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Premiê do Paquistão dissolve Parlamento e convoca eleições para evitar perder o cargo

Moção de desconfiança marcada para este domingo deveria retirar Imran Khan do poder

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Islamabad (Paquistão) | Reuters

A crise política no Paquistão se aprofundou neste domingo (3), após o primeiro-ministro, Imran Khan, dissolver o Parlamento e convocar novas eleições para evitar uma moção de desconfiança que deveria tirá-lo do poder. A oposição chamou a manobra de traição.

A dissolução foi aprovada pelo presidente do país, Arif Alvi, do mesmo partido de Khan. Na prática, Khan empurrou o problema para frente, mas abriu margem para uma batalha jurídica, aumentando a incerteza sobre o futuro da nação de 220 milhões de habitantes.

"Convocaremos o povo, organizaremos eleições e deixaremos a nação decidir", disse o primeiro-ministro em discurso transmitido pela televisão, dando ares de democracia ao que opositores apontam como uma espécie de golpe de Estado.

Forças de segurança patrulham Parlamento do Paquistão; ao fundo, cartaz com o rosto do primeiro-ministro, que convocou novas eleições - Aamir Qureshi/AFP

O governo afirma que novas eleições serão realizadas em 90 dias, embora a definição da data caiba ao presidente e à comissão eleitoral. O gabinete também foi dissolvido, mas Khan permanecerá como primeiro-ministro, disse o ministro da Informação, Fawad Chaudhry, pelo Twitter.

O gesto foi recebido com indignação. O vice-procurador-geral Raja Khalid, um dos principais promotores do país, renunciou ao cargo, chamando a dissolução do Parlamento de inconstitucional. "O que aconteceu só pode ser esperado no governo de um ditador", disse à mídia local.

O líder da oposição, Shehbaz Sharif, favorito para substituir Khan em caso de remoção do cargo, afirmou que a dissolução é "nada menos do que alta traição". "Haverá consequências para violações flagrantes e descaradas da Constituição", escreveu Sharif no Twitter, dizendo esperar que a Suprema Corte interfira no processo.

A oposição culpa Khan pela crise econômica pela qual o país passa e por não tomar atitudes suficientes para combater a corrupção. Neste domingo, o premiê disse ter apresentado ao Comitê de Segurança Nacional evidências de que o movimento para retirá-lo do cargo foi orquestrado pelos Estados Unidos porque seu governo se recusa a se alinhar às posições americanas contrárias à China.

"Quando o mais alto órgão de segurança nacional do país confirma [a evidência], os procedimentos são irrelevantes, os números são irrelevantes", disse Khan.

Washington nega a acusação. "Não há verdade nessas alegações", disse um porta-voz do Departamento de Estado americano, acrescentando que os EUA "respeitam e apoiam o processo constitucional do Paquistão e o Estado de Direito".

O primeiro-ministro perdeu a maioria no Parlamento depois que aliados abandonaram seu governo de coalizão nas últimas semanas e sofreu uma série de deserções dentro do próprio partido, o Tehreek-e-Insaf. Sem o apoio, havia poucas chances de conseguir os 172 votos necessários para sobreviver à moção de desconfiança marcada para este domingo.

Khan, 69, famoso jogador de críquete que se notabilizou por comandar a equipe campeã mundial nos anos 1990, chegou ao poder em 2018 com apoio dos militares, que agora tentam se dissociar de sua imagem. "O Exército não tem nada a ver com o processo político", disse o major-general Babar Iftikhar à agência Reuters em resposta a uma pergunta sobre o envolvimento das Forças Armadas nos acontecimentos deste domingo.

Nenhum primeiro-ministro terminou um mandato completo de cinco anos desde a independência do Paquistão da Grã-Bretanha em 1947. O país, que tem armas nucleares, já presenciou quatro golpes militares bem-sucedidos e passou mais de três décadas governado pelos militares.

Nas ruas da capital, Islamabad, havia forte presença policial e paramilitar neste domingo, e contêineres foram usados ​​para bloquear estradas que levam à Assembleia Nacional. A polícia foi vista detendo três pessoas, mas não houve sinal de tumulto.

O Paquistão enfrenta inflação alta, redução das reservas estrangeiras e aumento dos déficits crescentes, em meio a dívidas com o Fundo Monetário Internacional. Além da crise econômica, o país enfrenta uma série de desafios diplomáticos, como a relação com o vizinho Afeganistão, controlado pelo Talibã.

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