haver nomes fortes à disposição para substituir o político —um dos ventilados em janeiro, por exemplo, era justamente Sunak, agora atingido pelo mesmo desgaste.

No final de janeiro, o relatório da investigação interna que apurou os eventos irregulares realizados em Downing Street concluiu, sem mencionar Boris diretamente, que houve "falhas de liderança e de julgamento" por diferentes membros do governo.

O documento também descreveu o comportamento acerca das reuniões como "difíceis de justificar", criticou os erros dos que estão "no coração do governo" e recomendou políticas de proibição de consumo de bebidas alcoólicas em locais de serviço público, além da criação de canais de denúncia para servidores que testemunharem irregularidades.

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