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Lockdown em Xangai separa crianças de pais e põe militares para testar população

Moradores reclamam de condições ruins de quarentena e pressionam autoridades

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São Paulo

O combate ao surto de Covid-19 na China tem provocado cenas inusitadas e revolta de parte da população em Xangai, maior cidade do país, com regras estritas para controlar a disseminação do vírus.

O governo central em Pequim tem pedido que as administrações locais de grandes centros econômicos evitem o lockdown completo para diminuir os impactos na economia, o que foi feito ao longo das últimas semanas em Xangai. Com o avanço do vírus, porém, quase todos os moradores já estão isolados.

Moradores de Xangai passam por testes de Covid-19 em meio a surto da doença - Ding Ting/Xinhua

A medida mais polêmica adotada pelo governo até aqui tem sido separar crianças infectadas de suas famílias e levá-las para centros de quarentena. Na China, qualquer pessoa que contrai Covid, mesmo que esteja assintomática ou tenha sintomas leves, precisa ficar isolada. Autoridades de Xangai afirmaram nesta segunda-feira (4) que a medida também se aplica aos menores de idade, inclusive bebês.

"Se a criança tem menos de sete anos, receberá tratamento num centro público de saúde", afirmou Wu Qianyu, diretora do serviço de saúde municipal. Crianças maiores e adolescentes vão a um local separado e, se um dos pais estiver infectado, a família pode se isolar junta num local específico, disse a autoridade.

Nas redes sociais, famílias têm expressado indignação com a medida. "Os pais agora precisam 'cumprir condições' [se infectar] para acompanhar os filhos? É um absurdo, é um direito fundamental", escreveu um morador da cidade na rede social Weibo. Uma série de vídeos, cuja autenticidade não pôde ser verificada de forma independente, circula na internet mostrando crianças pequenas e bebês sem acompanhantes em centros de saúde.

O descontentamento cresce diante da dificuldade de frear o aumento de contágios. O Ministério da Saúde anunciou nesta segunda o registro de 9.006 novos casos em 24h na cidade, 95% deles assintomáticos.

A alta proporção de casos assintomáticos se dá pela gigantesca taxa de testes realizados na China, algo que deve aumentar, já que o governo enviou milhares de militares e de trabalhadores da área da saúde de outras regiões para submeter os 26 milhões de moradores de Xangai a exames de detecção.

O Exército de Libertação Popular, nome das Forças Armadas do país, despachou mais de 2.000 médicos de seus quadros para a cidade. Além disso, outros 38 mil médicos civis e enfermeiros de diferentes províncias também foram enviados por Pequim, de acordo com a imprensa local.

A cidade também converteu hospitais, ginásios e condomínios em centros de quarentena, inclusive o Novo Centro Internacional de Exposições de Xangai, com capacidade para até 15 mil pessoas. Quem recusar o teste sem justificativa pode receber punições administrativas e criminais, segundo a polícia.

Moradores também têm reclamado de centros de quarentena lotados e insalubres e de dificuldades de conseguir comida e assistência médica. Um chinês que pediu para não ser identificado disse à agência de notícias Reuters ter sido levado a um centro de quarentena na noite de domingo (3), após relatar um resultado positivo num teste caseiro há mais de uma semana.

Mas outro teste de antígeno feito no sábado (2) mostrou que ele não estava mais infectado. Mesmo assim, as autoridades insistiram em mandá-lo para quarentena, durante a qual foi colocado num apartamento com um banheiro compartilhado com outras duas pessoas contaminadas.

A pressão sobre os profissionais de saúde e os membros do Partido Comunista tem sido grande. Fotos e vídeos viralizaram nas redes sociais chinesas mostrando trabalhadores exaustos dormindo em cadeiras de plástico ou em gramados ao lado de fora de condomínios —e até sendo repreendidos pelos moradores.

No sábado, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças na zona de Pudong disse estar investigando o vazamento da gravação de um telefonema em que uma especialista do órgão questiona as regras de quarentena e afirma que o combate ao vírus se tornou uma questão política. Ela foi identificada pela imprensa local como Zhu Weiping, especialista em doenças infecciosas. No Weibo, chineses iniciaram a campanha "proteja Zhu Weiping", que nesta segunda-feira tinha 2,9 milhões de compartilhamentos.

No sábado, o vice-primeiro-ministro Sun Chunlan, enviado a Xangai pelo governo central, afirmou que a cidade precisa "tomar medidas resolutas e rápidas" para conter a pandemia. Neste fim de semana, uma nova subvariante da ômicron foi detectada na cidade de Suzhou, na divisa com Xangai.

De acordo com a imprensa estatal chinesa, a cepa não corresponde a outros registros em bancos de dados do coronavírus.

Com Reuters e AFP

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