Harvard cria fundo de US$ 100 mi para políticas de reparação da escravidão

Relatório aponta que universidade se beneficiou da prática mesmo depois de ela ser proibida no estado de Massachusetts

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Reuters

A Universidade Harvard criará um fundo de US$ 100 milhões (R$ 498 milhões) para investir em políticas de reparação do racismo que a própria instituição ajudou a perpetuar. O anúncio foi feito pelo presidente da entidade, Lawrence Bacow, nesta terça-feira (26), em email a todos os alunos.

A mensagem acompanhava relatório produzido por um comitê criado para apurar o legado da escravidão na universidade. Segundo o documento, houve trabalho escravo no campus da instituição, que também se beneficiou do comércio de escravos e de negócios ligados à exploração de pessoas negras mesmo depois de a prática ser proibida no estado de Massachusetts, em 1783 —147 anos após a fundação de Harvard.

Estudantes na Universidade Harvard, em Cambridge, no estado de Massachusetts
Estudantes na Universidade Harvard, em Cambridge, no estado de Massachusetts - Brian Snyder - 10.mar.20/Reuters

O relatório ainda documenta a exclusão de estudantes negros e a defesa do racismo por acadêmicos da universidade. O grupo que apurou a história da escravidão em Harvard foi presidido por Tomiko Brown-Nagin, reitora do Instituto Radcliffe para Estudos Avançados e especialista em direito constitucional.

Embora a instituição tenha figuras notáveis ​​entre abolicionistas e no movimento dos direitos civis, a investigação aponta que "a instituição de ensino superior mais antiga do país ajudou a perpetuar a opressão e a exploração racial da época". Os autores do relatório recomendam oferecer aos descendentes de pessoas escravizadas em Harvard apoio educacional e outros tipos de auxílio, para que eles "possam recuperar suas histórias, contar suas histórias e buscar conhecimento empoderador".

O estudo também recomenda que a instituição financie programas para levar a Harvard alunos e professores de universidades historicamente mal financiadas e, no sentido oposto, estudantes e acadêmicos de Harvard para faculdades historicamente negras, como a Universidade Howard.

O fundo de US$ 100 milhões será usado para levar a cabo as recomendações do relatório, afirmou Bacow, e já foi autorizado pelo conselho de administração da universidade. "A escravidão e seu legado fazem parte da vida americana há mais de 400 anos", escreveu ele. "O trabalho de corrigir ainda mais seus efeitos persistentes exigirá nossos esforços constantes e ambiciosos nos próximos anos."

"É um passo na direção certa", disse Dennis Lloyd, 74, que tem entre seus antepassados Cuba Vassall, mulher escravizada pelos Royall —a Faculdade de Direito de Harvard foi fundada em 1817 por Isaac Royall Jr., cuja família fez fortuna com comércio de escravos e plantação de açúcar em Antígua, no Caribe.

"Fico feliz em ver que Harvard reconheceu sua conexão com a escravidão, feliz em ver que estão expandindo os recursos financeiros e educacionais para estudantes que normalmente não teriam acesso às escolas da Ivy League [elite universitária dos EUA]", acrescentou ele.

Outros centros de ensino superior do país criaram fundos nos últimos anos para lidar com os legados da escravidão. Uma lei promulgada no estado da Virgínia, no ano passado, exige que cinco universidades públicas estaduais criem bolsas para descendentes de pessoas escravizadas pelas instituições.

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