Eleições na Hungria não foram disputa equilibrada, dizem observadores internacionais

Baixa transparência nas finanças de campanha e pouca independência da mídia atrapalharam pleito, mostra relatório

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Guarulhos

As eleições na Hungria, que alçaram no domingo (3) o premiê Viktor Orbán ao quarto mandato seguido, respeitaram procedimentos eleitorais práticos, mas não foram uma disputa equilibrada, disse a missão especial da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) que monitorou in loco o pleito.

Os observadores, em relatório publicado nesta segunda-feira (4), listam três elementos-chave que tornaram a balança eleitoral desequilibrada: não houve transparência nas finanças de campanha; a maior parte dos veículos de comunicação não fez uma cobertura independente; e as regras eleitorais, reformadas por Orbán, levaram o partido governista, o Fidesz, a se mesclar com o Estado húngaro.

O premiê da Hungria, Viktor Orbán, após realizar discurso em Budapeste; no slogan, lê-se 'vamos adiante, jamais para trás'
O premiê da Hungria, Viktor Orbán, após realizar discurso em Budapeste; no slogan, lê-se 'vamos adiante, jamais para trás' - Bernadett Szabo - 12.fev.22/Reuters

"A campanha foi marcada pela ausência de um campo de jogo nivelado e caracterizada pela sobreposição da campanha da aliança governista com campanhas oficiais do governo, o que deu vantagem à coalizão governante e borrou a linha que separa o Estado do partido", diz um trecho do documento de 23 páginas.

O Fidesz, partido que Orbán fundou, conquistou 53,1% dos votos válidos, levando 135 cadeiras do Parlamento —e, assim, a maioria. Já a aliança opositora Unidos pela Hungria ficou com 35% dos votos, totalizando 56 cadeiras. A participação eleitoral foi de 69,5%.

Sobre as finanças eleitorais, os observadores disseram não ter havido requisitos para a divulgação das doações de campanha, o que levou a gastos excessivos por meio de terceiros e, em grande parte, favoreceu o partido no poder. Em relação à imprensa, apontaram que campanhas publicitárias governamentais extensas e cobertura tendenciosa favoreceram a divulgação da agenda do Fidesz.

Para os outros partidos que concorriam, as oportunidades de campanha foram limitadas pela proibição nacional de contratar propaganda e pelo escasso tempo destinado pelos canais para esses candidatos.

"Isso limitou significativamente a chance dos eleitores de fazer uma escolha estando bem informados", diz o relatório. A confirmação não chega a surpreender analistas, que já alertavam para os efeitos que o controle exercido pelo premiê na mídia pública e em boa parte da mídia privada teriam no pleito.

Mesmo na campanha nas ruas, livre no país, houve desequilíbrio, já que, de acordo com o relatório, foi observada disparidade significativa na alocação de espaço para outdoors e cartazes de campanha, favorecendo a coalizão governante em detrimento da oposição.

Houve espaço, ainda, para uma crítica à baixa participação política de mulheres nas eleições. Elas foram sub-representadas tanto nas agendas de campanha como enquanto candidatas, dizem os observadores. De mais de 660 candidatos registrados nas comissões eleitorais do país, menos de 20% eram mulheres.

Conservador e de ultradireita, Orbán fez e faz campanhas contra o que chama de "ideologia de gênero" e contra os direitos da população LGBTQIA+. Ao longo dos últimos 12 anos de governo, ele redefiniu o casamento como a união entre um homem e uma mulher e limitou a adoção por casais formados por dois homens ou duas mulheres e os direitos civis dos transgêneros.

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