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Carrie Lam, líder de Hong Kong durante protestos de 2019, anuncia que não disputará reeleição

Gestão foi marcada por lealdade a Pequim, repressão a atos e isolamento na pandemia

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Hong Kong | AFP e Reuters

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou nesta segunda (4) que não disputará o segundo mandato nas eleições indiretas marcadas para maio, após uma gestão marcada por repressão a protestos pró-democracia e restrições severas contra a Covid que isolaram o centro financeiro asiático.

Com o anúncio, Lam, 64, acabou com meses de especulações em torno da possibilidade de se manter no cargo. "Vou completar meu período de cinco anos como chefe do Executivo em 30 de junho e oficialmente terminará minha carreira de 42 anos no governo", afirmou ela a jornalistas.

Carrie Lam, chefe do Executivo de Hong Kong, após anúncio de que não disputará reeleição - Vincent Yu/Reuters

Ela disse que as autoridades chinesas "entendem e respeitam" sua decisão e que já havia informado Pequim em março do ano passado. Lam atribuiu a decisão a razões familiares. "Tenho que colocar os integrantes da minha família em primeiro lugar. E eles sentem que é o momento de voltar para casa."

Nascida em 1957, no período de dominação britânica de Hong Kong, Lam é funcionária pública de carreira e se descreve como católica devota. Primeira mulher a governar Hong Kong, ela assumiu o cargo em 2017, com uma expectativa de união em uma cidade que se ressentia cada vez mais da autoridade de Pequim.

Dois anos depois, honcongueses tomaram as ruas da cidade em protestos contra o governo, alguns deles com atos de violência. No auge dos protestos, chegou a dizer que renunciaria se tivesse escolha.

Em conversa com executivos de Hong Kong, afirmou, segundo gravação obtida por jornalistas, que o governante da cidade "tem que servir dois mestres pela Constituição, o governo central e o povo de Hong Kong", e que "o espaço político para manobra é muito, muito, muito limitado".

Os atos levaram Pequim, no ano seguinte, a impor uma lei de segurança nacional que aumentou ainda mais o controle do Partido Comunista sobre a cidade. A China e o governo local negam que liberdades individuais tenham sido suprimidas e afirmam que a lei foi importante para restaurar a estabilidade necessária para recuperar a economia da região, um dos maiores polos financeiros do mundo.

Outro ponto de inflexão na gestão de Lam, a primeira líder de Hong Kong alvo de sanções dos EUA, por seu apoio à repressão, foi a aplicação da estratégia Covid zero, com a imposição de algumas das medidas mais restritivas do mundo para conter a propagação do coronavírus. Assim, a cidade permaneceu praticamente isolada do mundo por 18 meses, com as fronteiras quase fechadas e quarentenas rígidas.

Mas a estratégia naufragou com a chegada da variante ômicron, que se propagou com velocidade e levou Hong Kong a registrar uma das maiores taxas de mortalidade entre as nações desenvolvidas.

Nos últimos dois anos, houve uma saída constante de moradores para outros países, a uma velocidade que não era registrada desde a transferência do Reino Unido para a China. Milhares de estrangeiros expatriados também deixaram o território, especialmente no primeiro trimestre, quando o surto da ômicron deixou claro que a ilha permaneceria isolada.

As eleições estavam previstas para ocorrer em março, mas foram adiadas para 8 de maio devido ao surto de Covid. Leal a Pequim, o comitê que elege o próximo líder da cidade tem 1.500 membros, colégio eleitoral equivalente a apenas 0,02% da população do território, que tem 7,4 milhões de habitantes.

Até o momento nenhum nome com perspectivas reais de vitória apresentou a candidatura para o pleito do mês que vem. O atual número dois do governo local, John Lee, 64, que tem experiência em questões de segurança, é apontado pela imprensa como um possível candidato. Ele também é alvo de sanções dos Estados Unidos e foi promovido em 2021, num movimento que chegou a ser visto como uma aposta de Pequim mais em questões de segurança do que na economia da cidade.

Outros dois nomes nas bolsas de apostas são o do secretário de Finanças, Paul Chan, e o de Leung Chun-ying, que foi chefe do Executivo entre 2012 e 2017, antes de Lam. Ela afirmou que não recebeu até o momento nenhum pedido de renúncia de seus secretários, um passo que integrantes do gabinete devem tomar se pretendem disputar o cargo de chefe do Executivo.

O sucessor deve assumir em 1º de julho, data que marca o aniversário de 25 anos da devolução de Hong Kong do Reino Unido para a China. Um dos acordos que possibilitaram a entrega do território de volta ao controle de Pequim, em 1997, era o de que o Partido Comunista garantiria uma série de liberdades pelos 50 anos seguintes, o que críticos afirmam que não tem sido respeitado.

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